quinta-feira, 19 de março de 2020

A Segurança Africana e o impacto das interposições externas: a região do Sahel



Recentemente, o Presidente João Lourenço, no seu discurso na 33ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, afirmava que, em África, só poderá haver desenvolvimento, quando houver Paz.

De facto, um dos maiores problemas por que passa o nosso Continente é a persistente falta de Paz, nomeadamente, na região do Sahel, no Golfo da Guiné, na região dos Grandes Lagos e no Corno de África. Na realidade, problemas e regiões há muito (re)conhecidos, com particular destaque para o terrorismo e para a instabilidades social.

Enquanto persistir o terrorismo, com particular destaque para o de base jihadista, dificilmente haverá desenvolvimento e, por consequência, a instabilidade social estará sempre presente.

Nessa mesma Cimeira, o Presidente João Lourenço, fez saber que está disponível para propor a realização de uma Cimeira extraordinária, onde o ponto único, será tentar encontrar soluções para fazer frente ao terrorismo crescente nestas referidas regiões.

Quero recordar que o terrorismo tanto pode ter base insurgente interna (ou regional), religiosa ou política, mas também pode estar, directa ou indirectamente relacionado com interferências externas; ainda que, nestes casos e na maioria das vezes, as instabilidades e a falta de segurança sejam devido às influências religiosas prosélitas. A região do Sahel é a prova dessa instabilidade e como a Segurança Africana tem de ser devidamente analisada e trabalhada, pelo que esta proposta de João Lourenço pode ser oportuna.

Na realidade esta proposta de João Lourenço, vem ao encontro de um texto que, em Outubro passado, apresentei na “Primeira Conferência Internacional de Angolanística”, denominado «Angola nos caminhos do centro-globalismo africano» e onde afirmava que sendo o continente africano uma região continental que se “tem se apresentado aos olhos de muitos analistas e académicos como uma plataforma onde o globalismo político e securitário mais se tem feito sentir”, com alguns países a contribuírem para essa imagem, e onde Angola, desde há muito, “que mais contribui para tornar África nessa plataforma temática, quer a nível continental, quer nas relações com as principais potências políticas e económicas Mundiais”. Mas o impacto destes países, não tem sido suficiente para, em paralelo, tornar o Continente numa plataforma segura com uma estratégia de Segurança firme e consolidada, apesar do trabalho, quase consistente, que a União Africana (UA), em geral, e muitos centros académicos e militares, em particular, têm desenvolvido no âmbito da Arquitectura de Paz e Segurança Africana (APSA).

Realce-se para as declarações do Comissário para a Paz e Segurança da UA, Smail Chergui, ao anunciar que o Fundo de Paz e Segurança da organização iria ser financiado, até ao final do ano, em 400 milhões de USD dólares para as actividades de Paz e Segurança – operações de Paz – no Continente. Este montante do Fundo será participado pelos 50 Estados-membros da UA, com 131 milhões de dólares, e o restante repartidos pela União Europeia e Nações Unidas, que, juntamente com 5 personalidades africanas, das 5 regiões sub-continentais, irão administrar este Fundo, num Conselho de Administração, com um mandato de 5 anos e nomeados pelo Presidente da Comissão da UA.

A prova dessa incapacidade está nas instabilidades permanentes na região atrás indicadas e que procurarei escalpelizar um pouco, tendo em conta o espaço que, naturalmente, não é tão “disponível” num jornal generalista. Por esse facto, neste pequeno ensaio, irei abordar, ainda que sintecticamente, a região do Sahel.

No Sahel, uma faixa de cerca de 5000 km de extensão e de cerca de 1000 km de largura – engloba países como Senegal, Mauritânia, Níger, Nigéria, Mali, Burkina Faso, Chade, Sudão, Eritreia, com natural extensão à República Centro-Africana, ao Sudão do Sul, Etiópia e Somália – a preocupação maior além da persistente instabilidade política em certos países, é o cada vez maior impacto do terrorismo de âmbito religioso. Ainda que, em algumas áreas a par do terrorismo religioso, exista um terrorismo étnico.

Alemanha demorou demais para reagir ao coronavírus


Em relação a outros países europeus, o governo alemão tem sido lento na resposta à pandemia. Merkel desperdiçou uma oportunidade crucial e demonstrou falta de liderança em meio à crise, opina Cristina Burack.

