sexta-feira, 19 de junho de 2020

JULIAN ASSANGE NO LIMBO


Os bons jornalistas defendem-no, os jornalistas medíocres insultam-no

Patrick Cockburn [*]

Julian Assange dirigia a WikiLeaks em 2010 quando divulgou um vasto conjunto de documentos do governo estado-unidense que revelavam pormenores de operações políticas, militares e diplomáticas americanas. Com extractos publicados pelo New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e El País, o arquivo permitia uma visão mais profunda das actuações internacionais do Estado dos EUA do que qualquer coisa já vista desde que Daniel Ellsberg deu ao media os Pentagon Papers , em 1971. Mas hoje Ellsberg é celebrado como o santo patrono dos denunciantes ao passo que Assange está trancafiado numa cela na prisão de máxima segurança de Belmarsh , de Londres, durante 23 horas e meia por dia. Nesta fase mais recente dos dez anos de perseguição de Assange pelas autoridades americanas, ele está a combater a extradição para os EUA. Audiências em tribunal para determinar se o pedido de extradição será concedido foram adiadas até Setembro pela pandemia do Covid-19. Nos EUA ele enfrenta uma acusação de hacking em computadores e 17 alegações sob Lei de Espionagem de 1917 . Se for condenado, o resultado poderia ser uma sentença de prisão de 175 anos.

Eu estava em Cabul quando pela primeira vez ouvi falar acerca das revelações da WikiLeaks, as quais confirmava muito do que eu e outros repórteres suspeitavam, ou sabiam mas não podiam provar, acerca das actividades dos EUA no Afeganistão e no Iraque. O tesouro era imenso: cerca de 251.287 telegramas diplomáticos, mais de 400 mil relatórios classificados do exército da Guerra do Iraque e 90 mil da guerra no Afeganistão. Ao reler estes documentos agora fico mais uma vez impressionado pela tortuosa prosa militar-burocrática, com seus acrónimos sinistros e desumanizantes. Matar pessoas é mencionado como um EOF (Escalation of Force), algo que acontecia frequentemente em postos de controle quando soldados nervosos dos EUA ordenavam a parar condutores iraquianos ou faziam complexos sinais de mão que ninguém entendia. O que isto podia significar para iraquianos é ilustrado por breves relatórios militares tais como um intitulado "Escalation of Force by 3/8 NE Fallujah: I CIV KIA, 4 CIV WIA". Descodificado, ele descreve o momento em que uma mulher num carro foi morta e o seu marido e três filhas feridos num posto de controle nos arrabaldes de Faluja, 64 quilómetros a oeste de Bagdad. O soldado em serviço dos EUA abriu fogo porque ele foi "incapaz de determinar os ocupantes do veículo devido à reflexão do sol vinda do para-brisas". Um outro relatório assinala o momento que soldados dos EUA dispararam mortalmente sobre um homem que estava "a rastejar por trás da sua posição de franco-atirador (sniper) ", só para descobrir depois que ele era o intérprete da sua própria unidade.

QUEM TENTA AMEAÇAR A DEMOCRACIA NO BRASIL


Setores das PMs, a partir de seus comandos, flertam com o bolsonarismo. Ultradireitistas de “clube de tiro” tentam formar milícias. Presidente instala militares em 3 mil cargos federais. É preciso compreender — e enfrentar — riscos autoritários

Almir Felitte | Outras Palavras

É verdade que, desde que a direita não aceitou a derrota nas urnas em 2014, falar em democracia é complicado no país. Mais verdade ainda é que já vivemos sob golpe desde que Dilma foi tirada da Presidência num processo de impeachment juridicamente capenga. Golpe que se aprofundou quando as autoridades brasileiras resolveram ignorar todo tipo de ilegalidade cometida nas eleições de 2018 para favorecer a vitória de Bolsonaro.

Porém, desde o fim da Ditadura Militar, nunca se ouviu tanto sobre a possibilidade das armas tomarem de vez o poder no Brasil quanto nas últimas semanas. Fato é que já virou tema diário, inclusive na grande imprensa, as discussões sobre o risco do país passar desta ditadura envergonhada que vivemos para uma ditadura escancaradamente militar, como a nossa triste história já conhece bem. E, para entender e conter esse risco, observar três grupos políticos diferentes do país é essencial.

