< Artur Queiroz*, Luanda >
Manuel Rui publicou no Jornal de Angola um texto muito interessante sobre os pés. O que ele sabe sobre essas extremidades tão úteis para fugir dos polícias e dos ladrões. Grandes berridas! O seu texto justifica plenamente esta verdade insofismável: Ler jornais é saber mais. Eu acrescentava mais duas funções importantes que podemos atribuir aos calcantes. Por vezes cheiram tanto a chulé que até causam vómitos. E a escrita! Agualusa é o grande mestre da escrita com os pezinhos. E tem muitos seguidores aquém e além-mar. É uma escola.
Eu explorava com mestria os odores do chulé. Quando os professores marcavam um “ponto”, durante quatro dias não tomava banho, não mudava de peúgas e usava sapatilhas macambira malcheirosas. Tiro e queda. Podia copiar à vontade porque ninguém se aproximava da minha zona. Até punha a cábula em cima da carteira. Tinha sempre boa nota nos pontos. Depois descia nas chamadas porque os meus pés não cheiravam mal.
Um ponto importantíssimo. Há escritores, jornalistas e outros profissionais das letras que escrevem com os pés. Manuel Rui não valorizou este lado dos mocotós. O que eu sofri. No início da profissão tocava-me ir diariamente ao banco de urgência do Hospital Maria Pia. Ao Comando da Polícia. Barra do Tribunal. Bombeiros e morgue. Depois escrevia as notícias.O meu mestre, Acácio Barradas, vociferava: Esta merda está escrita com os pés! E eu apurava-me. Quando o mestre estava bem-disposto dizia mansamente: Depois de escreveres esta porcaria ficaste com os pezinhos inchados. Quando chegares a casa mete água morna numa bacia, acrescenta sal e mergulha lá os pés uma hora. Desincham e amanhã podes voltar a escrever com os pés, sem doer”.
O mestre às vezes ficava mesmo muito zangado com o meu desempenho noticioso e vislumbrava nos textos escritos com os pés, coices de burro: Amanhã trago um fardo de capim para ires comendo enquanto fechamos a edição. Os operários gráficos riam e eu fingia que não percebia. Quando o mestre está a ensinar convém não fazer ondas, nem com os pés à beira da praia. Ou a saborear um petisco do saudoso Joãozinho, no restaurante Pezinhos na Água.
Eva Ferreira da Conceição é magistrada judicial e publicou no Jornal de Angola um texto intitulado “O Impacto das Mulheres no Judiciário”. No fundo, homenageia mulheres ligadas ao Poder Judicial em Angola e Moçambique. Só posso estar de acordo. Faltou dizer que o Presidente da República e Titular do Poder Executivo interferiu barbaramente nas decisões dos Tribunais. Pôs em causa a separação de poderes, pedra de toque do regime democrático.
O Tribunal Constitucional considerou inconstitucionais as normas do Decreto Presidencial número 69/21, de 16 Março, que estabelecia o regime de comparticipação de dez por cento aos órgãos da Administração da Justiça pelos activos financeiros e não financeiros “recuperados” com sentenças condenatórias. Mas apenas se pronunciou quando a Ordem dos Advogados levantou o problema. A decisão do plenário do Tribunal Constitucional consta do Acórdão 845/2023. Todos os Tribunais, todos os magistrados judiciais ficaram sujos e sob suspeita desde o primeiro momento da publicação do Decreto Presidencial celerado. Isto não pode ser atirado para baixo do tapete.
O Presidente da República acusou, julgou e condenou na praça pública a Veneranda Juíza Presidente do Tribunal de Contas, Exallgina Gamboa. Julgamentos populares nunca. Esta magistrada judicial merece uma palavra de solidariedade porque tem direito à presunção de inocência. Tenho pena que fosse ignorada no texto “O Impacto das Mulheres no Judiciário”. Aconteça o que acontecer no seu julgamento, a verdade é que foi vítima de um julgamento popular, numa interferência grosseira do Presidente da República e Titular do Poder Executivo no Poder Judicial.
Marine Le Pen e oito eurodeputados do partido União Nacional (RN) foram considerados culpados de desvio de fundos públicos. Marine Le Pen foi condenada a quatro anos de prisão, dois dos quais em casa com pulseira electrónica. Também foi condenada a cinco anos de inelegibilidade com efeito imediato. Já não pode ser candidata às eleições Presidenciais de 2027. Os seus advogados vão recorrer pelo que Marine Le Pen, até ver, é inocente. Mas tudo aponta para que ela fique fora das eleições presidenciais francesas em 2027.
Tribunais e agentes do Ministério Público no ocidente alargado interferem gravemente no Poder Político. Destroem maiorias parlamentares. Derrubam governos sólidos. Protegem o banditismo político. Fazem e desfazem à descrição. Há claramente uma interferência da internacional fascista no Poder Judicial. Anda tudo a reboque da extrema-direita. A condenação de Marine Le Pen está fora do sistema reinante. Aguardemos por mais elementos. Mas a cúpula da União Europeia está claramente numa guerra fratricida. Quem for contra as vigarices da guerra na Ucrânia é logo “Amigo do Putin” e vai à vida.
Em Angola também vamos ter
eleições no ano de 2027. Vamos ver se a UNITA, desta vez, consegue ludibriar a
Justiça e passa incólume às fortes suspeitas que caem sobre os seus dirigentes
em crimes gravíssimos cometidos nas Lundas, no Moxico, no Cuando, no Cubango,
No Moxico Leste, em Luanda, no Cuanza Norte e
* Jornalista
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