quarta-feira, 1 de julho de 2020

EUA | Os distúrbios raciais e a tentação separatista


Thierry Meyssan*

Os distúrbios raciais que se estendem hoje pelos EUA não ameaçam a integridade do território, mas poderão abrir a via para um confronto cultural entre as comunidades que partilham o país. Contrariamente a um a priori corrente, secessões de regiões inteiras estão mais do que nunca na ordem do dia.

Os Estados Unidos ardem após o aparente linchamento de um cidadão negro, George Floyd, por um policia branco de Minneapolis, Derek Chauvin, em 25 de Maio de 2020. As palavras apaziguadoras do Presidente da Câmara(Prefeito-br), Jacob Frey, não foram levadas em conta. O Governador do Minnesota, Tim Walz, requisitou a Guarda Nacional para abafar a rebelião. Os motins estenderam-se a 140 grandes cidades e 20 outros Estados federados requisitaram igualmente a Guarda Nacional.

Estes distúrbios não são contra o racismo em geral, mas exclusivamente contra o racismo anti-negro. Também nada têm a ver com a clivagem política Democratas/ Republicanos. Minneapolis tal como o Minnesota são Democratas. No entanto, eles eram previsíveis para todos os que se interessam pela sociologia norte-americana [1].

Estes acontecimentos não deixam de lembrar os motins de Los Angeles, em 1992, que se seguiram à absolvição dos policias brancos que haviam espancado o negro Rodney King. À época, 63 pessoas acabaram mortas, 2.383 feridas e mais de 12.000 foram presas. Ficaram queimados 3.767 prédios e os danos chegaram a mais de US $ mil milhões (1 bilhão-br) de dólares [2].

No entanto, a situação actual opõe exclusivamente Negros e certos Brancos ao Poder Branco, enquanto que a de há 28 anos atrás também opunha Negros à comunidade Coreana [3]. Agora, propaga-se por todo o país em vez de ficar confinada à vizinhança do local do crime. Esta extensão devolve os Estados Unidos aos anos 60 (Kennedy-Johnson), quando a Guarda Nacional teve que ser destacada para vários Estados segregacionistas para permitir aos Negros aceder às escolas públicas.

Os Estados Unidos ainda não digeriram o seu passado esclavagista. No entanto, apesar das aparências, esse conflito não ameaça a integridade do país. Com efeito, no decurso das últimas décadas, a população dos EUA movimentou-se muito de tal modo que hoje se reagrupou por afinidades culturais em 11 comunidades diferentes (ver o mapa acima). Enquanto isso, os Negros, esses, não formaram uma zona geográfica homogénea que controlassem, mas fizeram uma «Nova Grande Migração» (New Great Migration) principalmente para o Sul profundo (sistema de castas e luta contra o Estado Federal), onde eles são, ao mesmo tempo, integrados e discriminados. Estão igualmente muito presentes nas Midlands (pluralistas e centradas nas classes médias) [4].

Segundo várias fontes policiais, grupos pretensamente antifascistas tem coordenado os actuais motins em todo o país. Muito embora se ignore, com certeza, quem financia este movimento, não se pode deixar de pensar no complô denunciado há três anos pelo FBI, o qual havia exposto laços entre os meios anarquistas dos EUA e os jiadistas médio-orientais [5]. Se estas informações se confirmarem, não deveria ver-se nestes motins, mas na sua propagação, a mão do “Estado Profundo” dos EUA contra o Presidente Trump [6]. Ora, este anunciou a sua intenção de os banir.

Seja como for, as coisas só irão mal para o futuro dos Estados Unidos se outras comunidades se juntarem à dança. Particularmente os Mexicanos, cuja cultura azteca é muito violenta.

A tentação separatista é particularmente forte no Texas [7] e na Califórnia ; os únicos Estados Federados que se apresentam como Repúblicas.

Em 1998, o Professor Igor Panarin, que era então um dos directores do KGB, previra que os Estados Unidos não sobreviveriam por muito tempo à URSS. Baseando-se numa análise das diferenças culturais regionais que começavam a aparecer, ele antecipara a dissolução do Estado Federal. Este processo foi interrompido pelos atentados do 11-de-Setembro e pelo projecto dos Presidentes Bush Jr. e Obama. No entanto, ganhou impulso novamente durante o segundo mandato de Barack Obama, levou Donald Trump ao Poder e parece agora inevitável.

Thierry Meyssan* | Voltairenet.org | Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).


Notas:
[1] “O balanço e as perspectivas de Donald Trump”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 6 de Dezembro de 2017.
[2] Screening the Los Angeles ’Riots’: Race, Seeing, and Resistance, Darnell M. Hunt, Cambridge University press (1996); Official Negligence : How Rodney King and the Riots Changed Los Angeles and the LAPD, Lou Cannon, Random House (2016).
[3] Blue Dreams: Korean Americans and the Los Angeles Riots, Nancy Abelmann & John Lie (1997).
[4] American Nations. A history of the 11 rival regional cultures of North America, Colin Woodard, Viking (2011).
[5] “O FBI descobre um complô de Anarquistas dos EUA / Alcaida / Daesh”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 3 de Novembro de 2017.
[6] “As Brigadas anarquistas da OTAN”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 12 de Setembro de 2017.

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