Quando a pandemia do coronavírus terminar, pois é isso que vai acontecer em algum momento, me pergunto se os países olharão para trás e calcularão quantas mortes poderiam ter sido evitadas. Como poderiam ter agido de foma mais eficiente e eficaz? Quantos avôs e avós poderiam ter sido salvos? Mães e pais? Seres queridos com problemas cardíacos ou asma?

Em especial, eu me pergunto o que a Alemanha vai pensar. É natural, porque eu vivo aqui. Mas também o faço por o país ter deixado uma janela de oportunidade se fechar. A chanceler federal Angela Merkel demonstrou falta de liderança em sua reação ao surto viral. A Alemanha pôde ver o aterrador avanço do vírus em Estados europeus vizinhos, avaliar seu próprio futuro, mas desperdiçou a preciosa chance de evitar acabar na mesma situação.

Até agora, o país teve muito menos mortes por coronavírus do que seus vizinhos. Contudo cientistas alertaram que pode haver muito mais infecções do que os cerca de 10 mil casos atualmente confirmados, devido à defasagem de 14 dias até o aparecimento dos sintomas. O consenso é que os números vão subir.

Embora tenha um sistema de saúde robusto, a Alemanha corre o mesmo risco que a Itália enfrentou, de ter seus serviços médicos sobrecarregados por um volume de casos desencadeado por um desaceleramento inadequado da contaminação. Não é um bom sinal o atropelamento para se preparar e estar organizado que já se viu nos hospitais e centros de exames alemães, com as cifras ainda relativamente baixas.

China | ZERO TRANSMISSÕES LOCAIS DO CORONAVÍRUS


Autoridades da cidade de Wuhan, epicentro do vírus, não computaram novas infecções pela primeira vez desde o início do surto. Notícia oferece esperança ao resto do mundo e talvez lições sobre como combater a pandemia.

Autoridades de Wuhan, epicentro do coronavírus Sars-Cov-2 na China, anunciaram nesta quinta-feira (19/03) que, pela primeira vez desde o início do surto, a cidade chinesa não registou novas infecções.

Foi em Wuhan que o novo vírus foi detectado pela primeira vez, em dezembro, e milhares de pessoas chegaram a ser hospitalizadas ou morreram em instituições de saúde construídas em tempo recorde. Na mês passado, a China, país mais afetado pelo patógeno causador da doença respiratória covid-19, relatou milhares de novos casos a cada dia.

Apesar de computar 34 novos casos na quinta, autoridades chinesas afirmaram que estes são todos importados do exterior. "Hoje vimos o crepúsculo [da crise] após tantos dias de duros esforços", afirmou Jiao Yahui, inspetor-chefe da Comissão Nacional de Saúde. No dia anterior, o país tinha registado 13 casos. Apesar de não computar novos casos em Wuhan, a China relatou oito mortes relacionadas ao coronavírus.

Atualmente, o país tem mais de 81 mil casos confirmados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A notícia do número 0 oferece uma rara esperança ao resto do mundo que luta contra o vírus, e talvez uma lição sobre como combatê-lo.

Segundo Yahui, o fato de não haver novas infecções pelo Sars-Cov-2 na China após diminuição gradual de novas confirmações significa que as medidas de controle e tratamento adotadas pelo país estão funcionando bem. Wuhan foi completamente isolada em janeiro. Autoridades pensam em relaxar as restrições, mas apenas na província de Hubei, onde a maioria dos postos de controle deverão ser retirados. Wuhan continuará em quarentena, e apenas as pessoas com permissão especial poderão entrar ou sair da cidade.

De acordo com especialistas, a quarentena compulsória só será cancelada se não houver registo de novos casos por duas semanas seguidas. A estimativa é de que isso possa acontecer no próximo mês.

VÍRUS: TUDO O QUE É SÓLIDO DESMANCHA-SE NO AR


Desde que o neoliberalismo se impôs, o mundo vive em crise permanente. Para que avancem as desigualdades e a devastação da natureza, ela não pode ser resolvida. A pandemia torna-a aguda. Mas – paradoxo! – mostra que ela não é inevitável


Existe um debate nas ciências sociais sobre se a verdade e a qualidade das instituições de uma dada sociedade se conhecem melhor em situações de normalidade, de funcionamento corrente, ou em situações excepcionais, de crise. Talvez os dois tipos de situação sejam igualmente indutores de conhecimento, mas certamente permitem-nos conhecer ou relevar coisas diferentes. Que potenciais conhecimentos decorrem da pandemia do coronavírus?