Primeiramente, de forma mais óbvia, temos de olhar para as Forças Armadas. Nesse ponto, vale lembrar que Bolsonaro já iniciou seu Governo apontando para a militarização total, com 9 militares no alto escalão do Planalto: ele mesmo e seu vice, General Mourão, além de outros 7 indicados em nível ministerial, quase todos do Exército. Cargos de 2º escalão estratégicos, como na Caixa, nos Correios, na Petrobras ou na FUNAI, também foram ocupados por militares e, não bastassem os homens de farda, mesmo civis nomeados no Planalto possuíam ligações militares, como o ex-Ministro da Educação, Velez, por exemplo.

Esta situação só tem se intensificado e, entre tantas confusões que acontecem no centro do Governo, se tornou comum a figura de um membro das Forças Armadas nomeado para fazer o papel de “bombeiro” da situação. O último e mais emblemático caso foi a nomeação do General Pazuello, para o Ministério da Saúde, em plena pandemia. Empossado, o General logo cercou-se de mais 12 militares em cargos importantes na pasta e impôs uma série de medidas de censura aos dados relacionados à crise da covid-19.

POLÍCIA BRASILEIRA É A MAIS DESUMANA, A QUE MAIS MATA


Polícia brasileira é a força pública mais violenta do mundo: mata 5 vezes mais que a dos EUA(Le Monde, França)

Carta Maior apresenta diáriamente o Cliping Internacional por Carlos Eduardo Silveira, esporadicamente aqui apresentado em Página Global – revista sobre o Brasil no mundo. Notícias internacionais sobre o Brasil; Notícias do Mundo; e Artigo. 

1 - NOTÍCIAS INTERNACIONAIS SOBRE O BRASIL

ESTADO POLICIAL. Em São Paulo, PM é preso acusado de assassinar adolescente negro. O policial militar Adriano Fernandes de Campos foi preso em São Paulo acusado de assassinar Guilherme Guedes, um adolescente negro de 15 anos. Guilherme Guedes foi encontrado morto na região da Zona Sul de São Paulo. Junto ao corpo, atingido por dois tiros, havia uma tarjeta com patente e "nome de guerra" de um policial militar. A morte do adolescente deflagrou uma série de protestos na periferia paulistana. Na segunda-feira (15), sete ônibus foram depredados ou queimados na região e no dia seguinte uma passeata percorreu o bairro. (Sputnik News, Rússia) | bit.ly/2zHS42i

ESTADO POLICIAL 2. Matança de um adolescente provoca protestos de vidas negras no Brasil. Quando Rafaela Matos viu helicópteros da polícia em sua favela e ouviu tiros, ela caiu de joelhos e pediu a Deus para proteger seu filho, João Pedro. Então ela ligou para o garoto para garantir que ele estava bem. "Fique calmo", respondeu João Pedro, explicando que estava na casa de sua tia e que estava tudo bem, disse Rafaela à Associated Press. Minutos depois que ele enviou a mensagem, a polícia invadiu e atirou no garoto de 14 anos no estômago com um rifle de alto calibre a curta distância. João Pedro Matos Pinto foi uma das mais de 600 pessoas mortas pela polícia no estado do Rio de Janeiro nos primeiros meses deste ano. Isso é quase o dobro do número de pessoas mortas pela polícia no mesmo período em todo o país, que tem 20 vezes a população do Rio. Como João Pedro, a maioria dos mortos no Rio era negra ou birracial e morava nos bairros mais pobres da cidade, ou favelas. (The New York Times, EUA) | nyti.ms/2BfV4U2

ESTADO POLICIAL 3. A violência policial no Brasil. “São os Estados Unidos à décima potência”. Cerca de 6.000 pessoas foram mortas pela polícia brasileira em 2019, a maioria jovens negros e pobres. Ao contrário de George Floyd, morto durante sua prisão em Minneapolis, nos Estados Unidos, a trágica morte de João Pedro não moveu o planeta. É porque não foi filmado? Ou porque, aqui, é monstruosamente banal? A polícia brasileira é a força pública mais violenta do mundo, com quase 6.000 pessoas mortas em 2019 (cinco vezes mais do que nos Estados Unidos, que tem uma população muito maior). Em 75% dos casos, são homens negros, geralmente jovens e de bairros desfavorecidos. (Le Monde, França) | bit.ly/3fyfTsL

AROEIRA. Associação internacional de cartunistas denuncia intimidações a Aroeira, Laerte e outros brasileiros. A associação internacional Cartooning for Peace, que defende a liberdade de expressão de cartunistas do mundo inteiro, denunciou nesta quarta-feira (17) as “intimidações" que atingem cinco profissionais brasileiros: Renato Aroeira, Laerte, Montanaro, Alberto Benett e Claudio Mor. A entidade também se uniu a uma petição de apoio a Aroeira, contra quem o ministro da Justiça do Brasil, André Luiz Mendonça, ameaçou instaurar inquérito depois da publicação de uma charge do cartunista. (RFI França) | bit.ly/2Clq9Gr

