segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Não desperdiçar comida


David Chan | Plataforma | opinião

Xi Jinping, na mais alta posição de poder na China (secretário-geral do Partido, presidente, e líder militar), deu instruções importantes para impedir o desperdício de comida, apelidando este comportamento como alarmante e angustiante. “Cada grão é fruto de trabalho árduo.” Apesar do crescimento anual chinês na produção de cereais, o país continua consciente do risco existente na produção de alimentos. A pandemia de Covid-19 serviu como uma chamada de atenção para este problema. 

A mensagem de Xi deixa bem claro que o maior perigo de 2020 ainda está para chegar, sendo por isso necessário tentar viver de uma forma mais moderada. Segundo os dados referidos, durante este verão parece ter havido um crescimento na colheita agrícola, porém continua a existir o consenso de que o ano está longe de ser normal. Assistimos a condições meteorológicas extremas, a várias cheias no Sul, e continua a ser incerto se estes fenómenos irão ou não afetar a colheita outonal. O maior problema é que devido à situação atual é difícil implementar medidas de prevenção, e se não aplicadas atempadamente poderá ser tarde de mais. A atual reserva de cereais ainda é relativamente suficiente, sendo capaz de dar resposta à procura existente, o que faz desta a altura perfeita para começar a falar de poupança na alimentação. 

Não é algo para ser implementado apenas em 2020, mas sim para os próximos três a cinco anos, especialmente no contexto atual em que todos os dias são registados dezenas de milhares de infetados nos EUA. Primeiramente, a produção chinesa chegou ao pico, e está agora a enfrentar um período de entrave no desenvolvimento.

Em segundo lugar, se garantirmos a segurança da produção autónoma dos cereais básicos, não conseguiremos fazer o mesmo para cereais forrageiros. A área cultivável na China ocupa apenas 120 milhões de hectares e é impossível semear cereais forrageiros após cultivar outros cereais, fazendo com que o país dependa da importação. Tal levará também a um aumento no preço da carne, leite e ovos, tal como a um risco de inflação na importação, afetando a segurança económica do país.

Em terceiro lugar, os EUA poderão começar a usar os cereais como uma ferramenta de poder. Durante a Guerra Fria, quando a União Soviética tinha pouco cultivo, os EUA e os Aliados impuseram um embargo sobre os cerais, criando um aumento no preço dos alimentos. Os EUA são o maior exportador de cerais do mundo, e a China depende da importação de cereais forrageiros. Ou seja, quando o país decidir usar esta arma, a China perderá poder.

Neste momento podemos comer até ficar cheios sem qualquer problema, mas é preciso saber ter comedimento. Não somos completamente autónomos na produção de fontes de proteína como carne, leite e ovos, porém vemos muitos destes alimentos a ser desperdiçados. Devemos preparar-nos para uma eventual emergência, sem desperdício.

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