A normalidade da exceção. A atual pandemia não é uma situação de crise claramente contraposta a uma situação de normalidade. Desde a década de 1980 – à medida que o neoliberalismo se foi impondo como a versão dominante do capitalismo e este se foi sujeitando mais e mais à lógica do setor financeiro – o mundo tem vivido em permanente estado de crise. Uma situação duplamente anómala. Por um lado, a ideia de crise permanente é um oximoro, já que, no sentido etimológico, a crise é por natureza excepcional e passageira e constitui a oportunidade para ser superada e dar origem a um melhor estado de coisas. Por outro lado, quando a crise é passageira, ela deve ser explicada pelos fatores que a provocam. Mas quando se torna permanente, a crise transforma-se na causa que explica tudo o resto. Por exemplo, a crise financeira permanente é utilizada para explicar os cortes nas políticas sociais (saúde, educação, previdência social) ou a degradação dos salários. E assim impede que se pergunte pelas verdadeiras causas da crise. O objetivo da crise permanente é não ser resolvida. Mas qual é o objetivo deste objetivo? Basicamente, são dois os objetivos: legitimar a escandalosa concentração de riqueza e impedir que se tomem medidas eficazes para impedir a iminente catástrofe ecológica. Assim temos vivido nos últimos quarenta anos. Por isso, a pandemia vem apenas agravar uma situação de crise a que a população mundial tem vindo a ser sujeita. Daí a sua específica periculosidade. Em muitos países, os serviços públicos de saúde estavam há dez ou vinte anos mais bem preparados para enfrentar a pandemia do que estão hoje.

785 casos de covid-19 em Portugal. Só 15% dos doentes estão hospitalizados


Nas últimas 24 horas, morreu mais uma pessoa vitima do novo coronavírus, na região centro. A atualização é feita pela Direção-Geral da Saúde (DGS), no boletim epidemiológico, desta quinta-feira.

Portugal está em estado de emergência, pela primeira vez em democracia, por causa da propagação do novo coronavírus. O número de portugueses infetados continua a crescer de dia para dia. Nas últimas 24 horas, foram notificados mais 143 casos de covid-19 no país, elevando assim a contagem total para 785 infetados, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS), desta quinta-feira (19 de março). Há três pessoas recuperadas e três mortes, uma delas registada nas últimas horas, na região centro do país.

A maioria dos doentes apresentam sintomas ligeiros, por isso, estão a ser acompanhados a partir de casa pelo seu médico de família ou por equipas de hospitalização domiciliária. Estão internadas por causa do novo coronavírus, neste momento, 89 pessoas. Sendo que 20 encontram-se nos cuidados intensivos. "Em números redondos, estão internados cerca de 15% [dos doentes]. Isto quer dizer que a maior parte dos cuidados podem ser feitos no domicilio. Estamos a passar gradualmente dos cuidados nos hospitais de referência par outro modelo de atendimento em casa. Vamos confiar neste mecanismo. E se alguma destas pessoas agravar os sintomas irá para os cuidados de saúde", explicou a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, em conferência de imprensa, esta quinta-feira às 12:30.

Os modelos internacionais, já antes citados pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, apontam para que 80% dos infetados possam ficar em casa a recuperar, 15% poderão estar em enfermarias gerais e apenas 5% inspirarão maiores cuidados e precisarão ter de ser internados nos cuidados intensivos. "A ideia é proteger os profissionais de saúde - são um ativo importante - e impedir que contagiem outras pessoas", indicou Graça Freitas.

Há ainda 488 pessoas a aguardar o resultado das análises laboratoriais e 8091 contactos em vigilância pelas autoridades de saúde. Estão ativas 24 cadeias de transmissão no país, tal como ontem, a maioria com ligações ao estrangeiro.

A região mais afetada do país continua a ser o Porto (381 casos), depois Lisboa (278). Seguem-se o centro (86), o Algarve (25), os Açores (3) e o Alentejo (2). Na Madeira, há uma pessoa infetada, uma turista holandesa. Estão também a ser acompanhados no país nove cidadãos estrangeiros.

"Os grupos de risco têm mesmo de ficar em casa"

Ainda durante a conferência de imprensa desta manhã, o Secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales pediu a todos as pessoas que fazem parte de grupos de risco (maiores de 75 anos, doentes oncológicos, crónicos, qualquer pessoa com o sistema imunitário com as defesas em baixo) para redobrarem os cuidados, garantindo que o Governo está a desenvolver mecanismo de apoio para auxiliar estas pessoas em isolamento, caso seja necessário.