BOLSONARO vs STF. Bolsonaro diz que é hora de acabar com os 'abusos' da Suprema Corte. O presidente de direita do Brasil, Jair Bolsonaro, lançou na quarta-feira um novo ataque ao Supremo Tribunal do país que autorizou investigações em algumas de suas atividades, acusando o tribunal de "cometer abusos" e dizendo que era hora de colocar "tudo em seu devido lugar". O tribunal autorizou investigações sobre as alegações de que Bolsonaro fez nomeações da polícia federal por motivos pessoais. Também está investigando os comícios antidemocráticos, uma investigação que resultou na prisão dos líderes mais militantes e na invasão de residências e escritórios de supostos organizadores. O tribunal está buscando os financiadores do movimento, e também levantando selos em contas bancárias e emitindo intimações para registros de comunicação de legisladores federais perto de Bolsonaro. (The New York Times, EUA; Últimas Notícias, Venezuela) | nyti.ms/2YcDhpJ | bit.ly/3hHcF8c

MILITARES. Bolsonaro testa a lealdade dos militares, consentindo reféns de seu regime. Incapazes de controlar Bolsonaro, os generais lutaram para encontrar seu lugar no poder. No entanto, eles nunca estiveram tão presentes desde a ditadura. (L’Express, França) | bit.ly/3dfbKbq

BOLSONARO. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro garantiu que não permanecerá em silêncio antes do que considera "perseguição de suas ideias" depois que a Justiça ordenou uma série de medidas contra seguidores, parentes e aliados do líder de extrema direita acusados de promover atos não democráticos. Na segunda-feira, a Polícia Federal prendeu seis militantes de um grupo radical acusado de liderar manifestações nas quais são defendidas ideias antidemocráticas como o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal e uma "intervenção militar" que permite ao líder de extrema-direita governar sem vínculos. Na terça-feira, 21 propriedades pertencentes a pessoas próximas a Bolsonaro foram acusadas de financiar grupos radicais que promovem atos antidemocráticos. Da mesma forma, a Suprema Corte autorizou o levantamento do sigilo bancário de onze parlamentares leais ao presidente acusado de financiar e promover tais manifestações. (Últimas Notícias, Venezuela) | bit.ly/37Ev4hn

CHINA. Cargill preocupada com 'insultos' do governo brasileiro ao principal parceiro comercial da China. Insultos de funcionários do governo brasileiro voltados para a China, principal parceiro comercial do país, são prejudiciais aos interesses comerciais do Brasil e "nem muito inteligentes", disse quarta-feira o diretor executivo das operações locais da Cargill. Seu filho Eduardo Bolsonaro, legislador, em março acusou a China de espalhar o novo coronavírus para outros países, e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sugeriu em abril que a doença ajudaria a China a "dominar o mundo" em um post no Twitter que zombava do sotaque chinês. A Cargill é a maior exportadora de soja do Brasil. (The New York Times, EUA) | nyti.ms/37DvDIc

ECONOMIA. Vírus agrava prolongada crise econômica do Brasil. Paralisia política prejudica a resposta a uma pandemia que atingiu duramente o país. (Financial Times, Inglaterra) | on.ft.com/2N6oerv

COVID-19. Mais 1.269 mortos e 32.188 infetados no Brasil. O Brasil registou 1.269 mortos e 32.188 infetados pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, estando ainda a ser investigada uma eventual relação de 4.033 óbitos com a doença, informou hoje o executivo. O país sul-americano totaliza agora 46.510 óbitos e 955.377 casos confirmados desde o início da pandemia, registada oficialmente no Brasil no final de fevereiro. A pandemia de coronavírus continua a se espalhar fortemente no Brasil, onde o governo diz que a situação está sob controle e o desconfinamento continua gradualmente na maioria dos estados. (Diário de Notícias, Portugal; La Presse, Canadá; La Stampa, Itália; La Jornada, México)) | bit.ly/3ddTWxp | bit.ly/3egHtuf | bit.ly/2UYi68O | bit.ly/2UVMPTX

Brasil | Chegou a hora do plano de retirada dos militares


"Se os militares se acomodarem, na inércia de ficar e conferir o que acontece, correm o risco de ver a imagem das Forças Armadas tombar ao lado de cadáveres de milicianos", escreve o jornalista Moisés Mendes

Prenderam Sara Winter e agora pegaram Fabrício Queiroz. São frentes diferentes, mas o roteiro é um só. Se a sequência tiver alguma coerência, os próximos serão os garotos. Que não serão presos, mas podem ter as portas pedaladas numa madrugada fria, antes da primavera.

