terça-feira, 28 de julho de 2020

Angola | ORQUESTRA AFINADA!


… só possível com o grande camaleão!


A propaganda externa em função do fraccionismo do 27 de Maio dentro do MPLA não só continua em orquestra afinada, particularmente fora de Angola, como vai tendo ouvidos e sabedorias mais circunspectas, com mais “proximidade” dentro de Angola, indiciando estar por dentro, à sua maneira, das próprias iniciativas de aprofundamento da paz do estado angolano da 4ª República…

Agora, tinha de ser, todos começam por evocar a reconciliação e o perdão!...

Todos?

Edgar Valles está a assinar algumas das imperiosas intervenções e sentenças entre as agora mais refinadas e mais disseminadas, que todavia continuam a excluir qualquer contraditório, até pela linguagem que continua a acintosamente utilizar.

Edgar Valles, é próprio de “advogados do diabo”, não faz tanto quanto o possível o exercício de linguagem directamente, como por exemplo o Folha 8, com suas (des)cargas de ódio sulfuroso e viperino: prefere doutamente citar alguém capaz de linguagem de ódio, menos conhecido em Angola que o Folha 8 mas não menos útil quando localiza a partir de fora um alvo entre os alvos que só continuam a sê-lo por, mesmo em “in extremis”, ter defendido o estado angolano conforme as suas obrigações…

É a escola dos que sempre estão vocacionados para dividir para melhor reinar, neste caso aproveitando agora a “água mole em pedra dura”, que de tanto dar se pretende que “fura”…

Sua última intervenção saiu sincronizadamente, qual milagre tridimensional, em páginas de três continentes, inclusive em Angola (constate-se os links abaixo).

Angola | "A guerra em Cabinda ainda não acabou" - diz Tati

Raúl Tati, deputado independente pela UNITA, pede ao Estado angolano para explicar melhor as movimentações militares em Cabinda. Nesta terça-feira, as FAC anunciaram novos confrontos com o Exército.

Nos últimos tempos, e acreditando nos comunicados da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) e do seu braço armado, as Forças Armadas Cabindesas (FAC), a situação em Cabinda tem-se tornado mais tensa, com a ocorrência de sucessivos confrontos militares.  

Ainda esta terça-feira (28.07) as FAC emitiram um documento denominado "Comunicado de Guerra", em que afirmam ter atacado uma unidade das Forças Armadas de Angola (FAA) que se preparava para surpreender uma posição de combatentes das FAC na região de Massabi. 

Segundo o mesmo comunicado, as forças cabindesas terão perdido dois combatentes, enquanto oito soldados angolanos teriam sido mortos e três feridos. As FAC ter-se-iam ainda apoderado de armas automáticas, lançadores de mísseis e várias munições. 

Separatistas de Cabinda falam em 10 mortes em “combate intenso”

Segundo comunicado divulgado pela Frente de Libertação do Estado de Cabinda, confronto teria ocorrido na região de Massabi. Ministério da Defesa angolano não confirma a informação.

As Forças Armadas Cabindesas (FAC) anunciaram esta terça-feira (28.07) a morte de 10 soldados, oito angolanos e dois das FAC, durante um ataque a uma unidade das Forças Armadas Angolanas (FAA).

Num "comunicado de guerra", assinado pelo Chefe Operacional da FLEC-FAC (Frente de Libertação do Estado de Cabinda-Forças Armadas Cabindesas, Futi Bonifácio Edinho, os independentistas falam de "intensos combates" entre as FAC e o exército angolano na região de Massabi.

No ataque à unidade das FAA, "que se preparava para surpreender" uma posição das FAC", ocorrido na aldeia de Chissanga, as forças cabindesas perderam dois combatentes e foram mortos oitos soldados angolanos, tendo outros três ficado feridos.

O Ministério da Defesa angolano não confirmou a informação.

As FAC referem ainda ter recuperado armas automáticas, de lançamento de foguetes e várias munições.

Ataque à Rádio Capital FM: “A imprensa da Guiné-Bissau ficou coxa"

É a reação da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau. Em entrevista à DW África, o bastonário António Nhaga disse estar "bastante preocupado" com o vandalismo contra a Rádio Capital FM, neste domingo (26.07) em Bissau.

O bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau, António Nhaga, disse ainda esta segunda-feira (27.07) estar "bastante preocupado" com o estado da liberdade de expressão e de imprensa na Guiné-Bissau.

Nhaga reagia depois de as instalações e os equipamentos de emissão da Rádio Capital FM, assumidamente crítica ao regime vigente na Guiné-Bissau, terem sido vandalizados no domingo (26.07) de madrugada por homens armados desconhecidos.

Portugal | Novo Banco: António Costa descobriu a pólvora?

Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

Já a noite ia longa, no dia 13 de maio, quando o primeiro-ministro, através das suas redes sociais, procurou pôr um ponto final na polémica dos últimos dias. Tudo começou na semana anterior, quando António Costa garantiu a Catarina Martins que o Estado não transferiria mais recursos para o Novo Banco sem conhecer o resultado das auditorias em curso. Acontece que, no momento dessas declarações, a ordem de transferência de 850 milhões já tinha sido dada pelo ministro das Finanças Mário Centeno. O primeiro-ministro pediu desculpas pela informação errada, mas a novela arrastou-se, com Mário Centeno a alegar o mero cumprimento de uma obrigação contratual e que as operações do banco tinham sido suficientemente auditadas. A partir da noite de 13 de maio, em que Costa e Centeno estiveram reunidos, esse voltou a ser também o discurso do primeiro-ministro, que deu o dito por não dito. De um dia para o outro, todo o Governo voltou à narrativa que mantém desde a entrega do Novo Banco ao fundo Lone Star, garantindo que foi a solução "possível", e que os interesses do Estado foram acautelados.

Do outro lado manteve-se também quem, como o Bloco de Esquerda, sempre contestou o negócio. Em primeiro lugar porque o Estado abdicou da propriedade de um banco que pagou bem caro ao longo dos últimos anos. Em segundo porque o contrato de venda promove um conflito de interesses, em que o privado tem liberdade para gerir o banco contra o interesse público. Foi por esta razão que, depois de rejeitadas as propostas para impedir e reverter a venda, defendemos que o Estado não deveria financiar o Novo Banco sem uma auditoria à sua gestão.

Ao longo dos últimos anos, todas as dúvidas sobre quem e a que preço estavam a ser vendidos os ativos do Novo Banco foram descartadas, com Governo, Banco de Portugal e Fundo de Resolução a insistirem, contra todas as evidências, que o modelo de venda previa suficientes formas de fiscalização.

Agora, depois do Novo Banco ter absorvido a maior parte da garantia de 3900 milhões concedida pelo Estado, o primeiro-ministro pede à Procuradoria-Geral da República que suspenda as vendas de ativos do Novo Banco até conhecer a auditoria. Não discordo da medida - tudo o que puder ser feito para travar estas negociatas deve ser feito - questiono apenas o momento dela e o seu significado. As suspeitas de venda de ativos ao desbarato não surgiram ontem, foram suscitadas desde o momento do próprio contrato - o tal que António Costa e Mário Centeno tantas vezes defenderam no Parlamento. Será que o primeiro-ministro finalmente descobriu a pólvora e se arrependeu do negócio?

*Deputada do BE

Novo Banco vendeu 13 mil imóveis a preço de saldo a fundo nas ilhas Caimão

Banco vendeu e emprestou o dinheiro a quem comprou. Quem? Não se sabe. Fundo de Resolução cobriu perdas de centenas de milhões

No dia 8 de Novembro de 2017, uma quarta-feira, António João Barata da Silva Barão, engenheiro de formação e pintor, que fundou e dirige a tertúlia artística Parlatório, em Lisboa, e a sua companheira, Ana Paula da Costa Lapa, registaram cinco sociedades imobiliárias de uma só vez. Todas com a mesma morada onde já tinham muitas outras, na loja 19 do Shopping Columbia, na Avenida Júlio Dinis, n.º 14, perto do Campo Pequeno, em Lisboa.

Cada um ficou com 50% das quotas das imobiliárias, mas António ficou como gerente de todas. Não que isso lhe viesse a ocupar muito tempo. Apesar do boom nos preços do imobiliário em Lisboa, daquelas cinco sociedades que criaram só uma registou uma venda, no valor de 200 euros. As outras acabaram o ano a zero.

Cinco dias antes deste registo em Lisboa, nas distantes ilhas Caimão, mais concretamente no Cayman Corporate Centre, número 27 da Hospital

Road, em George Town, foi criado um hedge fund, um fundo de investimento muito mais arriscado do que os tradicionais. Chama-se Anchorage Illiquid Opportunities Master VI (A) LP. Os valores que ostenta na data da sua criação são muito diferentes dos cinco mil euros de capital social das empresas criadas no Shopping Columbia em Lisboa. Mil duzentos e cinquenta milhões de dólares é o valor do fundo, repartido por mais de 18 investidores anónimos, tal como vem descrito na documentação entregue à Securities and Exchange Commission dos EUA.

Para reforçar o anonimato e para pagar ainda menos impostos do que nas Caimão (um dos mais conhecidos “paraísos fiscais” do mundo), o hedge fund atravessou o Atlântico e registou, no dia 11 de Dezembro, no Luxemburgo, uma sociedade de responsabilidade limitada, chamada AIO VI S.a r.l., com sede na Avenue J.F. Kennedy, 43.

