sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Jerónimo: «Não se limitam a espalhar o medo de morrer, mas o medo de viver»

Na abertura do congresso, o secretário-geral do PCP sublinha que este é «prova de responsabilidade» do partido e demonstrará que «a realização de actividades é compatível com a prevenção da saúde».

Na intervenção de abertura do XXI Congresso do PCP, Jerónimo de Sousa lembrou que este se realiza num quadro «bem diferente do que é habitual», em consequência da pandemia, e que implicou a redução de delegados a metade e a não participação de convidados.

Afirmou também que o PCP «não vira as costas aos problemas, nem se esconde quando os trabalhadores enfrentam dificuldades».

Estes três dias são, segundo o secretário-geral do PCP, o culminar de um processo de discussão interno que contou com 1700 reuniões e 18 000 participantes.

Esta actividade ao longo dos últimos meses, desenvolvida no cumprimento das exigências sanitárias, não é «uma questão menor» quando se assiste à tentativa de colocar ao mesmo nível «direitos políticos e cívicos fundamentais» com outros «momentaneamente limitados», por parte «representantes das forças da regressão, do retrocesso e do autoritarismo direitistas», afirmou o líder comunista.

Ficou ainda o alerta de que os precedentes «pelo mundo fora» são usados para «dificultar o protesto e proibir a luta social e laboral», para «limitar liberdades e direitos cívicos» e «minar a democracia».

«Sabemos como tudo começa, mas não sabemos como acaba e muitas vezes acaba mal para direitos e interesses dos povos e tantas vezes para a democracia e a liberdade», frisou o dirigente.

Para Jerónimo de Sousa, o grande capital utiliza a pandemia para aumentar a exploração e tentar contrariar a sua «crise estrutural».

«O capitalismo não é o sistema terminal da história da Humanidade. A construção de uma nova sociedade liberta de todas as formas de exploração e opressão é uma exigência da actualidade e do futuro», afirmou.

O líder comunista fez também críticas à União Europeia, que continua a determinar as suas políticas pelos «interesses do grande capital» e não pelos «direitos e anseios dos povos» e cuja saída do Reino Unido é um exemplo que «faz cair por terra as teorias da irreversibilidade» deste processo de integração.

«Resgatar a esperança» para o povo e o País

Relativamente à situação nacional, o secretário-geral do PCP considera que no plano social esta se «deteriora de forma alarmante» e que os grandes problemas «não encontraram a resposta que se impunha» nas opções políticas dos governos minoritários do PS.

«As causas da crise cíclica desencadeada em 2007/2008 permaneceram e a epidemia de Covid-19 só veio revelar e tornar mais nítidos, neste ano de 2020, os nossos estrangulamentos, défices e dependências estruturais», afirmou.

O aumento da «exploração e do empobrecimento», com a imposição e subsistência de um modelo de baixos salários, reformas e pensões, e uma crescente «precarização das relações laborais» e manutenção de elevados níveis de desemprego, traduz-se em «profundas injustiças sociais», em que «os lucros e privilégios de uns poucos» contrastam com o aumento da pobreza, sublinhou.

No plano da Saúde, o líder comunista afirmou que o Governo optou também por não assegurar o pleno direito aos cuidados médicos e por insistir na «promiscuidade entre o público e o privado», canalizando os fundos públicos do seu financiamento para engrossar os lucros e o poder dos grupos monopolistas da saúde.

Sobre os anos que se seguiram às eleições legislativas de 2015, o secretário-geral do PCP sublinhou, mais uma vez, a «intervenção decisiva do PCP» para a derrota política e eleitoral do governo do PSD/CDS-PP e a interrupção da sua «acção destruidora».

O líder comunista chamou ainda a atenção para a tentativa de aproveitamento do descontentamento quer pelo PSD e CDS-PP quer pelos seus «sucedâneos» da Iniciativa Liberal e do Chega que, «cavalgando a situação de crise» e falta de resposta aos problemas por parte do Governo, visam relançar a sua política de «assalto aos direitos».

Por sua vez, Jerónimo de Sousa advoga que o Orçamento do Estado para 2021 contém «importantes propostas» pelas quais o PCP se bateu, que terão tradução concreta na vida dos trabalhadores, mas garante que a abstenção marca «um distanciamento» face a opções do Governo.

Deixou ainda a denúncia de que, nos últimos meses, o PCP enfrentou «a ofensiva reaccionária e anticomunista» mais forte desde o 25 de Abril, e não tem dúvidas que seu o partido resistiu «como nenhum outro teria conseguido».

«Lidamos com uma conjuntura complexa e difícil, num quadro e num contexto político de incerteza e insegurança, de exercício do medo, em que as forças mais retrógradas não se limitam a espalhar o medo de morrer, mas a tentar transformá-lo em medo de viver, de trabalhar e lutar», alertou o secretário-geral, sublinhando que os comunistas têm a tarefa de «resgatar a esperança» num futuro melhor para os trabalhadores.

AbrilAbril

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