Teremos cenas terríveis diante dos generais. Os militares, sempre tão cuidadosos, são parte de um governo assustado, que tem como projeto, reavaliado todos os dias, apenas a sobrevivência nas próximas 24 horas.

Como o cerco avança, presume-se que os militares tenham uma estratégia para a retirada. Militares, mesmo não estando em guerra, são obsessivos com planos, até para trocar o pneu do jipe. É a hora da racionalidade levada ao extremo.

Não se trata de traçar e executar uma tática, mas uma estratégia mesmo, algo mais complexo do que a simples saída do governo. É preciso sair bem.

Os militares terão de se afastar não como quem fracassou, mas como quem descobre e admite que estava na trincheira errada com as pessoas erradas.

MEMÓRIA DOIS, DUM SEMPRE ACTUAL

Martinho Júnior, Luanda 

Esta é uma série que recorda algumas intervenções de há 15 ou mais anos e não perdem actualidade, pelo contrário, pois muitas delas não tiveram respostas adequadas e foram mesmo ficando para trás…

As preocupações com questões que se prendem à vida vêm de longe, emergem das aspirações essenciais mais legítimas do próprio movimento de libertação em África e, entre elas, as respostas em relação à educação e à saúde são respostas substantivas fulcrais.

Já em 2005, os impactos da globalização neoliberal em Angola se haviam tornado dominantes, forjando “uma saúde mercenária, em nome e ao serviço do mercado” e desvirtuando por completo essa trilha libertária!...

Lutar contra a SIDA parecia dar mais lucro, mais influência e mais conveniência elitista do que lutar contra o paludismo, uma desprezível doença de pobres!

Em 2018 a Luta contra a Malária em Angola era um plano da USAID, associado à Presidência da República…

Agora que o Presidente João Lourenço lançou o alerta de nada ficar para trás, em tempo premente de pandemia regresso a este assunto com três perguntas tão necessárias quão úteis:

A- Afinal que caminho se deve seguir?...

B- O caminho elitista do capitalismo neoliberal na saúde, tornando-a mercenária, ou aquele caminho que está ávido de lógica com sentido de vida, nutrido do próprio rumo do movimento de libertação em África, do próprio rumo de Angola, da filosofia coerente que deve animar a civilização que tanto falta em pleno século XXI?

C- Que espectro humano se deve associar ao combate à malária e que ponto de vista se deve seguir, o ponto de vista elitista, emanado de mais que reconhecidos interesses ligados aos processos de domínio, ou o da civilização, capaz de mobilizar, a partir de instituições angolanas, num ponto de vista abrangente, participativo e popular, rodos os angolanos, tendo em conta que a malária é uma permanente ameaça nacional e regional?

Segue o texto publicado em Junho de 2005 no “ACTUAL”, nº 424.

Empresas de Isabel dos Santos suspeitas de crimes


As empresas de Isabel dos Santos sediadas em Portugal podem ter cometido vários crimes económico-financeiros naquele país. O Ministério Público português, órgão dirigido pela Procuradoria-Geral da República (PGR), abriu sete inquéritos judiciais para investigar suspeitas da prática de ilícitos criminais.

Em consequência destas diligências judiciais, o Ministério Público fez buscas judiciais, em Lisboa e no Porto, a empresas de Isabel dos Santos e ao escritório do seu advogado português Jorge Brito Pereira.  O juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal, autorizou as buscas judiciais, segundo a imprensa lusa citada, ontem, pelo jornal electrónico “Observador”, confirmadas depois pela PGR. 

“Foram realizadas buscas no âmbito de investigação dirigida pelo DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal) relativa ao universo das sociedades de Isabel dos Santos”, segundo a PGR.  As autoridades realizaram diligências de busca e apreensão de provas documentais nas diversas sedes das sociedades portuguesas de Isabel dos Santos, com destaque para a Fidequity, com escritórios na Avenida da Liberdade, em Lisboa, escreve o “Observador”.

Outras sociedades ligadas à empresária angolana, como a Matter Business Solutions e a Burgate, também são referidas nos mandados de busca. A primeira empresa está ligada a transferências de cerca de 100 milhões de euros da Sonangol para o Dubai, enquanto que a segunda sociedade, segundo o “Jornal Económico”, terá uma conexão com a aquisição de um imóvel na Quinta do Lago, no Algarve.