"Os cuidados de saúde primários estão a reorganizar-se para apoiar doentes de covid-19 e para dar suporte a outros doentes em casa", disse o Secretário de Estado da Saúde. Segundo o membro do Governo, os médicos de família estão a contactar os doentes que tinham consultas agendadas para os próximos tempos para reavaliar cada situação. Se tiver duvidas deverá ligar para o serviço de cuidados primários da sua área de residência, em vez de se deslocar à unidade de saúde.

"Temos as ferramentas para individualmente darmos o nosso contributo para coletivamente travarmos esta pandemia", afirmou ainda António Lacerda Sales, numa nota de esperança. "Os profissionais de saúde continuam a ser a nossa linha da frente no combate, mas contamos com cada português na sua trincheira", acrescentou.

Escola Nacional de Saúde estima 7 casos por cada 100 em Itália

Um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), divulgado esta quinta-feira, estima que, em média, por cada 100 casos de Covid-19 em Itália - o país mais afetado na Europa - Portugal terá sete infetados, apontando para um cenário grave em território nacional. A análise, com uma fiabilidade que abrange apenas os próximos dias, foi baseada em modelos matemáticos.

"Atualmente, a análise desses modelos diz-nos que todas as curvas, na fase em que nos encontramos e independentemente do país analisado, são exponenciais (ou similares), ou seja, têm uma evolução crescente acentuada. A curva portuguesa segue o mesmo trajeto, à sua escala, comparando com os períodos análogos dos outros países", sublinhou a investigadora e diretora da ENSP, Carla Nunes, em declarações à agência Lusa. "Analisando, por exemplo, o 17.º dia de todas as curvas sabemos que, por cada 100 casos em Itália, esperamos sete em Portugal, por cada 100 no Reino Unido estimamos 130 e por cada 100 em Espanha esperamos 30 novos casos em Portugal", precisou.

Segundo a especialista em Epidemiologia e Estatística, Portugal tomou medidas de promoção do isolamento social mais cedo do que outros países. Desde o início desta semana, que todas as escolas foram encerradas, foi aconselhado o teletrabalho, sempre que possível, e esta quarta-feira o Presidente da República decretou estado de emergência.

Portugal em estado de emergência

Depois de ter ouvido o Conselho de Estado, de ter reunido o apoio do Governo e da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa decretou, esta quarta-feira, o estado de emergência por uma "situação de calamidade pública" causada pela pandemia do covid-19. Abrange todo o território nacional e durará quinze dias, prorrogáveis se for necessário. "Esta é uma decisão excecional para um tempo excecional", referiu o Presidente da República.

Assim, passa a ser possível suspender vários direitos - sendo que estão salvaguardados os essenciais, como o direito à vida ou à liberdade de expressão. Está previsto que as pessoas se continuem a deslocar para o trabalho, sempre que não for possível fazê-lo em casa, bem como ir ao supermercado, à farmácia. Mantendo sempre a distância social (no mínimo um metro).

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou ainda que esta pandemia "vai ser mais intensa e durar no tempo", constituindo um desafio ao Serviço Nacional de Saúde, à nossa maneira de viver e à nossa economia, em quase todas as áreas de atividade. "Esta é uma guerra! Porque é de uma guerra que se trata", continuou.

Nas últimas 24 horas, os países com o maior número de casos confirmados e de mortes voltaram a ser, por ordem, Itália, Irão e Espanha. O covid-19 infetou 225 253 pessoas em todo o mundo. Destas, 85 826 já recuperam. Morreram 9 276 cidadãos.

Recomendações da DGS

Para que seja possível conter ao máximo a propagação da pandemia, a Direção-Geral da Saúde continua a reforçar os conselhos relativos à prevenção: evite o contacto próximo com pessoas que demonstrem sinais de infeção respiratória aguda, lave frequentemente as mãos (pelo menos durante 20 segundos), mantenha a distância em relação aos animais e tape o nariz e a boca quando espirrar ou tossir (de seguida lave novamente as mãos).

Em caso de apresentar sintomas coincidentes com os do vírus (febre, tosse, dificuldade respiratória), as autoridades de saúde pede que não se desloque às urgências, mas sim para ligar para a Linha SNS 24 (808 24 24 24).

