O
líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, recusa sair do partido ou abandonar a
liderança. Na segunda-feira, cinco deputados do PAIGC viabilizaram o programa
de Governo de Nuno Nabiam. Há um ambiente de "terror", diz.
O
Partido para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC) sofreu um
grande revés, na segunda-feira (29.06), com cinco dos seus deputados a furarem
o boicote
do partido à sessão ordinária da Assembleia Nacional Popular e a votarem
a favor do programa de Governo de Nuno Nabiam.
Em
exclusivo à DW África, o líder do partido, Domingos Simões Pereira, diz que há
um ambiente de "grande coação" no país, que não justifica as ações
dos deputados, mas pode fazer com que os "mais fracos" sucumbam.
Simões Pereira afirma ainda que não vê qualquer razão para sair do partido e tenciona cumprir os quatro anos de mandato à frente do PAIGC.
Simões Pereira afirma ainda que não vê qualquer razão para sair do partido e tenciona cumprir os quatro anos de mandato à frente do PAIGC.
Leia a entrevista
DW
África: Tem condições para continuar a liderar o PAIGC depois dos
acontecimentos de segunda-feira?
Domingos
Simões Pereira (DSP): Isso é algo que os órgãos competentes do partido
irão decidir. Eu fui eleito por um congresso que me dá um mandato de quatro
anos à frente do partido, e tenho intenção de cumprir esse meu mandato e essa
minha responsabilidade. Mas, como qualquer político e democrata que se preze,
vou auscultar os órgãos internos do partido e, em perfeita tranquilidade,
saberemos analisar todas as circunstâncias e tomar as decisões que se impõem a
favor do partido - não a favor daqueles que põem em causa os princípios da
unidade e coesão interna do partido.
DW
África: Circulam informações nas redes sociais de que poderá haver a
possibilidade de fundar um novo partido. É isso que propõem nomeadamente grupos
de jovens, tanto na Guiné-Bissau como na diáspora. O que tem a dizer sobre
isso?
DSP: É
provavelmente um repto que os jovens me lançam, e eu respondo convocando-os a
integrarem o PAIGC, a continuarem o trabalho de transformação do partido na
atualidade. O PAIGC é um partido histórico, com princípios bastante bem
estabelecidos, e não é a saída do partido que vai resolver o problema. Aliás,
posso e devo responder de forma muito clara: não tenho essa intenção, não vou
abandonar o PAIGC. Portanto, lanço o desafio a esse número bastante extenso de
jovens que têm esse entusiasmo e essa disponibilidade para poderem, de forma
mais ativa, participar no processo político da Guiné-Bissau.
DW
África: Como vai ser a resposta do PAIGC a esta nova situação política criada
desde segunda-feira passada?
DSP: Não
há nenhuma situação nova criada desde segunda-feira, porque a Assembleia
Nacional Popular não se reuniu em condições normais. Não houve mesa para o
início dos trabalhos, não houve quórum, tudo foi montado. Portanto, na nossa
perspetiva, isso ainda é algo que terá de ser tratado pelas instâncias
competentes. Agora, há um outro aspeto que eu penso que é muito importante
referir aqui: nós não podemos ignorar o quadro de exceção que temos vivido.
Durante uma semana, vivemos uma situação de terror, de absoluta violência, em
que várias entidades foram vítimas de agressão, de sequestro. Eu penso que os
órgãos de comunicação têm acompanhado - deputados da nação que foram
sequestrados, que foram violentados. Isso não explica, nem justifica aquilo que
foi o posicionamento dos nossos deputados que passaram para o outro lado ou,
pelo menos, votaram noutro sentido. Mas é preciso enquadrar essa situação e
compreender que havia tudo menos um quadro de liberdade para que as pessoas
pudessem exprimir as suas vontades e consciências.
DW
África: Quer dizer que houve pressões sobre os deputados do PAIGC para que
furassem o boicote à sessão ordinária da Assembleia Nacional Popular?
DSP: Eu
penso que isso é evidente. Estamos a falar de cinco deputados que não
conseguiram tomar parte na jornada parlamentar que foi realizada na sede do
PAIGC, porque tinham em suas casas agentes de segurança que nós nunca
conseguimos descortinar se estavam lá para os proteger ou para os controlar. Aliás, essas ameaças foram feitas de forma pública, no Aeroporto Internacional
Osvaldo Vieira e noutras ocasiões. Portanto, não havia um quadro de normalidade
para daí podermos julgar o comportamento das pessoas. As pessoas estavam sob
uma grande coação, e, volto a dizer, isso não justifica, mas aqueles mais
fracos certamente vão sucumbir a essa pressão.
António
Cascais | Deutsche Welle
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