Pedro Tadeu | TSF | opinião
Os Estados Unidos tiveram motins
por motivos raciais em 1965, na cidade de Los Angeles, por causa da prisão,
numa operação stop, do jovem negro Marquette Frye. Ao fim de seis dias
contaram-se 34 mortos e quatro mil presos.
Os Estados Unidos tiveram motins
por motivos raciais em 1967 em Newark, quando dois polícias brancos e um
taxista negro se envolveram em confrontos. Ao fim de cinco dias contaram-se 26
mortos e 1500 feridos.
Os Estados Unidos voltaram a ter
motins por motivos raciais nesse mesmo ano de 1967. Foi na cidade de Detroit,
após uma rusga policial em bairros de negros. Quatro dias de confrontos somaram
43 mortos e dois mil feridos.
Em 1968, após o assassinato do
pastor e pacifista Martin Luther King Jr., líder da luta pelos direitos civis
dos negros, a violência irrompeu em 125 cidades dos Estados Unidos.
Contaram-se, pelo menos, 46 mortos e 2600 feridos.
Quatro polícias brancos
espancaram até à morte um motociclista negro que passou um sinal vermelho numa
zona de Miami. Daí resultaram os motins de 1980, que duraram três dias e
deixaram 18 mortos e 400 feridos.
Sem solução para o problema dos
conflitos raciais, os Estados Unidos voltaram a ter motins nos seis dias
seguintes ao 29 de abril de 1992, quando um tribunal absolveu quatro policias,
filmados a espancar um operário negro, Rodney King, em 3 de março de 1991. A violência atingiu
Los Angeles, São Francisco, Las Vegas, Atlanta e Nova Iorque. Houve 59 mortos e
2.328 feridos.
A corrosão não parou e os Estados
Unidos voltaram a ter motins por motivos raciais em abril de 2001, quando um
jovem negro de 19 anos, Timothy Thomas, foi morto em Cincinnati por um polícia
branco, durante uma perseguição. Os quatro dias de violência subsequentes causaram
70 pessoas feridas.
Rotineiramente, os Estados Unidos
voltaram a ter motins por motivos raciais após a morte, em 2014, de um jovem
negro de 18 anos, Michael Brown, baleado por um polícia branco em Ferguson, no
Missouri. Foram dez dias de confrontos em agosto, que se repetiram em novembro,
quando a acusação ao agente da autoridade foi retirada.
Como se nada tivesse mudado, os
Estados Unidos voltaram a ter motins por motivos raciais em 2015 , após a morte
de Freddie Gray, um jovem negro de 25 anos, filmado a ter uma discussão com um
policia, antes de ser hospitalizado com o pescoço partido.
Como era de esperar, rebentaram
manifestações violentas em Charlotte, Carolina do Norte, em setembro de 2016,
após a morte de Keith Lamont Scott, 43 anos. Segundo a versão policial, Scott
foi morto por um tiro por se recusar a soltar uma arma de fogo. Os membros de
sua família afirmaram que ele só tinha um livro nas mãos.
Já ninguém pode espantar-se por
há cinco dias os Estados Unidos da América terem voltado aos motins por motivos
raciais, na sequência da morte do negro George Floyd, de 46 anos, depois de ter
sido detido sob suspeita de ter tentado usar uma nota falsa de 20 dólares num
supermercado de Minneapolis. Floyd foi filmado, durante oito minutos, deitado
no chão com o joelho de um polícia em cima do pescoço. Floyd avisou que não
conseguia respirar. Morreu no hospital. Já há, na sequência dos confrontos em
múltiplas cidades, pelo menos, cinco mortos.
A violência racial nos Estados
Unidos é crónica, já não surpreende ninguém, tal como não surpreende que o país
tenha 2 milhões e 200 mil presos, tal como não surpreende que a taxa de negros
metidos nas cadeias seja seis vezes superior ao número de cidadãos brancos
presos.
Como há cerca de 11 milhões de
prisioneiros no mundo, os Estados Unidos, com o seu recorde de encarcerados,
contam 20% da população prisional de todo o planeta, quando só têm 4,3% da
população mundial.
Os Estados Unidos incorporaram no
seu modo de vida o crónico problema do racismo, da violência policial, da
violência das armas, dos motins raciais.
Por isso, será de esperar que os
Estados Unidos sobrevivam aos atuais motins raciais, tal como sobreviveram aos
10 motins que anteriormente recordei.
Bom, há uma particularidade nos
dias de hoje que torna a situação um pouco diferente: é que esta crise social
acontece ao mesmo tempo em que a COVID-19 mata mais de 104 mil
norte-americanos, o desemprego atinge o valor recorde de 40 milhões de pessoas,
a economia está em enormes dificuldades, o presidente Trump divide o país ao
meio... Parece o colapso de um império!
São muitos problemas graves, a
acontecerem todos ao mesmo tempo, e ninguém prevê que os próximos anos venham a
facilitar as coisas, nem aos Estados Unidos, nem ao resto do mundo, nem, por
consequência, a nós, aqui, em Portugal.
Estou, portanto, pessimista, e é
muito mau começar a semana assim...
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