Rita Rato Nunes | Diário de Notícias | Imagem: Boletim epidemiológico do dia 19 de março. © DGS

Portugal | BRANDOS COSTUMES, BRANDO ESTADO DE EMERGÊNCIA


O diretor-adjunto do Expresso, Miguel Cadete, dá título que é mais um alerta para a situação atual em Portugal, afinal para toda a humanidade em todo o mundo. Escreve ele que “Entrámos num túnel e não sabemos onde vai dar”. É uma verdade que devemos ter presente e cuidar de sermos muito cautelosos no caminho para o dia em que todos no mundo nos livremos do Covid 19 planetáriamente. Mais incisivo que ele foi um elemento do governo Bolsonaro que declarou alto e em bom som que as famílias se devem preparar porque vão morrer familiares a quase todos os brasileiros… Assim mesmo, com esta exata interpretação.

Em Portugal não vai ser muito diferente, apesar de estar a tomar medidas para minimizar a hecatombe. Medidas que em opinião de muitos portugueses pecam por tardias… Pois é. A economia é que manda. Afinal até dá jeito morrerem os mais idosos, que descontaram durante uma vida inteirinha de trabalho e foram construindo o país, a liberdade e a democracia, suportaram durante treze anos uma guerra colonial que devastou imensos jovens – tantos são os que ainda repousam em paz em cemitérios das ex-colónias, ficaram lá. Porém, agora, são trastes velhos como os trapos. São muitos, vergados ao economicismo, a pensar na libertação desse peso, apesar de já não estarem ainda vivos tantos quanto isso e na maioria receberem reformas de miséria decretadas quase por esmola pelos atuais políticos que detêm os poderes.

Nos dias que correm a guerra é outra. Falta saber se foram senhores da guerra que libertaram o vírus que nos consome um pouco por todo o mundo. Que ele vem armado para abater muitos milhares de pessoas sabemos e experienciamos. Compete-nos agir e reagir ao ataque, em prol de melhores dias. De dias sem medo de sermos surpreendidos nas emboscadas levadas a cabo pelo inimigo, o coronavíros/covid 19.

O estado de emergência em Portugal foi decretado ontem. Com atraso.  Mais vale tarde que nunca. Contudo perdeu-se a janela de oportunidade de defesa efetiva, que nos pouparia recursos e vidas, quando tivemos conhecimento do que estava a ocorrer em Itália. Perante um inimigo como o coronavírus não podem existir liberdades que permitam o seu avanço. As pessoas serem livres de ir fazer férias de carnaval para Itália não é democracia mas sim permitir-lhes que contraiam o vírus e regressem com ele, contaminando em Portugal quem cumpria as suas vidas de trabalho e de lazer com toda a normalidade. Quando se refere Itália – porque era o mais flagrante – também o mesmo cabe na referência a Espanha e outros países que sabia já com casos de contaminação. Quer dizer, com o pretexto da democracia deixam-se os cidadãos caminharem para a enfermidade ou o matadouro? Que raio de liberdade e democracia é essa? Por essas e outras, graças à liberdade, muitos mais vão ficar contaminados e morrerão às centenas.

Conclui-se que as medidas agora impostas já deviam ter sido decretadas há cerca de dois meses. Prevenir, para não ter que remediar. Coisa que Portugal não fez, coisa que a União Europeia não fez. A gravidade da situação não foi corretamente exposta aos portugueses. Ainda agora, já com o estado de emergência em vigor, vimos cafés e restaurantes repletos de pessoas em alguns locais de Lisboa… É um estado de emergência democrático. Matem-se se quiserem. Contaminem-se e contaminem os vossos concidadãos em liberdade, graças à democracia. Democracia não é isso, e nem assim é justa. Não foi para isso que em 25 de Abril de 1974 reconquistámos as liberdades e a então democracia – que aos supetões e pé ante pé se vai deteriorando. Brandos costumes, brando estado de emergência.

É evidente que perante a situação atual vimos o governo e o PR a reagir ao atacante, um inimigo invisível que mata que se farta. Mas isso só acontece com mais alguma intensidade porque anteriormente, no momento certo, há dois meses atrás, não agiram. Se agissem quando deviam, de modo eficiente e radical, corajoso, não iam beliscar a democracia mas sim salvá-la e salvar-nos da doença, salvando muitas vidas que se vão perder. Possibilitaria também salvar a economia deste ataque que vai arrasar o que foi recuperado com muita dificuldade e sacrifício aquando dos roubos nos bancos pelos banqueiros e alta finança portuguesa, da União Europeia, da união global dos criminosos negreiros impunes que constituem os tais 1% ou um pouco mais da lista da Forbes.

A prosa vai longa. Não devia. O propósito era cumprir a abertura habitual para o Expresso Curto. Aconteceu. O sentir e a tendência para a verdade imbuíram o teclado na fuga para os desabafos, talvez psicoterapêuticos.

