quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Portugal | O eclipse do Miguel

"A verdade é como o azeite. Vem sempre à tona.” É um ditado popular.

António Fernandes, em Braga | Jornal Tornado | opinião

Aquilo que se passou no frente a frente entre o sensacionalismo e a crueza da verdade foi demasiado gelado para quem gosta de “aquecer” o discurso e inflamar o ego.

O mote que serviu de tónica dominante na explanação feita pela Magistrada do Ministério Publico, Maria José Morgado, magistrada que ocupou vários cargos na estrutura judicial do país ao longo dos mais de 40 anos de serviço feito missão na investigação e combate ao crime económico e financeiro, uma variável do crime  organizado nas suas valências, coadjuvada por colaboradores cuja competência e empenho por mais de uma vez fez questão em referir de forma elogiosa neste seu aparecimento publico em televisão.

Ironicamente esquecida ao longo de vários anos pela comunicação social apareceu, com alguma surpresa para muitos telespectadores, a ser entrevistada num canal  generalista num momento preciso em que um dos processos que liderou produziu prova de que resultou procedimento criminal envolvendo magistrados.

Maria José Capêlo Rodrigues Morgado. Ela mesmo. Como sempre!

De conversa franca e fluida, linguagem simples,  postura transparente, conduta impoluta, não deu espaço de manobra a um sensacionalista com histórico profissional de: causídico; jornalista; escritor; comentador televisivo; entre outros; premiado, e que tem por nome: Miguel Andresen de Sousa Tavares, a pretexto de uma pretensa entrevista que acabou por não acontecer em face do completo eclipsar do entrevistador por manifesta incapacidade em conduzir a conversa.

“Entrevista” sobejamente publicitada pelo canal onde ocorreu, em que o suposto entrevistador tentou logo de inicio “encurralar” a magistrada com perguntas redondas de respostas: “sim” ou “não”, sobre procedimentos de corrupção económica e financeira em processos de investigação para apuramento e prova de existência de corrupção em Portugal a nível superior, vulgo; “colarinho branco”, insistindo em uma pergunta:

– Portugal é um País corrupto?

Maria José Morgado nem sequer admitiu tal pergunta nos moldes em que foi feita, procurando num exercício de inteligência discernente abrir horizontes mentais no seu interlocutor tentando assim explicar a tão proeminente “jornalista” que a corrupção é um procedimento coletivo a jusante em cuja prevenção o Estado falhou e onde é necessário extrair razões factuais posteriores para apurar factos e, aquando da existência de suspeita sobre a prática de crime económico ou financeiro, em sede de investigação, se conseguir produzir prova de que houve dolo.

Assim como, a complexidade que envolve uma investigação alargada e abrangente, desde: a cidadania; a atividade económica; a atividade desportiva profissional: o branqueamento de capitais; a dissimulação de capitais; a circulação de capitais obscura e o meio de prova ao ponto de, sobre a delação “premiada”, concordando com variáveis dessa delação desde que conduzam à prova dos factos, ter referido circunstâncias em que a “arma do crime” não é arrolada para a condenação por tráfico de estupefacientes e outros procedimentos criminais por via informática. Sem o flagrante delito da posse do produto. E sim por informação fundada e fundamentada.

Disse também concordar com penas negociadas desde que da informação fornecida resulte evidência e consequentemente prova para condenação do/s réu/s.

Sobre o “segredo de justiça” desmontou a argumentação flácida do “entrevistador” ao explicar pormenorizadamente que depois de determinada investigação concluída a informação é disseminada por um vasto conjunto de agentes envolvidos nos processos de forma a que qualquer um deles pode ser o veículo da chamada “fuga de informação” que não é “fuga” nenhuma por ser matéria do conhecimento geral dos envolvidos, seus representantes e de todos aqueles que por motivo diverso tem acesso ao processo que saiu do secretismo da investigação.

*Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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