Pedro Tadeu | TSF | opinião
Pedro Passos Coelho interveio numa sessão de homenagem a Alfredo da Silva, o dinâmico e irreverente industrial da CUF que, em 1929, ficou a dever ao então ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, a salvação da falência.
Salazar, para preservar a Casa Totta, mandou a Caixa conceder um empréstimo a Alfredo da Silva que o Banco Espírito Santo recusara e, a partir daí, o industrial recuperou de uma crise gravíssima.
É completamente contraditório ver um defensor da quase total ausência do Estado no mundo dos negócios, como Passos Coelho diz que é, ser a voz da homenagem a um dos empresários simbólicos do fascismo português - gente que negociava com o Estado Novo favores, expansão, proteção e estratégias comerciais, em troca de dependência política.
Alfredo da Silva, por exemplo, a pedido de Salazar, foi obrigado a ajudar, com navios e dinheiro, as tropas do general Franco, durante a Guerra Civil de Espanha.
É verdade que foi o segundo governo de Passos Coelho a privatizar a TAP, um governo que durou apenas 27 dias, 16 dos quais em gestão, e que assinou a venda da companhia aérea dois dias depois do Parlamento chumbar o Programa de Governo.
Mas voltemos ao presente: também Aníbal Cavaco Silva reapareceu para dar uma entrevista ao jornal Observador. Quer Passos quer Cavaco aproveitaram para falar sobre a TAP.
Passos afirmou o seguinte: "O Estado prepara-se, se em Bruxelas obtiver autorização, para canalizar o que lhe falta na Saúde, na Educação, na Ciência ou na ajuda à economia para injetar na TAP (redimensionada, com milhares de despedimentos inevitáveis, menos aviões e menos atividade) sem, no entanto, explicar ao país que apenas o fará porque reverteu uma privatização que vários governos procuraram realizar, embora só um tivesse conseguido concretizar."
Sim, é verdade que foi o segundo governo de Passos Coelho a privatizar a TAP, um governo que durou apenas 27 dias, 16 dos quais em gestão, e que assinou a venda da companhia aérea dois dias depois do Parlamento chumbar o Programa de Governo.
Cavaco Silva, na altura Presidente da República, também se atirou contra António Costa e contra a diminuição de capital privado na gestão da TAP.
Na altura o PS fartou-se de avisar que iria reverter a decisão de privatização da TAP, mas Passos, teimoso, não desistiu dela.
É, portanto, fácil virar o bico ao prego e acusar Passos, pela obstinação de privatizar a TAP em novembro de 2015, de ter provocado toda a confusão que se seguiu.
Mas Cavaco Silva, na altura Presidente da República, também se atirou contra António Costa e contra a diminuição de capital privado na gestão da TAP: "Eu avisei o primeiro-ministro quando isso foi feito em 2016. Tudo começou aí, o erro está aí. Disse-o, disse-o claramente quando, numa jogada meramente política-ideológica, o Estado, que tinha apenas 36%, se não me engano, quis ficar com 50% da TAP."
Uma boa parte das pessoas da direita costuma culpar o Estado de todos os males do país e isso é, também, uma fixação político-ideológica, um fanatismo a favor do privado contra o Estado, que deturpa muitas vezes os factos.
É igualmente muito curioso perceber que a acusação que Cavaco Silva endereça pode ser perfeitamente devolvida ao remetente: não foi por motivos político-ideológicos que a privatização da TAP, feita por um governo em queda, foi para a frente contra a vontade da maioria dos representantes do povo português, eleitos, dias antes, na Assembleia da República? Quem tem lata para dizer que esta atitude de Passos Coelho, apoiado por Cavaco Silva, não foi puramente ideológica?...
A maior tragédia financeira do país, desde 1974, não foi provocada pela gestão do Estado, foi provocada pela banca privada e já custou aos contribuintes mais de 21 mil milhões de euros.
Aliás, uma boa parte das pessoas da direita costuma culpar o Estado de todos os males do país e isso é, também, uma fixação político-ideológica, um fanatismo a favor do privado contra o Estado, que deturpa muitas vezes os factos e que é de sinal contrário às acusações de fanatismo contra o privado que estas pessoas costumam lançar à esquerda.
Porem, irónica e tristemente, a maior tragédia financeira do país, desde 1974, não foi provocada pela gestão do Estado, foi provocada pela banca privada e já custou aos contribuintes mais de 21 mil milhões de euros. Milhões que, para citar Passos Coelho (que geriu boa parte desses processos quando foi primeiro-ministro) tanta falta fazem "na Saúde, na Educação, na Ciência ou na ajuda à economia".
Esta cegueira ideológica, que atribui sempre culpas ao Estado pelos males provocados pelos privados, ou é constrangedora ou é desonesta.
