domingo, 13 de setembro de 2020

Luso-americano diz que populismo de Trump é aviso para Portugal


O luso-americano Andrew Figueiredo, que estagiou no congresso norte-americano e estuda direito em Filadélfia, afirmou que Portugal pode olhar para a eleição presidencial nos Estados Unidos como um aviso sobre o populismo.

Segundo Andrew Figueiredo, que tem raizes em Nelas e Torres Novas, o Presidente Donald Trump continua a gozar de muita popularidade porque "fala para um segmento da população que sente que foi deixado para trás pelos dois maiores partidos".

Embora tenha governado dentro do âmbito dos republicanos tradicionais, Trump "continua a ter este caráter populista" que tem "muitas similaridades" com André Ventura, considerou. "Canalizam essa energia a culpar forasteiros quando há tantos fatores em causa e é muito mais complicado do que os populistas dizem", ressalvou.

Caraterizando-se como um democrata moderado, Andrew Figueiredo considerou que a história da ditadura portuguesa não livra o país de um ressurgimento de ideologias fascistas. "Não estamos imunes a isto mesmo depois de Salazar", disse.

Após estagiar na Câmara dos Representantes do congresso norte-americano, no gabinete de Dan Lipinski (representante do 3.º distrito do Illinois), Figueiredo está agora no Centro para a Ética e o Estado de Direito (CERL), onde são investigados os efeitos das ações governamentais em diversas áreas.

"Um dos grandes perigos desta administração é que continua a tentar concentrar poder no Presidente", afirmou o lusodescendente. "A política vai ter sempre pessoas que a usam para seu próprio ganho, mas Trump é tão descarado e audacioso ao fazê-lo, promovendo negócios e tentando usar o cargo para sua vantagem", considerou. "Isso é o que me deixa horrorizado, o quão é feito às claras e o pouco que as pessoas se importam".


A aceitação do que descreve como um rompimento generalizado das normas "é um reflexo do nível de polarização que existe agora", disse. "As pessoas estão dispostas a virar a cara a transgressões quando acontecem do seu lado". Exemplo disso é o tipo de comentários negativos que o Presidente terá feito sobre os militares: "Se tivesse sido um democrata a fazê-lo, os republicanos estariam em rebuliço".

O lusodescendente, de 22 anos, estuda Direito na Universidade da Pensilvânia depois de se ter formado em Desenvolvimento Internacional na Universidade McGill, no Canadá, e explicou que nos últimos anos se afastou da ala mais progressiva dos democratas.

"Joe Biden foi a minha primeira escolha desde o início, o que é raro para a minha faixa etária", afirmou. "Apoiava Bernie Sanders em 2016, a minha primeira eleição, mas desde então tornei-me muito mais moderado. Percebi que é preciso trabalhar com o outro lado para conseguir fazer alguma coisa".

Nesta eleição, Figueiredo está a trabalhar nas corridas adicionais que os eleitores serão chamados a decidir. "Estou a fazer telefonemas a favor de candidatos ao congresso no Maine e na Pensilvânia, focado em democratas que são moderados e mais próximos dos meus ideais".

Um dos receios do lusodescendente é que o empurrão do partido Democrata para a esquerda possa afastar algum eleitorado. "Penso que temos algum espaço para ir mais à esquerda na economia", disse, mas manifestando preocupação "com as questões sociais".

Segundo o lusodescendente, boa parte da base dos democratas, sobretudo afro-americanos e hispânicos, têm visões mais conservadoras no que toca a questões sociais. "A vasta maioria dos americanos não têm o tipo de opiniões que vemos nos campus universitários e no Twitter", frisou. "Se deixarmos que essas opiniões tomem a linha da frente do partido, poderemos sacrificar os ganhos eleitorais".

Considerando que a guinada à esquerda é fomentada "por ativistas em melhor situação e não pela base do partido, a classe trabalhadora", Figueiredo disse que os Democratas "têm de ter uma tenda grande para albergar todo o tipo de pessoas". Isto inclui, no seu entender, desde pessoas que são a favor de armas e contra o aborto aos socialistas democráticos.

"Tal como diz o Joe Biden, é a alma da América que está em causa", afirmou. "Se Trump for reeleito, a confiança no Governo vai cair, teremos muito mais protestos e o país vai ficar ainda mais dividido", disse. "Não seria um bom resultado, de todo, para o país e para o mundo".

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Reuters

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