sexta-feira, 10 de julho de 2020

Portugal | É preciso estar atento


Paulo Baldaia | TSF | opinião

Há um ano, o Parlamento aprovou, com os votos favoráveis do PS, PSD e CDS, o Programa Nacional de Investimento e ele já não serve para nada. Tanto empenho do governo em conseguir um consenso superior a dois terços dos deputados e agora ninguém se dá conta que esse plano está caducado e vai ser substituído pelo plano de um homem só. Ou melhor, de um só homem.

Onde havia Programa Nacional de Investimentos, há - agora - o Plano de Recuperação Económica. Onde havia a "necessidade de o país planear o seu futuro com segurança, imune à mudança de ciclos políticos", há - agora - "a urgência de fazer". Onde havia os partidos do arco do poder, há - agora - António Costa Silva.

Na entrevista ao Porto Canal, deste fim de semana, Rui Rio já admite a necessidade de rever o plano que foi aprovado no Parlamento, com os votos do seu partido, ao lado dos socialistas e do CDS, porque o mundo mudou com a pandemia e porque o pacote financeiro que chegará da Europa é bem diferente do que estava programado há um ano.

E andamos nisto. Ainda hoje, o Público faz manchete com um parecer do Conselho Superior de Obras Públicas que defende que a linha ferroviária que liga as duas maiores cidades portuguesas tem de ser melhorada "tão rapidamente quanto possível". No mesmo parecer, o Governo é alertado para a necessidade de se fazer um Plano Ferroviário Nacional. Lembram-se quando há nove meses a proposta do PSD para o comboio de alta velocidade a ligar Lisboa e Porto foi motivo para uma polémica eleitoral, com um ataque de António Costa a Rui Rio e o fantasma de um regresso do TGV? No Expresso, cita-se António Costa Silva, na proposta de 119 páginas que entregou ontem ao governo, a dizer que "o país tem acumulado muitas polémicas sobre as infraestruturas", acrescentando que é agora o tempo de as fazer".

Há razões para estarmos preocupados, quando gastar milhares de milhões de euros em obras públicas voltou a ser um desígnio inquestionável. Não que elas não sejam necessárias, não que o Estado não tenha de ser promotor de grandes investimentos para impulsionar o crescimento económico, mas quando o desespero é grande é preciso estar muito atento para que não se cometam os grandes disparates de tempos mais recentes. O PSD e o CDS têm de vir rapidamente a jogo, mais que não seja para exigirem que o governo respeite o consenso nacional que, há menos de um ano, promoveu no Parlamento.

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