A vigília foi convocada por jovens afetos à JURA, o braço juvenil da UNITA, na província do Huambo. Manifestantes acusam a polícia de brutalidade. Agentes da polícia dizem que foram atacados pelos jovens.
A sede da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) no Huambo esteve esta quinta-feira (29.10) rodeada de um forte aparato policial, um dia depois de jovens do partido tentarem realizar uma vigília, que foi reprimida pela polícia.
Ao todo, segundo as autoridades, três pessoas ficaram feridas no protesto em solidariedade com os mais de cem manifestantes detidos durante uma marcha em Luanda, no sábado (24.10). Um dos feridos é um agente policial.
Alcino Kuvalela, secretário provincial da UNITA no Huambo, critica a ação das forças de segurança.
"Não se compreende que jovens desarmados, com velas, sejam perseguidos e espancados desde o Jardim da Cultura até ao secretariado do comité provincial da UNITA - e, mais grave ainda, é a polícia que viola a Constituição."
"Eu gritava, 'vocês vão-me matar'"
Arlindo Macango, secretário municipal da JURA, diz que a realização da vigília foi comunicada às autoridades, como manda a lei. Em resposta, teria apenas sido pedido aos manifestantes que não fizessem o protesto em frente ao tribunal provincial, mas no Jardim da Cultura, por uma questão de segurança.
"Recebemos o comunicado de que não deveríamos realizar a manifestação no local onde estava previsto por orientação da polícia e do juiz presidente e que tínhamos de ir para o Jardim da Cultura, local onde estaria a polícia para nos proteger e controlar possíveis atos que não dignificam os objectivos da vigília", explica Macango.
Silva Cassinda, secretário provincial do Partido de Renovação Social, conta que esteve presente na vigília – e o que viu foi a polícia a reprimir violentamente os manifestantes. Cassinda refere que ele próprio foi vítima da brutalidade policial.
"A polícia faz-nos entender que estamos num país ditatorial. Eu gritava que estava a sangrar, 'vocês vão-me matar, senhores agentes', mas eles continuavam a torturar-me", afirma o político.
Polícia diz que foi agredida
Em comunicado publicado na quinta-feira, o gabinete de comunicação da delegação provincial do Ministério do Interior no Huambo sublinha que a vigília de quarta-feira à noite violou as novas restrições para travar a propagação da Covid-19, nomeadamente a proibição de ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública. Segundo o Ministério do Interior, os manifestantes foram orientados a retornar a casa, mas "rebelaram-se", arremessando "pedras e paus" aos agentes da polícia e aos transeuntes.
João Lara, representante do Conselho Nacional da Juventude no Huambo, lamenta que, mais uma vez, em curto espaço de tempo, a polícia nacional tenha reprimido uma manifestação. Entretanto, pede aos jovens que tenham cuidado.
"Nós lamentamos imenso sobre estas situações que estão a acontecer ao nível do país. O nosso apelo é que os jovens, nesta fase, deveriam ter muito cuidado. [Mas] as organizações juvenis políticas sobrevivem das orientações dos seus partidos, às vezes é difícil desobedecer às orientações superiores."
José Adalberto (Huambo) | Deutsche Welle
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