Conforme revelou a investigação “Malta Files”, em 2017, a Burgate Properties, dona de uma moradia na Quinta do Lago, era detida pela Soho Global Management Solutions, que, por sua vez, era controlada pela Piccadilly Holdings Limited, gerida em Portugal pela Odyssey Investments SGP, da qual eram accionistas cinco advogados portugueses e tinha como sede a sociedade de advogados PLMJ.

O advogado de Isabel dos Santos viu, igualmente, a casa ser alvo de um “pente fino” das autoridades judiciais lusas.  O mesmo se passou com a sociedade de advogados Uría Menéndez Proença de Carvalho, onde Brito Pereira trabalhava, quando o caso “Luanda Leaks” foi revelado pelo semanário “Expresso”. Os responsáveis do escritório manifestaram total colaboração com as autoridades e disponibilizaram toda a documentação requerida pelo procurador Rosário Teixeira.

Ao Jornal Económico, fonte oficial do escritório luso-espanhol confirmou que as buscas tinham exclusivamente a ver com a actividade de Brito Pereira enquanto advogado de Isabel dos Santos e de empresas associadas à empresária angolana.

Portugal | Fazer o que ainda não foi feito


Três anos depois dos incêndios de Pedrógão, nesta data o país ainda não dispõe de um Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais para a floresta portuguesa, definido à altura como missão prioritária.

Duarte Caldeira | AbrilAbril | opinião

Na quarta-feira, 17 de junho, assinalaram-se* três anos após o incêndio que atingiu o concelho de Pedrógão Grande e os concelhos vizinhos, do qual resultou a morte de 64 pessoas, atingiu mais de meio milhar de casas, 264 das quais habitações permanentes, destruiu cerca de 53 mil hectares de território e abrangeu quase meia centena de empresas, afetando empregos de quase 400 pessoas.

Entretanto, em outubro do mesmo ano, uma vaga de incêndios que alastrou por vários concelhos do centro e norte do país ceifou mais 50 vidas e provocou elevados danos materiais e ambientais, acentuando o verdadeiro sobressalto cívico gerado pelo incêndio de Pedrogão Grande, obrigando a que fossem levantadas muitas questões e exigidas medidas.

Na resposta ao desastre o Governo, seguindo uma recomendação da Comissão Técnica Independente criada no âmbito da Assembleia da República, apontou para uma mudança de modelo, designando-o como Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR).

Para dinamizar este processo foi criada uma Estrutura de Missão, com o objetivo de instalar a Agência de Gestão Integrada de Incêndios Rurais (AGIF).

Instalada a AGIF e dotada de todas as condições para cumprir a sua missão, constata-se que nesta data o país ainda não dispõe de um Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, enquanto instrumento de concretização dos objetivos estruturais transformadores da floresta portuguesa, anunciados pelo Governo logo após os incêndios de 2017 e definido como missão prioritária da referida agência.

Numa avaliação preliminar do caminho percorrido nos últimos três anos, conclui-se que embora alguns passos tenham sido dados no sentido da efetiva concretização da ambicionada nova e mais resiliente floresta portuguesa, estamos ainda na dúvida quanto ao que já foi feito, bem como ao que falta fazer.

Deste modo e porque a transformação estrutural da floresta demorará seguramente muitos anos a realizar, cabe ao combate assumir a linha da frente na defesa da floresta que temos, bem como das pessoas que a usufruem ou dela retiram o seu sustento.

Tal como refere o Observatório Técnico Independente da Assembleia da República, numa nota informativa divulgada esta semana a propósito da evocação do incêndio de Pedrogão Grande, «Uma melhor gestão do combate consegue-se seguramente com a diminuição do número de ignições como se tem verificado. É muito diferente para o dispositivo de combate enfrentar, nos dias de condições meteorológicas mais graves, mais de quatro centenas de ocorrências diárias, como acontecia há alguns anos, ou enfrentar nas mesmas condições quatro vezes menos ocorrências, como tem acontecido nos últimos dois anos. A aposta na redução do número de ignições em dias de meteorologia complexa é, por isso, duplamente importante.»

E acrescenta: «Há seguramente um caminho ainda a fazer no ponto de vista da sustentação das operações de combate, através de investimento na profissionalização; formação e qualificação dos agentes; reforço de mais e melhores equipamentos; rentabilização da capacidade instalada a nível local, regional e nacional; recrutamento de técnicos para o desempenho qualificado de funções especializadas na gestão de emergência; planeamento da intervenção de todos os agentes do sistema numa lógica de complementaridade territorial, entre outras medidas.»