Basta o que basta. Não se interprete daqui que está tudo mal, que não devemos reconhecer e agradecer aos combatentes da saúde pelo seu esforço a salvar vidas. Também aos que por profissão ou voluntariado estão na linha da frente deste combate contra o vírus e a salvar vidas, não esquecendo as muitas horas suplementares que os dos poderes decisórios dispensam com afinco. Mas, então, porque foram tão titubeantes inicialmente? Alguns mesmo muito cobardes e outros escandalosamente displicentes. Assim, agora, por isso tudo, estamos metidos numa enorme camisa de onze varas, num grande sarilho. Que nos vai levar a muita desgraça e mortandade. Evidentemente que sobreviveremos. Não todos, porque vai ocorrer muita mortandade.

Bom dia. Cabeça erguida no combate de cada um em proteger-se, protegendo os seus iguais, que estão a seu lado ou que com eles se cruzam a cerca de dois metros ou que até mudam de passeio nas ruas quase desertas, só habitadas com irresponsáveis, inconscientes ou pelos que impreterivelmente têm de as usar porque estão a combater o inimigo em prol da proteção e salvação de outros. O reconhecimento a esses e um grande muito obrigado.

Longo, o que fica para trás. Desculpem. Curto a seguir, apesar de apresentado tarde é a boas horas. Vá nessa. Não dói nada.

MM | PG

Portugal | Restaurantes só “take away”, teletrabalho obrigatório, proteção aos idosos

Lisboa, Rossio, quase deserto
As medidas que vão lançar o estado de emergência

Técnicos da Direção-Geral da Saúde não recomendam, para já, quarentena obrigatória ou recolher obrigatório. Empresas podem trabalhar com restrições. Transportes públicos com mais restrições. Governo ultima listas de estabelecimentos a fechar e de estabelecimentos que têm de permanecer abertos - mas já tem conselhos para a decisão desta quinta-feira. Incluindo para a proteção dos mais frágeis. Já começou o estado de emergência

Quando sair esta quinta-feira de casa terá mais um dia estranho, como têm sido os últimos desta semana, mas não verá ainda os efeitos da declaração do “estado de emergência”. Portugal entrou no estado mais grave à meia-noite deste dia 18 de março de 2020. As medidas mais restritivas só serão aprovadas esta quinta-feira e entrarão depois em vigor. Em cima da mesa do Conselho de Ministros estão recomendações das autoridades de saúde que passam por um acentuar das restrições ao funcionamento de actividades comerciais, mas não a um recolher obrigatório, quarentena obrigatória ou encerramento de empresas, apurou o Expresso.

O executivo irá tomar decisões com base no que aconteceu nos outros países, nomeadamente Espanha e Itália, e com base nas recomendações da Direcção Geral de Saúde que o primeiro-ministro recebeu esta noite. A lista, a que o Expresso teve acesso, recomenda alguns encerramentos e restrições até ao dia 9 de abril, podendo esta lista crescer, ser mudada e reavaliada a cada momento. Mesmo assim, as primeiras medidas a aprovar pelo Governo nesta quinta-feira podem não ficar por aqui.

Aqui ficam alguns pontos que vão ser avaliados esta quinta-feira.

1 - Encerramento de todas as actividades comerciais que impliquem a presença física dos clientes dentro de espaços, com a excepção de supermercados, postos de combustível, farmácias e bancos. Tal como agora, não é proibida a venda à porta.

Neste ponto, apurou o Expresso, será criada uma “lista positiva” de estabelecimentos que têm mesmo de continuar abertos (além dos estabelecimentos recomendados pela DGS, poderão entrar outros como os que garantem comida para os animais) e uma “lista negativa”, de estabelecimentos que têm de fechar. Uma das preocupações em cima da mesa é a manutenção das linhas de distribuição e por isso, a cadeia de distribuição e produção tem de ser assegurada. Aliás, a própria lista da DGS tem medidas de restrição, mas também áreas da sociedade que devem ser asseguradas, onde destaca que é preciso garantir o abastecimento de mercados e o funcionamento “dos serviços dos centros de produção de géneros de primeira necessidade”.

