sexta-feira, 19 de junho de 2020

MEMÓRIA DOIS, DUM SEMPRE ACTUAL

Martinho Júnior, Luanda 

Esta é uma série que recorda algumas intervenções de há 15 ou mais anos e não perdem actualidade, pelo contrário, pois muitas delas não tiveram respostas adequadas e foram mesmo ficando para trás…

As preocupações com questões que se prendem à vida vêm de longe, emergem das aspirações essenciais mais legítimas do próprio movimento de libertação em África e, entre elas, as respostas em relação à educação e à saúde são respostas substantivas fulcrais.

Já em 2005, os impactos da globalização neoliberal em Angola se haviam tornado dominantes, forjando “uma saúde mercenária, em nome e ao serviço do mercado” e desvirtuando por completo essa trilha libertária!...

Lutar contra a SIDA parecia dar mais lucro, mais influência e mais conveniência elitista do que lutar contra o paludismo, uma desprezível doença de pobres!

Em 2018 a Luta contra a Malária em Angola era um plano da USAID, associado à Presidência da República…

Agora que o Presidente João Lourenço lançou o alerta de nada ficar para trás, em tempo premente de pandemia regresso a este assunto com três perguntas tão necessárias quão úteis:

A- Afinal que caminho se deve seguir?...

B- O caminho elitista do capitalismo neoliberal na saúde, tornando-a mercenária, ou aquele caminho que está ávido de lógica com sentido de vida, nutrido do próprio rumo do movimento de libertação em África, do próprio rumo de Angola, da filosofia coerente que deve animar a civilização que tanto falta em pleno século XXI?

C- Que espectro humano se deve associar ao combate à malária e que ponto de vista se deve seguir, o ponto de vista elitista, emanado de mais que reconhecidos interesses ligados aos processos de domínio, ou o da civilização, capaz de mobilizar, a partir de instituições angolanas, num ponto de vista abrangente, participativo e popular, rodos os angolanos, tendo em conta que a malária é uma permanente ameaça nacional e regional?

Segue o texto publicado em Junho de 2005 no “ACTUAL”, nº 424.

 

MALHAS QUE A GLOBALIZAÇÃO TECE -- “SIDA” VERSUS MALÁRIA

Agora, cá por esta Angola, há doenças que merecem toda a atenção, bem como congregação de esforços no sentido de se poderem combater … e outras que nem tanto.

Isso deve-se, não às características das doenças em si, nem à sua relativa proliferação (umas mais que outras), nem também da vontade maior ou menor dos Angolanos em as combater, apesar dos pronunciamentos do próprio Presidente da República, que com base nas estatísticas tem evidenciado quanto o paludismo é ainda mais perigoso, para os Angolanos, que a “SIDA”…

Essa situação deve-se apenas a conjunturas do mercado e aos poderosos “lobbies” nele envolvidos à escala Global e Regional.

O “SIDA” é uma terrível doença que se expandiu especialmente pelos Países Anglófonos da Região Austral do Continente e, dada a posição dos “lobbies” dos minerais em toda a Região, muito em especial em Países como a África do Sul, o Botswana, a Namíbia, o Zimbabwe e a Zâmbia, está a atrair as atenções das personalidades ligadas mais aos Democratas Norte Americanos, a começar por William Jefferson Clinton e a acabar em gente como Maurice Tempelsman e George Soros.

Assim, não é de admirar que, com as disponibilidades financeiras existentes, até Angola esteja a ser atraída pelo “grande camaleão”, em matéria de “SIDA”, a ponto de se estar a construir, em plena área nobre de Luanda, um “Centro de Informação” a meter inveja, por exemplo, até ao velhinho “Centro de Imprensa Aníbal de Melo” …

Enquanto isso a malária, que deveria ter ao seu serviço um Instituto de Investigação apropriado, ou um Observatório que conseguisse reunir todos os melhores especialistas vocacionados no combate a esse flagelo que tantos prejuízos tem causado ao País… vai ficando para um modesto plano, sem se vislumbrarem outras alternativas… mesmo que hajam pronunciamentos Presidenciais…

… A “SIDA”, além do mais, torna-se, em função dos Países Africanos onde se expandiu, uma ameaça para os Países de cultura Anglófona, fora do Continente… a malária, só tem expansão nos pobres Países do “Terceiro Mundo”…
Percebem?

Martinho Júnior -- Luanda, 17 de Junho de 2020

Imagens recolhidas a 17 de Junho de 2020:
1- Símbolo do INLSANGOLA – https://www.facebook.com/inlsangola/;

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