E o Observatório conclui a sua nota afirmando: «Apesar das melhorias nalguns componentes do sistema não estamos seguros de que o país esteja suficientemente preparado para enfrentar eventos da mesma magnitude, sobretudo porque as variáveis determinantes permanecem sem alterações estruturais, a saber: ordenamento, gestão florestal, recuperação de áreas ardidas e mitigação do risco desadequados; insuficiente formação e qualificação dos agentes; indefinição no modelo de organização territorial a adotar pelos serviços do Estado com particulares responsabilidades no sistema; a precariedade laboral de diversos agentes; falta de recrutamento para lugares de comando operacional; e a manutenção de alguns comportamentos de risco pela população em condições favoráveis à ocorrência de incêndios.»

*O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)

*Atualizado por PG – Publicado em AbrilAbril a 13 de Junho de 2020

SOL, VIDA? CURTA QUE QUE NOS PARIU!


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Escravos de um deus menor

Jorge Araújo | Expresso

O sol não morre todos os dias da mesma maneira. Nem à mesma hora. Às vezes, vende cara a sua luz, esperneia as réstias do seu brilho. Outras vezes, cavalga apressadamente para a linha do horizonte e desaparece sem deixar rasto como se tivesse vergonha da sua própria luz.

Foi isso que aconteceu anteontem, no município espanhol de San Leonardo de Yague. O sol morreu ao princípio da tarde, mas o mundo continuou a girar à sua volta como se nada tivesse acontecido.

É triste viver num mundo em que o sol não é notícia quando morre.

O sol morreu quando, debruçado sobre uma janela de um terceiro andar, uma criança de apenas oito anos gritou a pedir ajuda. Dizia que lhe doía a boca e o estômago. Estava sozinha em casa porque os pais tinham ido trabalhar. Saíram por volta das cinco e meia da madrugada e só regressariam ao cair da noite.

Regressaram mais cedo porque um vizinho alertou a Guardia Civil. O casal, na casa dos trinta anos, foi acusado de abandono de menores, mas ficou em liberdade. E o menor continuou à guarda dos pais.

Esta é mais uma notícia dos tempos estranhos em que vivemos. Tempos de crise sanitária, económica e social. Tempos em que o medo parece ter medo do próprio medo.

Já não é apenas o vírus que nos preocupa. É como vamos sobreviver ao vírus. Há cada vez mais desempregados, cada vez mais pessoas apavoradas com a possibilidade de perder o emprego. O ganha pão, o sustento dos filhos.

E que, por isso, talvez possam não hesitar um segundo em deixar uma criança de oito anos sozinha em casa. Uma criança em casa para os adultos irem trabalhar. Parece que tudo mudou para que tudo ficasse na mesma. Ou ligeiramente pior, como escreve o escritor Michel Houellebecq, num artigo publicado na próxima edição da revista do Expresso.

Com ou sem covid-19, continuamos escravos de um Deus menor. Acorrentados ao dinheiro. E, enquanto um pai tiver de deixar um filho sozinho em casa para ir trabalhar, o sol vai ter vergonha da sua própria luz.

OUTRAS NOTÍCIAS

NOVO BANCO. De cada vez que ouço falar em “Novo Banco”, levo as mãos aos bolsos. Mas chego sempre atrasado porque há uma voz que me segreda ao ouvido “isto é um assalto”. Os contribuintes portugueses continuam alegremente a pagar os erros dos banqueiros e este buraco parece não ter fundo.

Por isso, é natural que o parlamento tenha querido saber os contornos deste nebuloso acordo. Foram pedidos documentos mas agora os deputados do Bloco de Esquerda descobriram a falta de dois documentos secretos que fazem parte do contrato de venda da instituição.

Num requerimento aprovado por unanimidade, os deputados da Comissão de Orçamento de Finanças concordaram em pedir as peças contratuais em falta. A ver vamos que surpresas o futuro nos reserva.

NOVO BANCO II. O antigo ministro das Finanças deu uma entrevista ao podcast Política com Palavra do Partido Socialista. E quem esperava que desse o braço a torcer em relação ao Novo Banco, pode bem tirar o cavalinho da chuva.

“Poderíamos fazer sempre qualquer coisa diferente (no Novo Banco ). Se eu me arrependi de alguma coisa que tenha feito? A resposta é fácil e é não”, disse o antigo governante.

COVID-19. Depois de na véspera termos aberto as garrafas de champanhe para celebrar a escolha de lisboa para palco da final four da Liga dos Campeões ontem veio do balde de água fria.

