Martinho Júnior, Luanda
Esta
é uma série que recorda algumas intervenções de há 15 ou mais anos e não perdem
actualidade, pelo contrário, pois muitas delas não tiveram respostas adequadas
e foram mesmo ficando para trás…
As
preocupações com questões que se prendem à vida vêm de longe, emergem das
aspirações essenciais mais legítimas do próprio movimento de libertação em
África e, entre elas, as respostas em relação à educação e à saúde são
respostas substantivas fulcrais.
Já
em 2005, os impactos da globalização neoliberal em Angola se haviam tornado
dominantes, forjando “uma saúde mercenária, em nome e ao serviço do
mercado” e desvirtuando por completo essa trilha libertária!...
Lutar
contra a SIDA parecia dar mais lucro, mais influência e mais conveniência
elitista do que lutar contra o paludismo, uma desprezível doença de pobres!
Em
2018 a
Luta contra a Malária em Angola era um plano da USAID, associado à Presidência
da República…
Agora
que o Presidente João Lourenço lançou o alerta de nada ficar para trás, em
tempo premente de pandemia regresso a este assunto com três perguntas tão
necessárias quão úteis:
A-
Afinal que caminho se deve seguir?...
B-
O caminho elitista do capitalismo neoliberal na saúde, tornando-a mercenária,
ou aquele caminho que está ávido de lógica com sentido de vida, nutrido do
próprio rumo do movimento de libertação em África, do próprio rumo de Angola,
da filosofia coerente que deve animar a civilização que tanto falta em pleno
século XXI?
C-
Que espectro humano se deve associar ao combate à malária e que ponto de vista
se deve seguir, o ponto de vista elitista, emanado de mais que reconhecidos
interesses ligados aos processos de domínio, ou o da civilização, capaz de
mobilizar, a partir de instituições angolanas, num ponto de vista abrangente,
participativo e popular, rodos os angolanos, tendo em conta que a malária é uma
permanente ameaça nacional e regional?
Segue
o texto publicado em Junho de 2005 no “ACTUAL”, nº 424.
MALHAS
QUE A GLOBALIZAÇÃO TECE -- “SIDA” VERSUS
MALÁRIA
Agora,
cá por esta Angola, há doenças que merecem toda a atenção, bem como congregação
de esforços no sentido de se poderem combater … e outras que nem tanto.
Isso
deve-se, não às características das doenças em si, nem à sua relativa
proliferação (umas mais que outras), nem também da vontade maior ou menor dos
Angolanos em as combater, apesar dos pronunciamentos do próprio Presidente da
República, que com base nas estatísticas tem evidenciado quanto o paludismo é
ainda mais perigoso, para os Angolanos, que a “SIDA”…
Essa
situação deve-se apenas a conjunturas do mercado e aos poderosos “lobbies” nele
envolvidos à escala Global e Regional.
O “SIDA” é
uma terrível doença que se expandiu especialmente pelos Países Anglófonos da
Região Austral do Continente e, dada a posição dos “lobbies” dos
minerais em toda a Região, muito em especial em Países como a África do Sul, o
Botswana, a Namíbia, o Zimbabwe e a Zâmbia, está a atrair as atenções das
personalidades ligadas mais aos Democratas Norte Americanos, a começar por
William Jefferson Clinton e a acabar em gente como Maurice Tempelsman e George
Soros.
Assim,
não é de admirar que, com as disponibilidades financeiras existentes, até
Angola esteja a ser atraída pelo “grande camaleão”, em matéria de “SIDA”,
a ponto de se estar a construir, em plena área nobre de Luanda, um “Centro
de Informação” a meter inveja, por exemplo, até ao velhinho “Centro
de Imprensa Aníbal de Melo” …
Enquanto
isso a malária, que deveria ter ao seu serviço um Instituto de Investigação
apropriado, ou um Observatório que conseguisse reunir todos os melhores
especialistas vocacionados no combate a esse flagelo que tantos prejuízos tem
causado ao País… vai ficando para um modesto plano, sem se vislumbrarem outras
alternativas… mesmo que hajam pronunciamentos Presidenciais…
…
A “SIDA”, além do mais, torna-se, em função dos Países Africanos onde se
expandiu, uma ameaça para os Países de cultura Anglófona, fora do Continente… a
malária, só tem expansão nos pobres Países do “Terceiro Mundo”…
Percebem?
Martinho
Júnior -- Luanda,
17 de Junho de 2020
Imagens
recolhidas a 17 de Junho de 2020:
1-
Símbolo do INLSANGOLA – https://www.facebook.com/inlsangola/;
2-
Edifício do INLSANGOLA – https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2018/3/15/Comissao-combate-sida-grandes-endemias-reune-Luanda,ee535e2f-5d8b-4dca-93ec-de04c5118ed7.html;
3-
Mapa da transmissão da malária… segundo a USAID (2015/2016) – https://www.pmi.gov/docs/default-source/default-document-library/malaria-operational-plans/fy-2018/fy-2018-angola-malaria-operational-plan.pdf?sfvrsn=5
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