Manuel Molinos | Jornal
de Notícias | opinião
Cenário
dantesco. "Cães acorrentados por todo o lado, saudáveis, doentes, novos,
velhos, alguns que já desistiram da vida e estão apenas a aguardar que a morte
chegue".
A
denúncia chegou ao Ministério Público que analisou o caso. Em 2018, arquivou o
processo-crime movido a dois abrigos de cães em Santo Tirso. Afinal ,
concluiu, "não há crueldade em manter animais num espaço sujo, com lixo,
dejetos e mau cheiro".
Confuso?
Leia-se então a explicação da Justiça: "Um mau trato é antes um tratamento
cruel, atroz, impiedoso, revelador de algum prazer em causar sofrimento ou
indiferença perante o sofrimento causado". Logo, "os animais não
estavam em
sofrimento. Viviam apenas num local muito sujo".
Dois
anos depois, nesse mesmo local, morreram 52 cães e dois gatos (números da
autarquia). Queimados na sequência do incêndio que deflagrou em Sobrado, no
concelho de Valongo, e alastrou à freguesia de Agrela, em Santo Tirso. Falharam
as autoridades judiciais, concelhias e veterinárias.
Os
que sobreviveram foram resgatados. Alguns pelos serviços municipais, outros por
populares, à força, no meio de troca de acusações e de julgamentos vertiginosos
e impiedosos nas redes sociais. A pergunta que se eterniza é o que faz um
abrigo ilegal para animais no meio de uma floresta?
E
quantos existirão pelo país nas mesmas condições? E quantas autarquias recorrem
a estes locais ilegais para depositar os animais que não conseguem albergar nos
canis municipais, cada vez mais sobrelotados após a lei que proíbe o abate? No
desastre de ontem ninguém fica bem na fotografia.
Nem
a Câmara, nem a GNR, que foram céleres a emitir comunicados, mas sem explicar o
enquadramento legal do espaço. Nem os ativistas dos direitos dos animais que
publicaram as fotografias das proprietárias do espaço com o selo
"procura-se".
Agora,
importante é evitar calamidades semelhantes. Vivemos num tempo em que os
animais têm quem os represente no Parlamento. E é especialmente destes que
esperamos ver ação.
*Diretor-adjunto
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