Portugal está na lista negra de vários países europeus que mostram cartão vermelho aos cidadãos portugueses na fronteira. O Governo não gostou e agora admite fechar as suas fronteiras a quem não deixe entrar portugueses. É a chamada lei da reciprocidade.

BRASIL. Continua a apertar-se o cerco à volta de Jair Bolsonaro. Fabricio Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do atual presidente do Brasil, foi preso em São Paulo por suspeita de envolvimento num esquema de corrupção.

É amigo da família há mais de trinta anos e há quase um que era procurado pela polícia. Bolsonaro considera que está a ser alvo de uma perseguição com o único objetivo de o afastar do poder.

TRUMP. É um livro que mais parece uma bomba-relógio. Ainda nem sequer foi publicado e já está a provocar ondas de choque.

”A sala onde tudo aconteceu” é o livro de memórias de John Bolton, o antigo Conselheiro de Segurança dos Estados Unidos, que faz duras critícas ao atual inquilino da Casa Branca. Trump quer impedir a publicação do livro, prevista para 23 de Junho, porque considera que o seu antigo aliado violou a lei.

CALOR. O verão está à porta. O solstício de verão terá lugar às 22h44 de sábado, marcando o início da estação no hemisfério norte. As temperaturas vão começar a subir, assim como a tentação de disfrutar da praia.

Mas atenção: ainda não foi descoberta nenhuma vacina nem nenhum medicamento capaz de fazer frente ao coronavírus. E o vírus não escolhe idades.

FUTEBOL. A Premier Ligue está de volta e hoje é dia de um duelo português. O Tottenham, orientado por José Mourinho, vai medir forças com o Manchester United, do maestro Bruno Fernando. O embate está marcado para as 20:15 e pode ser visto na SportTV2.

Ainda no futebol, destaque para este Sporting do Rúben Amorin. Ontem, os leões venceram em casa o Tondela por dois a zero. Dos três grandes é a única equipa que ainda não perdeu neste arranque do campeonato pós covid-19.

ADEUS. O seu nome certamente não lhe diz muito. Mas se disser o título de uma canção, o caso muda de figura. Durante a IIº Guerra Mundial, foi a voz da esperança do povo britânico. “We wiil meet again”, a música que lhe deu fama, foi recentemente recuperada durante a crise provocada pela Covid-19.

Vera Lynn morreu aos 103 anos, mas poderá viver para sempre. Mal soube da notícia, Boris Johnson escreveu no twitter que “a sua voz viverá para erguer os corações das gerações vindouras”.

O QUE ANDO A LER

A professora Olga fez anos esta semana. E 90 não é uma idade qualquer. Foi a primeira das muitas professoras que cruzaram o meu caminho.

Passados todos estes anos,o seu nome continua tatuado na minha memória. Foi ela quem me ensinou os primeiros números. As primeiras letras. A unir palavras como quem olha as estrelas.

Há coisas que o tempo não apaga. Por isso, nesta data especial, gratidão é a palavra.

A minha primeira professora vive há muito nos Açores. Não a vejo desde os meus oito anos, quando deixei a Ilha do Sal e a escola primária do Monte de Curral.

Mas o tempo não é todo igual. Lembro-me como se fosse hoje da professora Olga, naquela sala-de-aulas, onde o calor teimava em bater à janela. O corpo pequeno a saltitar de um canto para o outro. A voz que não precisava subir para ser ouvida.

À primeira vista, dava ares de dura. Mas a sua linguagem era a do carinho.E, naquela idade, como em todas as outras, o carinho é bem de primeira necessidade.

Há coisas que não se agradecem. Há coisas que não se esquecem.

Às vezes, ponho-me a pensar na imaginação dela. Tento pôr-me na sua pele. O que pensaria que aquele miúdo rebelde e de pestanas do tamanho do mundo viesse a ser quando se fizesse grande? Certamente, estava longe de imaginar quanto ler e escrever seriam a minha vida. Tão-pouco quanto me ensinou a olhar o mundo.

Nestes dias, ainda às voltas com uma mudança de casa, caixotes sem conta pesados de livros, dei por mim a pensar quais seriam os livros que, se pudesse, ofereceria à professora Olga, no seu aniversário.

Escolheria três: “Ébano” de Ryszard Kapuscinski, “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera e “ Siddartha”, de Hermann Hesse.
Parabéns professora Olga!

O QUE ANDO A OUVIR

A primeira vez que fui à Guiné Bissau era jornalista do semanário “ O Independente” e Paulo Portas o meu diretor.