Para completar esta história, que parece não ter qualquer tipo de coerência, o fundo das Caimão ordenou à sua filial do Luxemburgo, no dia 8 de Outubro de 2018, que comprasse as cinco sociedades imobiliárias lisboetas a António Barão e Ana Paula Lapa.

Dois dias depois desse negócio, fechou-se o círculo destas entidades, menos de um ano depois de terem sido criadas. A venda, pelo Novo Banco, anunciada no dia 10 de Outubro de 2018 à CMVM, de 5552 imóveis e 8719 fracções às sociedades lisboetas, detidas pela sociedade luxemburguesa, que, por sua vez, pertence ao fundo de investidores anónimos nas ilhas Caimão.

Racismo luso | Testemunhas ouviram insultos racistas contra Bruno Candé


“Tenho armas do Ultramar e vou-te matar”

Não posso ficar preso em casa porque há uma pessoa que me vai atacar por racismo [disse Bruno Candé ao amigo Sadja Dama dois meses antes do assassinato]. [Disse] que ele era preto, que tinha que estar na sanzala, que ele ia violar a mãe dele. -- Marcos Rodrigues, dono do café

O assassinato ocorreu em plena Avenida de Moscavide, no sábado. Na quarta-feira, vários comerciantes da zona ouviram Bruno Candé ser alvo de insultos racistas proferidos pelo arguido, que terá também ameaçado matá-lo. Homem de 76 anos ficou em prisão preventiva, por homicídio qualificado e posse de arma ilegal.

Depois do acidente de bicicleta que lhe deixou o lado esquerdo do corpo com limitações motoras, o actor Bruno Candé Marques, de 39 anos, andava bastante a pé. Já durante a pandemia de covid-19 era frequente ir ao café na Avenida de Moscavide, perto de casa. Precisava de ver pessoas, conta a sobrinha, Andreia. Esta segunda-feira, o banco onde se costumava sentar com a cadela Pepa, de raça labrador, tem flores e bilhetes de homenagem a lembrar o homem, o pai de três filhos, o irmão de cinco, o actor.

Bruno Candé Marques foi assassinado no sábado pelas 13h, alegadamente por um homem de 76 anos que terá disparado três tiros de uma arma em pleno dia, segundo fonte policial. O alegado homicida, que está em prisão preventiva por homicídio quali fi cado e posse de arma ilegal, seria imobilizado por dois homens até a PSP chegar ao local. Casado, o arguido era auxiliar de acção médica e irá fi car na cadeia de Lisboa, tendo como advogada o fi ciosa Alexandra Bordalo Gonçalves, presidente do conselho de deontologia de Lisboa da Ordem dos Advogados.

Os testemunhos recolhidos pelo PÚBLICO no local dão conta de que o homem começou, na quarta-feira, por implicar com a cadela Pepa até terminar num rol de insultos racistas: “Preto, vai para a tua terra!” e “volta para a sanzala!”. A família, em comunicado enviado no sábado, falava de antecedentes quanto a insultos e alegava “que fi ca evidente o carácter premeditado e racista deste crime hediondo”. A rua em que Bruno Candé morreu tem sobretudo comércio — lojas de roupa, cafés, oculistas, ourivesarias, garrafeiras — por isso no sábado várias pessoas testemunharam o crime. Marcos

Rodrigues, dono de um café ao qual o actor costumava ir, relata que, na quarta-feira, o actor estava sentado no banco com a sua cadela. Ouviu o alegado homicida a “insultá-lo”. Como? Disse “que ele era preto, que ele tinha que estar na sanzala, que ele ia violar a mãe dele.” Isto aos berros, recorda. Foi aí que Marcos viu Bruno a levantar-se e a dizer: ‘“Você não fala mais assim da minha mãe!” O dono do café não tem qualquer dúvida de que foram insultos racistas: “Com certeza que é racista”, a fi rma. “O Bruno nunca fez mal a ninguém.”

Também a mulher, Vânia Rodrigues, viu Bruno Candé e o suspeito envolvidos numa discussão nessa mesma quarta-feira. Conhecia Bruno Candé, por ser cliente habitual, mas nunca tinha visto o alegado homicida: “O Bruno estava mais calmo, o velhote andava com a bengala para cima”, relata, de máscara, fazendo o gesto. Vânia Rodrigues até disse a Bruno: “Tem calma, que ele é mais velhote e, se acontece alguma coisa, vais perder a razão.” Bruno contou-lhe os insultos racistas que ouviu do homem: “Fui à tua mãe e àquelas pretas de merda todas!”, terá dito.

