Manlio
Dinucci*
O
exército italiano integra-se um pouco mais nas Forças dos EUA. Até agora, eles
participavam em operações concebidas pelos Estados Unidos, mas estavam sob o
comando de oficiais americanos da NATO. Agora, graças a uma manobra
inteligente, serão colocadas directamente sob as ordens do Pentágono.
Se
bem que muitas actividades bloqueadas pelo ‘lockdown’ lutem para recomeçar,
após o afrouxamento das restrições, há uma que, nunca tendo parado, está agora
a acelerar: a de Camp Darby, o maior arsenal USA no mundo, fora da pátria,
localizado entre Pisa e Livorno.
Depois
de cortar cerca de 1.000 árvores na área natural “protegida” do Parque Regional
de San Rossore, começou a construção de uma secção ferroviária que ligará a
linha Pisa-Livorno a um novo terminal de carga e descarga, atravessando o
Canale dei Navicelli sobre uma nova ponte metálica giratória. O terminal, com
cerca de vinte metros de altura, incluirá quatro trilhos capazes de acolher,
cada um deles, nove vagões.
Por
meio de carrinhos de movimentação de contentores, as armas recebidas serão transferidas
dos vagões para grandes camiões e as que saem dos camiões irão para os vagões.
O terminal permitirá o transporte diário de dois comboios ferroviários que,
transportando cargas explosivas, ligarão a base ao porto de Livorno através de
áreas densamente povoadas. Após o aumento de movimento de armas, já não é
suficiente a ligação por canal e por estrada de Camp Darby ao porto de Livorno
e ao aeroporto de Pisa. Nos 125 bunkers da base, fornecidos continuamente pelos
Estados Unidos, estão armazenados mais de um milhão de projecteis de
artilharia, bombas e mísseis (de acordo com estimativas aproximadas), aos quais
se juntam milhares de tanques, veículos e outros materiais militares.
Desde
2017, navios de grande porte recentes, capazes de transportar cada um deles,
mais de 6.000 veículos e cargas sobre rodas, fazem ligações mensais para
Livorno, descarregando e carregando armas que são transportadas para os portos
de Aqaba na Jordânia, Jeddah na Arábia Saudita e outros aeroportos do Médio
Oriente para serem usadas pelas forças americanas, sauditas e outras, nas
guerras na Síria, no Iraque e no Iémen.
No
momento em que está em curso a expansão de Camp Darby, o maior arsenal dos EUA
no exterior, o título de um jornal online da Toscana, "Era uma vez Camp
Darby", explicando que "a base foi redimensionada, devido aos cortes
na Defesa, decididos pelo governo USA" e o jornal Il Tirreno anuncia
"Camp Darby, ondula sob a bandeira italiana: a bandeira dos EUA foi
baixada após quase 70 anos". O Pentágono está a fechar a base, restituindo
à Itália, o território na qual ela foi criada? Absolutamente o contrário.
O
Exército dos EUA concedeu ao Ministério da Defesa italiano uma porção da base (34 hectares , cerca de
3% de toda a área de 1.000
ha ) anteriormente usada como área de lazer, para que
fosse transferido o Comando das Forças Especiais do exército italiano (COMFOSE),
inicialmente alojado no quartel Gamerra de Pisa, sede do Centro de Treino de
Paraquedismo [1].
A
transferência ocorreu silenciosamente durante o ‘lockdown’ e agora o COMFOSE
anuncia que o seu quartel general está localizado na "nova área
militar", de facto, anexada ao Camp Darby, uma base onde o treino conjunto
de soldados americanos e italianos está a ocorrer há algum tempo. A
transferência do COMFOSE para uma área anexa ao Camp Darby, formalmente sob a
bandeira italiana, permite a total integração das forças especiais italianas
com as dos EUA, utilizando-as em operações encobertas, sob comando USA. Tudo
sob a capa do segredo militar.
Ao
visitar o novo quartel general do COMFOSE, o Ministro da Defesa, Lorenzo
Guerini, designou-o como "o centro nervoso" não só das Forças
Especiais, mas também das "Unidades de Psyops do Exército". A tarefa
dessas unidades é "criar o consenso da população local em relação aos
contingentes militares empregados em missões de manutenção da paz no
exterior" ou seja, convencê-los de que os invasores são os missionários da
paz.
O
Ministro Guerini indicou, finalmente, o novo quartel general como sendo o
modelo do projecto das "Casernas Verdes". Um modelo de
"bem-estar e eco-sustentabilidade", que repousa sobre um milhão de
ogivas explosivas.
Manlio Dinucci*
| Voltairenet.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)
*Geógrafo
e geopolítico. Últimas publicações: Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra
nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla
catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra.
Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
Imagem:
O Ministro da Defesa, Lorenzo Guerini, Inspecciona o novo quartel general do
COMFOSE
Nota:
[1]
“Em Camp Darby, as
Forças Especiais Italianas”, Manlio Dinucci, Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos, Il Manifesto (Itália) , Rede Voltaire, 5 de Março
de 2019.
1 comentário:
Os americanos se espalham como um câncer, primeiro um órgão depois outro até tomarem todo o corpo. Fazem assim no mundo, com uma ressalva, se não conseguem dominar o hospedeiro pela "cooperação estratégica-ideológica" eles o dizimam. São uma doença cruel.
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