sábado, 29 de agosto de 2020

Portugal racista e os cúmplices


Paulo Baldaia | Diário de Notícias | opinião

Num país em que uma vítima de racismo é julgada e sentenciada sem que se conheça o estado em que estão os processos contra os agressores, já podemos assumir que o racismo não é apenas um desvio de dúzia e meia de malucos e que o resto do país também tem responsabilidades pela generalizada indiferença com que lida com o tema? Num país em que o governante que tem responsabilidades nesta matéria, meio ano depois do flagrante delito, no mesmo mês em que a vítima foi sentenciada, o que tem para lhe dizer é que "para ser uma boa justiça nunca pode haver resultados imediatos", já podemos assumir que há uma cumplicidade do governo no falhanço da luta contra o racismo?

É chover no molhado apontar o dedo à extrema incompetência de João Paulo Rebelo. Não pode ser a permanência desta nulidade política no governo a justificar a incompetência das instituições na forma como lidam com o fenómeno do racismo em Portugal. Onde foi parar a indignação generalizada com o ataque racista de que Marega foi vítima no estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães? Onde pára o Presidente da República que apareceu indignado a defender a Constituição e a condenar o racismo? Onde pára o primeiro-ministro que apareceu pronto a concluir que "nenhum ser humano deve ser sujeito a esta humilhação"? Onde pára o presidente da Federação Portuguesa de Futebol que rapidamente apareceu a prometer mão dura, porque "os comportamentos racistas são intoleráveis numa sociedade aberta e evoluída"?

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