Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião
O dinheiro investido pelo Governo na comunicação encontra paralelo naquele que é aplicado pelos consumidores nas cadeias de fast food.
A satisfação imediata está garantida, mas os efeitos a médio prazo são maus e podem trazer consequências graves. A rábula com as vacinas da gripe ilustra bem um Executivo que coloca na mesa dos portugueses um discurso redondo e descoordenado nas questões mais sérias, quando se impõe assertividade.
Num primeiro momento, foi garantido que quem quisesse poderia adquirir a vacina. A garantia foi mesmo dada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, citando a ministra da Saúde, Marta Temido. Nem era necessário, pois, mais tarde, também o secretário de Estado adjunto e da Saúde, Lacerda Sales, tratou de sossegar as almas que, justificadamente, percebemos agora, andavam preocupadas.
O tempo deu nova machadada na credibilidade do Governo. As vacinas estão esgotadas nas farmácias e, ao contrário do que foi prometido, não chegaram para todos. Seria sempre difícil, sabendo-se que, numa conjuntura de pandemia, mais portugueses teriam a preocupação de se vacinarem. Bem mais fácil, no entanto, teria sido prever o óbvio, ou, melhor, dizer o óbvio, como corrigiu, recentemente, Marta Temido.
A bonomia dos portugueses poderia atirar num abrir e fechar de olhos para o esquecimento novo episódio de desacerto comunicacional. Mas é impossível. Nem com toda a bondade do Mundo se pode ignorar que é com desconfiança que todos olham para o que se segue: a campanha de vacinação para a covid-19. E se de desassossego já estamos fartos, é importante explicar quantas vacinas chegarão a Portugal e se serão suficientes para os grupos prioritários. Sem discursos fast food, que só servem para engordar a desconfiança dos portugueses em relação aos políticos.
*Chefe de redação
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