O luso-americano Andrew
Figueiredo, que estagiou no congresso norte-americano e estuda direito em
Filadélfia, afirmou que Portugal pode olhar para a eleição presidencial nos
Estados Unidos como um aviso sobre o populismo.
Segundo Andrew Figueiredo, que
tem raizes em Nelas e Torres Novas, o Presidente Donald Trump
continua a gozar de muita popularidade porque "fala para um segmento da
população que sente que foi deixado para trás pelos dois maiores
partidos".
Embora tenha governado dentro do âmbito dos
republicanos tradicionais, Trump "continua a ter este caráter populista"
que tem "muitas similaridades" com André Ventura, considerou.
"Canalizam essa energia a culpar forasteiros quando há tantos fatores em
causa e é muito mais complicado do que os populistas dizem", ressalvou.
Caraterizando-se como um
democrata moderado, Andrew Figueiredo considerou que a história da ditadura
portuguesa não livra o país de um ressurgimento de ideologias fascistas.
"Não estamos imunes a isto mesmo depois de Salazar", disse.
Após estagiar na Câmara dos
Representantes do congresso norte-americano, no gabinete de Dan Lipinski (representante
do 3.º distrito do Illinois), Figueiredo está agora no Centro para a Ética e
o Estado de Direito (CERL), onde são investigados os efeitos das ações governamentais
em diversas áreas.
"Um dos grandes perigos
desta administração é que continua a tentar concentrar poder no
Presidente", afirmou o lusodescendente. "A política vai ter
sempre pessoas que a usam para seu próprio ganho, mas Trump é tão descarado e
audacioso ao fazê-lo, promovendo negócios e tentando usar o cargo para sua
vantagem", considerou. "Isso é o que me deixa horrorizado, o quão é
feito às claras e o pouco que as pessoas se importam".
A aceitação do que descreve como
um rompimento generalizado das normas "é um reflexo do nível de
polarização que existe agora", disse. "As pessoas estão dispostas a
virar a cara a transgressões quando acontecem do seu lado". Exemplo disso
é o tipo de comentários negativos que o Presidente terá feito sobre os
militares: "Se tivesse sido um democrata a fazê-lo, os republicanos
estariam em rebuliço".
O lusodescendente, de 22
anos, estuda Direito na Universidade da Pensilvânia depois de se ter
formado em
Desenvolvimento Internacional na Universidade McGill, no
Canadá, e explicou que nos últimos anos se afastou da ala mais progressiva dos
democratas.
"Joe Biden foi a
minha primeira escolha desde o início, o que é raro para a minha faixa
etária", afirmou. "Apoiava Bernie Sanders em 2016, a minha primeira
eleição, mas desde então tornei-me muito mais moderado. Percebi que é preciso
trabalhar com o outro lado para conseguir fazer alguma coisa".
Nesta eleição, Figueiredo está a
trabalhar nas corridas adicionais que os eleitores serão chamados a decidir.
"Estou a fazer telefonemas a favor de candidatos ao congresso no Maine e
na Pensilvânia, focado em democratas que são moderados e mais próximos dos
meus ideais".
Um dos receios do lusodescendente é
que o empurrão do partido Democrata para a esquerda possa afastar algum
eleitorado. "Penso que temos algum espaço para ir mais à esquerda na
economia", disse, mas manifestando preocupação "com as questões
sociais".
Segundo o lusodescendente,
boa parte da base dos democratas, sobretudo afro-americanos e hispânicos,
têm visões mais conservadoras no que toca a questões sociais. "A vasta
maioria dos americanos não têm o tipo de opiniões que vemos nos campus
universitários e no Twitter", frisou. "Se deixarmos que essas
opiniões tomem a linha da frente do partido, poderemos sacrificar os ganhos
eleitorais".
Considerando que a guinada à
esquerda é fomentada "por ativistas em melhor situação e não
pela base do partido, a classe trabalhadora", Figueiredo disse que os
Democratas "têm de ter uma tenda grande para albergar todo o tipo de
pessoas". Isto inclui, no seu entender, desde pessoas que são a favor de
armas e contra o aborto aos socialistas democráticos.
"Tal como diz o Joe Biden,
é a alma da América que está em causa", afirmou. "Se Trump for
reeleito, a confiança no Governo vai cair, teremos muito mais protestos e o
país vai ficar ainda mais dividido", disse. "Não seria um bom
resultado, de todo, para o país e para o mundo".
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © Reuters
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