E, na TAP, o prejuízo que a está a levar à ruína foi provocado pela gestão privada que mandou na empresa até junho passado, apesar do aumento de capital do Estado; que fez compras excessivas de aviões; que aumentou o pessoal na expectativa de um crescimento no turismo que a Covid-19 matou; que reduziu serviço para o Porto e para as ilhas e que, até, decidiu o pagamento de prémios avultados a gestores e quadros superiores.
Talvez seja a mesma cegueira que leva Passos Coelho, o suposto liberal, a fazer o elogio de um grande industrial do tempo do Estado Novo quando, na verdade, o ditador Salazar tudo controlava e a quem todos obedeciam... até os privados.
Não sei se a solução do Governo para a TAP é boa - desconfio que não e lamento que esteja dependente de Bruxelas - mas esta cegueira ideológica, que atribui sempre culpas ao Estado pelos males provocados pelos privados, ou é constrangedora ou é desonesta.
Enfim, talvez seja a mesma cegueira que leva Passos Coelho, o suposto liberal, a fazer o elogio de um grande industrial do tempo do Estado Novo quando, na verdade, o ditador Salazar tudo controlava e a quem todos obedeciam... até os privados.
Mas voltemos ao presente: também Aníbal Cavaco Silva reapareceu para dar uma entrevista ao jornal Observador. Quer Passos quer Cavaco aproveitaram para falar sobre a TAP.
Passos afirmou o seguinte: "O Estado prepara-se, se em Bruxelas obtiver autorização, para canalizar o que lhe falta na Saúde, na Educação, na Ciência ou na ajuda à economia para injetar na TAP (redimensionada, com milhares de despedimentos inevitáveis, menos aviões e menos atividade) sem, no entanto, explicar ao país que apenas o fará porque reverteu uma privatização que vários governos procuraram realizar, embora só um tivesse conseguido concretizar."
Sim, é verdade que foi o segundo governo de Passos Coelho a privatizar a TAP, um governo que durou apenas 27 dias, 16 dos quais em gestão, e que assinou a venda da companhia aérea dois dias depois do Parlamento chumbar o Programa de Governo.
Na altura o PS fartou-se de avisar que iria reverter a decisão de privatização da TAP, mas Passos, teimoso, não desistiu dela.
É, portanto, fácil virar o bico ao prego e acusar Passos, pela obstinação de privatizar a TAP em novembro de 2015, de ter provocado toda a confusão que se seguiu.
Mas Cavaco Silva, na altura Presidente da República, também se atirou contra António Costa e contra a diminuição de capital privado na gestão da TAP: "Eu avisei o primeiro-ministro quando isso foi feito em 2016. Tudo começou aí, o erro está aí. Disse-o, disse-o claramente quando, numa jogada meramente política-ideológica, o Estado, que tinha apenas 36%, se não me engano, quis ficar com 50% da TAP."
É igualmente muito curioso perceber que a acusação que Cavaco Silva endereça pode ser perfeitamente devolvida ao remetente: não foi por motivos político-ideológicos que a privatização da TAP, feita por um governo em queda, foi para a frente contra a vontade da maioria dos representantes do povo português, eleitos, dias antes, na Assembleia da República? Quem tem lata para dizer que esta atitude de Passos Coelho, apoiado por Cavaco Silva, não foi puramente ideológica?...
Aliás, uma boa parte das pessoas da direita costuma culpar o Estado de todos os males do país e isso é, também, uma fixação político-ideológica, um fanatismo a favor do privado contra o Estado, que deturpa muitas vezes os factos e que é de sinal contrário às acusações de fanatismo contra o privado que estas pessoas costumam lançar à esquerda.
Porem, irónica e tristemente, a maior tragédia financeira do país, desde 1974, não foi provocada pela gestão do Estado, foi provocada pela banca privada e já custou aos contribuintes mais de 21 mil milhões de euros. Milhões que, para citar Passos Coelho (que geriu boa parte desses processos quando foi primeiro-ministro) tanta falta fazem "na Saúde, na Educação, na Ciência ou na ajuda à economia".
E, na TAP, o prejuízo que a está a levar à ruína foi provocado pela gestão privada que mandou na empresa até junho passado, apesar do aumento de capital do Estado; que fez compras excessivas de aviões; que aumentou o pessoal na expectativa de um crescimento no turismo que a Covid-19 matou; que reduziu serviço para o Porto e para as ilhas e que, até, decidiu o pagamento de prémios avultados a gestores e quadros superiores.
Não sei se a solução do Governo para a TAP é boa - desconfio que não e lamento que esteja dependente de Bruxelas - mas esta cegueira ideológica, que atribui sempre culpas ao Estado pelos males provocados pelos privados, ou é constrangedora ou é desonesta.
Enfim, talvez seja a mesma cegueira que leva Passos Coelho, o suposto liberal, a fazer o elogio de um grande industrial do tempo do Estado Novo quando, na verdade, o ditador Salazar tudo controlava e a quem todos obedeciam... até os privados.
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