2 - Manutenção de restaurantes e bares, mas apenas na venda para fora ou entregas em casa;

3 - O teletrabalho deixa de ser facultativo e passa a ser obrigatório para todas as funções que puderem ser feitas a partir de casa;

4 - Serviços públicos reduzidos ao essencial;

5 - Encerramento de todas as instituições culturais, bibliotecas, locais de atividades de lazer, incluindo cinemas, teatros, parques de diversões, academias, agremiações, clubes e bares entre outros;

6 - Manter em funcionamento dos órgãos de comunicação social, mas com medidas de distanciamento social;

7 - Diminuição da lotação dos transportes públicos;

A LISTA POSITIVA: O APOIO AOS MAIS VELHOS

Do lado dos serviços a assegurar, as autoridades de saúde recomendam que se olhe para os idosos que estão isolados e para os sem-abrigo. Além disso, a DGS nota que é preciso que se promova o acesso a bens essenciais levados ao domicílio para os grupos de maior risco, nomeadamente para quem tem mais de 65 anos. Aqui, a DGS sugere a cooperação de autarquias e Instituições Particulares de Solidariedade Social.

Ao que o Expresso apurou, o Governo quer ir mais além nas medidas para os mais velhos, criando regras específicas de acesso a bens e serviços em função da idade. O desenho ainda não estava concluído, mas poderia passar por horários especiais para aqueles que estão mais sujeitos ao risco.

Estas são algumas das medidas sobre as quais o Conselho de Ministros se vai debruçar esta quinta-feira de manhã. Uma lista que não é estanque e é moldável à realidade. A intenção de António Costa é no entanto de não parar o país, apesar de agora ter respaldo constitucional com o decreto do estado de emergência para o fazer.

Nas intervenções que fez esta semana, e em especial esta quarta-feira, depois do Conselho de Estado e no plenário na Assembleia da República, o primeiro-ministro quis deixar claro que não quer forçar ou obrigar a uma suspensão de todas as actividades do país, uma vez que os portugueses estão a voluntariamente aderir a uma quarentena que não lhes foi imposta. Disse, por várias vezes, que as medidas serão as “necessárias, adequadas e proporcionais”. Para já o país não fecha apesar de esta quinta-feira cada vez mais portugueses ficarem fechados em casa.

Liliana Valente | Expresso

Vírus pode persistir ativo no ar durante três horas e nas superfícies aguenta-se por três dias


Novas revelações científicas contribuem para que todos adotem comportamentos de higiene e distância social de segurança ainda mais rigorosos.

O novo e altamente contagioso coronavírus, que explodiu numa pandemia global e provoca a doença respiratória chamada Covid-19, pode permanecer viável e infeccioso no ar e nas superfícies muito tempo após a passagem do indivíduo que o transportou e expeliu.

É o que diz um estudo científico divulgado esta semana, a terceira de março de 2020, pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID - National Institute of Allergy and Infectious Diseases), que faz parte dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos da América. O estudo mimetiza a dispersão do vírus depositado por uma pessoa infetada em várias superfícies quotidianas de uma casa e de um hospital, assim como analisa os efeitos derivados de tosses e espirros e do contacto do vírus com objetos e superfícies.

O coronavírus não tem propulsão autónoma, como sabemos, "o vírus não voa; é transportado", como explicara ao JN o pneumologista Filipe Froes.

Mas agora sabermos cientificamente que o microrganismo infeccioso pode permanecer viável, isto é, não degradado e capaz de infetar, em partículas no ar até cerca de três horas. É o que diz esse estudo do NIAID, ainda que a situação só pareça aplicar-se a procedimentos invasivos, e realizados em ambiente hospitalar, às vias respiratórias, isto é, ao nariz e à boca, dos doentes.

O médico especialista Filipe Froes também esclareceu o assunto há dias à RTP: "O vírus fica em suspensão no ar alguns minutos. Mas a transmissão produz-se quando são realizados procedimentos invasivos nas vias aéreas do doente - nomeadamente intubação, broncofibroscopia [exame com endoscópio a infeções brônquicas e pulmonares, por exemplo] ou outro tipo de manipulação em ambiente hospitalar, como aspiração de secreções".

O pneumologista diz ainda: "O doente, ao perder a capacidade de filtro do nariz e da boca, e quando se lhe provoca uma aerossolização [pulverização] maior de partículas, essas partículas, que são ínfimas, ficam paradas no ar. Mas essa disseminação em via aérea só acontece quando há procedimentos invasivos às vias dos doentes em ambiente hospitalar", garante Filipe Froes.

Às 14.30 horas desta quarta-feira, o número mundial de pessoas infetadas era de 204.251 e o total de mortos ascendia aos 8.246. As pessoas infetadas que recuperaram da doença Covid-19 são agora 82.091.

