Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião
É cedo para certezas absolutas. Porque não há sondagens que substituam a prova dos nove de umas eleições. Ainda assim, fazer de conta que não se vê o elefante na sala não serve para nada.
O Chega, partido de extrema-direita, está a crescer. E para um número substancial de portugueses, na verdade, isso não representa qualquer problema (mesmo quando se propõe acabar com o Serviço Nacional de Saúde ou com a escola pública).
Não há problema, por exemplo, para Rui Rio, que abriu a porta da governação a André Ventura, com a coligação nos Açores (destaca até a sintonia na ideia de que os pobres só o são porque não querem trabalhar).
O extremismo do Chega também não é um problema para uma parte dos eleitores sociais-democratas: quase 40%, segundo o último barómetro da Aximage para o JN, estariam de acordo com um entendimento a nível nacional que permitisse uma alternativa ao Governo socialista (mesmo que o grupo de líderes e partidos europeus a que se juntou André Ventura inclua notórios racistas e alguns saudosistas dos movimentos de camisas castanhas e negras).
Aparentemente, Rui Rio e alguns sociais-democratas não estão interessados nas lições que chegam de outros lugares. Não é preciso recuar muitos anos, nem viajar muitos quilómetros. Aqui ao lado, em Espanha, o PP (que faz parte da família política europeia do PSD) começou há uns anos por dar boleia ao Vox (que faz parte da família política europeia do Chega) na Andaluzia, para governar uma comunidade regional que estava em mãos socialistas.
Nas eleições gerais do ano passado, o Vox tornou-se no terceiro maior partido de Espanha, a escassos cinco pontos do PP (mesmo dizendo que a violência sobre as mulheres é um mito feminista). Segundo as últimas sondagens, a diferença é agora de três pontos.
Os ultras ameaçam ficar com o
lugar do condutor. Assustado com a possibilidade de passar a pendura, o líder
dos populares espanhóis lá mudou de tática e começou a malhar nas posições
extremistas do Vox. Sendo certo que, à cautela, não disse que renunciará ao
apoio da extrema-direita se dela precisar para chegar ao poder
*Diretor-adjunto
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