Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião
Talvez nunca, como nas próximas eleições presidenciais, tenha havido um tão grande número de eleitores embaraçados, face à dimensão de imbróglios que é preciso deslindar até ao momento do voto.
Em grande medida, da Direita à Esquerda, as eleitoras e eleitores deste país, porventura a maioria, tenderá a votar mais para evitar o que considera ser o pior cenário do que para conseguir resultados verdadeiramente desejados. Exclui-se desta interpretação a clientela da banda extrema da Direita. Esta terá no ódio à democracia, na raiva acumulada, na fuga para o campo do contra tudo e contra todos e no desgosto pela "moleza" da Direita tradicional, as motivações para se mobilizar.
Vivemos uma situação de "crise", palavra que significa, como diz Luciano Manicardi, "tempos maus", tendencialmente de "maldades difusas", e vamos eleger o mais alto magistrado da nação. O presidente da República e o exercício da presidência - que depende da sua personalidade, dos valores e compromissos que assumir e, ainda, da interpretação que fizer da Constituição da República (CR) - são muito relevantes no nosso regime democrático. O contexto é, pois, bem difícil e desafia-nos a observar, atentamente, as tendências que se desenham.
À Direita haverá eleitores a
votar
No espaço do PS há outros embaraços em torno da candidatura de Ana Gomes. Espera-se que ainda possam ser ultrapassados. Muitos dos seus potenciais eleitores estão receosos perante algumas contradições e apelos com excesso de ambiguidade, por exemplo, entre o legítimo imperativo do combate à corrupção e o perigo de politização da justiça. E, ainda, perante vazios de substância em questões fulcrais, como são a dignidade, a valorização concreta do trabalho e da qualidade do emprego.
Mais à Esquerda, as candidaturas de Marisa Matias (BE) e de João Ferreira (PCP) estão debaixo de uma campanha que tenta inculcar na cabeça dos seus potenciais eleitores a ideia redutora de que os seus objetivos são mera marcação de terreno partidário. É preciso desmontar tal lamentação. Estas candidaturas apresentam-se a mobilizar os eleitorados específicos mas não estão restringidas a esses espaços, e trazem para debate temas importantes e ideias claras sobre o papel do presidente, o funcionamento da instituição e os seus compromissos com a Constituição da República.
É difícil, mas não impossível, reafirmar, nestas presidenciais, a maioria social e política do país, que pertence e pode continuar a pertencer à Esquerda.
*Investigador e professor universitário
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