Foi em Novembro de 1990, dez anos após o golpe de estado que afastou Luís Cabral do poder. E assinou a certidão de óbito da ideia de um mesmo partido estar à frente de dois países. A minha missão era escrever um perfil do presidente Nino Vieira.

Ainda me lembro do bafo de calor que me engoliu mal se abriram as portas do avião. E da preciosa ajuda que tive do então delegado da Lusa, Eduardo Lobão. Não fiquei mais do que três dias e, na sexta-feira seguinte, assinei um artigo cujo título era “Sinhozinho Nino”, numa alusão a uma novela brasileira, que muito tinha dado que falar.

Como é óbvio, o retratado não gostou nada do que leu. Ao jeito de ditador, mandou prender um dos seus assessores, cujo único crime era ser suspeito de ter falado comigo. Durante anos, fui persona non grata na Guiné Bissau.

Depois deste episódio, voltei vezes sem conta a Bissau. A cada regresso, a estranha sensação de estar a pisar um país que poderia ser o meu. Vi a história acontecer à frente dos meus olhos, ganhei alguns amigos para a vida. Um deles é o poeta e jornalista Tony Tcheka. Recordo, com saudade, as tardes passadas em sua casa, juntamente com a sua então mulher, a portuguesa mais guineense que conheci, uma anfitriã notável, infelizmente já falecida.

Um dos últimos artigos que assinei sobre esta antiga colónia portuguesa começava assim: “A Guiné-Bissau não é um Estado. É um estado de espírito”. Hoje, escreveria o mesmo. O que pensar de um país cujo futuro é eternamente adiado, refém de políticos gananciosos e de militares aventureiros. De um país preso nas teias do narcotráfico.

A cada regresso, a cada viagem, a mesma banda sonora. Na bagagem, levava sempre José Carlos Schwarz, um dos maiores compositores guineenses. Conhecio-o no Mindelo, em Cabo Verde, durante um concerto do seu grupo Cobiana Jazz. E nunca mais o perdi de vista. Hoje, escrevo a ouvi-lo.

Infelizmente, José Carlos Schwarz morreu cedo. Demasiado cedo. Tinha apenas 28 anos quando foi vítima de uma acidente de aviação, em Havana, Cuba. Ainda hoje, deve dar voltas no túmulo só de imaginar o que aconteceu ao país que tanto amava e pelo qual tanto lutou.

Tenha um resto de bom dia.

Portugal | Duas sondagens, quase duas maiorias absolutas para o PS

O PSD de Rui Rio só amealha 25,8% das intenções de voto, pelas contas da Aximage, e 24,1%, da Intercampus

São publicadas esta sexta-feira duas sondagens que colocam (mais uma vez) o Partido Socialista a uma larga distância da oposição e perto da maioria absoluta. O número a reter: 40%.

O barómetro da Intercampus de junho, publicado pelo “Correio da Manhã” e o “Jornal de Negócios”, dá 40% das intenções de voto ao partido de António Costa. Já o barómetro da Aximage, publicado no “Jornal Económico”, tira-lhe apenas uma décima - 39,9%.

A pandemia continua a gerar dividendos para António Costa. Entre março e maio, ou seja em apenas dois meses, o PS viu as suas intenções de voto aumentarem quase nove pontos, passando de 31,4% para 40,3%, nota a Intercampus. A última sondagem da Aximage, realizada em fevereiro, dava ao PS menos 4,8 pontos percentuais.

Enquanto isso, o PSD de Rui Rio só amealha 25,8% das intenções de voto, pelas contas da Aximage, e 24,1%, da Intercampus.

Conforme escreve o “Negócios”, com uma possível votação de 40%, o PS soma neste momento tantos votos quanto o PSD, Bloco de Esquerda e CDU juntos.

CDS EM QUEDA, CHEGA CRESCE

Na sondagem da Aximage, o Bloco de Esquerda recolhe só 8% das intenções de voto, menos 1,8% que há quatro meses.

O Chega ultrapassa a CDU (4,9%) e é o quarto partido mais votado, recolhendo 5,3% das intenções de voto - quatro vezes mais do que na eleição de outubro do ano passado.

O PAN cresce ligeiramente: de fevereiro para junho subiu seis décimas (4,9%), atingindo o mesmo valor que a CDU.

O CDS tem um resultado catastrófico: cai de 2,1% para 1,2% - muito aquém dos 4,2% obtidos por Assunção Cristas. O Iniciativa Liberal recolhe 1,4% dos votos. Já o Livre quase desapareceu: 0,2%.

Expresso

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