Paulo Baldaia | Diário de Notícias
| opinião
Num país em que uma vítima de
racismo é julgada e sentenciada sem que se conheça o estado em que estão os
processos contra os agressores, já podemos assumir que o racismo não é apenas
um desvio de dúzia e meia de malucos e que o resto do país também tem responsabilidades
pela generalizada indiferença com que lida com o tema? Num país em que o
governante que tem responsabilidades nesta matéria, meio ano depois do
flagrante delito, no mesmo mês em que a vítima foi sentenciada, o que tem para
lhe dizer é que "para ser uma boa justiça nunca pode haver resultados
imediatos", já podemos assumir que há uma cumplicidade do governo no
falhanço da luta contra o racismo?
É chover no molhado apontar o
dedo à extrema incompetência de João Paulo Rebelo. Não pode ser a permanência
desta nulidade política no governo a justificar a incompetência das
instituições na forma como lidam com o fenómeno do racismo em Portugal. Onde foi parar
a indignação generalizada com o ataque racista de que Marega foi vítima no
estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães? Onde pára o Presidente da República
que apareceu indignado a defender a Constituição e a condenar o racismo? Onde
pára o primeiro-ministro que apareceu pronto a concluir que "nenhum ser
humano deve ser sujeito a esta humilhação"? Onde pára o presidente da
Federação Portuguesa de Futebol que rapidamente apareceu a prometer mão dura,
porque "os comportamentos racistas são intoleráveis numa sociedade aberta
e evoluída"?
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