Jornal de Notícias | editorial
É natural que nos sintamos
atordoados. É natural que nos sintamos assustados. É natural porque a nossa
vida, a de cada um e a do país, sofreu um abalo extraordinariamente duro.
Em pouco mais de um mês, fomos
confrontados com a necessidade de alterarmos a forma como nos relacionamos,
como nos deslocamos, como comunicamos, como nos alimentamos e como trabalhamos.
Não há atenuantes que suavizem o que nos espera. Vamos ter de ser pacientes.
Vamos, sobretudo, ter de enfrentar aquele que porventura será o maior desafio
geracional de Portugal com um abnegado sentido patriótico e um tremendo dever
de solidariedade.
Como tão apropriadamente o
caracterizou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na comunicação
solene que fez ao país para explicar os contornos da declaração do estado de
emergência, estamos no meio de uma guerra. Não há barricadas físicas nem
rajadas de tiros, mas os efeitos destruidores desta pandemia serão prolongados
no tempo e transversais no alcance. O pico está previsto para meados de abril e
o regresso a alguma normalidade não acontecerá, na melhor das hipóteses, antes
do final de maio, de acordo com as previsões do primeiro-ministro António
Costa.
A prioridade deve ser conter o
surto e mitigar os seus efeitos, reforçando, cumulativamente, os cuidados
assistenciais e de saúde, num Serviço Nacional de Saúde que não é à prova de
pandemias, mas que conta com profissionais exemplares. Do Estado podemos - e
devemos - esperar muito, mas não podemos esperar milagres. Ainda assim, e num
quadro de grandes restrições na circulação e na atividade económica, é
fundamental que sobretudo os mais desfavorecidos, os idosos e os doentes - no
fundo, todos aqueles que não possuem uma retaguarda - estejam na linha da
frente das prioridades em matéria de apoios sociais públicos.
Portugal tem de ser resiliente,
mas tem antes de mais de ser solidário. Todos são chamados a desembainhar a
espada contra este vírus maldito. O país precisa dos que engrossam as fileiras
de setores-chave que continuarão a sua atividade, dos grandes grupos económicos
e dos bancos que não podem abster-se da sua responsabilidade social, das
pequenas e médias empresas que são quem, na verdade, faz andar o motor da
economia. Manter, por isso, no meio deste turbilhão, a possível normalidade económica
é fundamental para aliviar ao máximo os impactos de um cenário pós-crise.
Ajudar quem mantém empregos para ajudar quem deles depende é, para além da
contenção sanitária da pandemia e da gestão equilibrada das restrições a
algumas das nossas liberdades individuais, o maior desafio que temos pela
frente.
Porque não há outra forma de
vencer esta guerra que não seja deste modo: juntos, numa trincheira invisível a
disparar coragem sobre um inimigo que não tem rosto.
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