Os cientistas do instituto americano investigaram, de acordo com o relatório já publicado online pelo "New England Journal of Medicine", por quanto tempo o SARS-CoV-2 permaneceu infeccioso nas superfícies. Os testes mostram que, quando o vírus é transportado pelas gotículas expelidas quando alguém tosse ou espirra, ele permanece viável ou capaz de infetar pessoas pelo menos durante três horas.

Vírus fica ativo em plásticos por três dias

"Dos estudos ambientais, retém-se, por ora, a viabilidade do vírus em superfícies lisas (plástico, metal) até 72 horas", havia dito ao JN a pneumologista Raquel Duarte, dos Hospital de Gaia/Espinho. "Estas serão as melhores condições para o SARS-CoV-2, dado que vírus respiratórios em geral não se dão bem com superfícies que absorvam água e terão menor viabilidade noutras circunstâncias".

Em superfícies de plástico e aço inoxidável, o cenário é potencialmente mais perigoso: vírus viáveis foram detetados ao fim de 72 horas, isto é, três dias inteiros.

No papel e no papelão, o vírus não é viável 24 horas após ter sido depositado.

No cobre, assim como em outras ligas metálicas como as que constituem as moedas, foram necessárias quatro horas para o vírus ser inativado e considerado incapaz de infetar uma pessoa.

Vírus enfraquece às partes

Em termos de meia-vida, ou seja, quando uma percentagem do vírus morreu mas outras continuam ativas, a equipa de investigação do NIAID descobriu que leva cerca de 66 minutos para metade das partículas virais perderem a função se estiverem depositadas numa gotícula. Isto significa que depois de mais uma hora e seis minutos, três quartos das partículas virais serão essencialmente inativadas, mas 25% ainda serão viáveis e capazes de provocar doença.

José Miguel Gaspar | Jornal de Notícias

Portugal | Juntos nesta trincheira


Jornal de Notícias | editorial

É natural que nos sintamos atordoados. É natural que nos sintamos assustados. É natural porque a nossa vida, a de cada um e a do país, sofreu um abalo extraordinariamente duro.

Em pouco mais de um mês, fomos confrontados com a necessidade de alterarmos a forma como nos relacionamos, como nos deslocamos, como comunicamos, como nos alimentamos e como trabalhamos. Não há atenuantes que suavizem o que nos espera. Vamos ter de ser pacientes. Vamos, sobretudo, ter de enfrentar aquele que porventura será o maior desafio geracional de Portugal com um abnegado sentido patriótico e um tremendo dever de solidariedade.

Como tão apropriadamente o caracterizou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na comunicação solene que fez ao país para explicar os contornos da declaração do estado de emergência, estamos no meio de uma guerra. Não há barricadas físicas nem rajadas de tiros, mas os efeitos destruidores desta pandemia serão prolongados no tempo e transversais no alcance. O pico está previsto para meados de abril e o regresso a alguma normalidade não acontecerá, na melhor das hipóteses, antes do final de maio, de acordo com as previsões do primeiro-ministro António Costa.

A prioridade deve ser conter o surto e mitigar os seus efeitos, reforçando, cumulativamente, os cuidados assistenciais e de saúde, num Serviço Nacional de Saúde que não é à prova de pandemias, mas que conta com profissionais exemplares. Do Estado podemos - e devemos - esperar muito, mas não podemos esperar milagres. Ainda assim, e num quadro de grandes restrições na circulação e na atividade económica, é fundamental que sobretudo os mais desfavorecidos, os idosos e os doentes - no fundo, todos aqueles que não possuem uma retaguarda - estejam na linha da frente das prioridades em matéria de apoios sociais públicos.

Portugal tem de ser resiliente, mas tem antes de mais de ser solidário. Todos são chamados a desembainhar a espada contra este vírus maldito. O país precisa dos que engrossam as fileiras de setores-chave que continuarão a sua atividade, dos grandes grupos económicos e dos bancos que não podem abster-se da sua responsabilidade social, das pequenas e médias empresas que são quem, na verdade, faz andar o motor da economia. Manter, por isso, no meio deste turbilhão, a possível normalidade económica é fundamental para aliviar ao máximo os impactos de um cenário pós-crise. Ajudar quem mantém empregos para ajudar quem deles depende é, para além da contenção sanitária da pandemia e da gestão equilibrada das restrições a algumas das nossas liberdades individuais, o maior desafio que temos pela frente.

Porque não há outra forma de vencer esta guerra que não seja deste modo: juntos, numa trincheira invisível a disparar coragem sobre um inimigo que não tem rosto.

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