Quatro tiros em Bruno Candé foi racismo? E o OMO lava mais branco?


Bruno Candé no Curto do Expresso, talvez devido ao racismo que é referido que não existiu nas manifestações e investidas do ‘pula’ português com 76 anos que o varou com quatros tiros à queima roupa, o preto português que até foi mandado para a “terra dele” ´(África?) pelo indubitável assassino. Tudo começou com um desaguisado por causa de uma cadela-guia Labrador de Candé. Em África o ‘herói do ultramar fascista’ referiu ter estado… Racismo? Pode lá ser! Sim, não, talvez. É sempre o mesmo.

Melhor que nós explica o autor do Curto, Rui Gustavo, jornalista. Foi racismo ou não foi racismo? Perguntamos: se na circunstância o protagonista assassinado fosse de tez branca o velhote de 76 anos, assassino ‘com pica para matar’, teria disparado e feito jazer o corpo negro de Candé naquela rua de Moscavide? Os disparos tiveram todo o peso de racismo? Não tiveram? O ex-combatente da guerra do ex-ultramar teve atividade na Guiné, em Angola, em Moçambique? Participou em algumas operações em que não sobrava ninguém negro nem uma pontinha de cubata? Quem foi o então militar e o que protagonizou? Era vítima de stress de guerra ou de outro trauma correlacionado?

Bem, é que se esteve realmente na guerra colonial aprendeu a odiar “os terroristas” e a ter por objetivo matá-los – aqueles macacos-malandros-ingratos que queriam a independência, depois de quatrocentos anos de lhes andarmos a levar contas de vidro colorido em troca de ouro, diamantes e outras riquezas, além de até os colonialistas lhes venderem linha para cozer sacas para roupa ao metro… Tão bonzinhos que foram os colonialistas. E agora toda uma geração tinha de andar a matar "pretos terroristas" e na “leva” populações indefesas em massacres que na maior parte dos casos estão por contar…

Ah, pois. Os portugueses não são racistas. Portugal não é racista…

Sigam para o Curto. Tenham uma boa terça-feira e estudem o “caso”, assim como os outros “casos”. Tapar o sol com a peneira não vai dar resultado. Mais cedo que tarde vem aí um escaldão.

A abordagem aqui tem de ser curta, porque doí... a milhões. 

Claro que há racismo em Portugal. Claro que existem imensos portugueses racistas, aqui, na China, em África... Uns, mais ou menos passivos. Outros ativos, outros extremistas... 

Pobres coitados que querem ignorar que África é o berço da humanidade e que dali vieram antepassados a saltar de rocha em rocha, de ramo em ramo, de grão de areia em grão de areia, agachados, depois passo a passo... E que depois foram branqueando... Agora são brancos. O quê? Lavaram-se durante séculos com OMO? Pois, esse até lava mais branco. Pois, pois. Pena que não lave e extinga o racismo. Certo é que não olham a meios para também o branquear.

MM | PG

Bispos brasileiros divulgam carta contundente contra governo neofascista


#Escrito e publicado em português do Brasil

A íntegra da carta foi publicada, originariamente, na linha do tempo do monsenhor Júlio Renato Lancellotti, sob o título Carta ao Povo de Deus, no qual os bispos fazem duras críticas ao mandatário neofascista, com foco principal na pandemia de covid-19, e aos atos praticados por bolsonaristas.

Um documento contundente contra o governo do mandatário neofascista Jair Bolsonaro (sem partido), assinado por 152 bispos, arcebispos e bispos eméritos do Brasil foi publicado neste domingo. Não sem antes passar pelo crivo do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ao longo dos últimos quatro dias, até ser liberado, segundo apurou a agência Adital, do Instituto Humanitas Unisinos.

A íntegra da carta foi publicada, originariamente, na linha do tempo do monsenhor Júlio Renato Lancellotti, sob o título Carta ao Povo de Deus, no qual os bispos fazem duras críticas ao mandatário neofascista, com foco principal na pandemia de covid-19, e aos atos praticados por bolsonaristas, integrantes de movimentos de ultradireita.

“Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises”, afirmam, no documento.

Perseguição

De acordo com os bispos, essa movimentação não está restrita à CNBB, mas tem encontrado eco em paróquias e igrejas pelo país, onde padres reclamam de perseguição política, por conta das críticas feitas ao governo de Bolsonaro nas missas ou em conversas com fiéis.

O texto é assinado, entre outros, pelo arcebispo emérito de São Paulo, dom Claudio Hummes, pelo bispo emérito de Blumenau, dom Angélico Sandalo Bernardino, pelo bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), dom Edson Taschetto Damian, pelo arcebispo de Belém (PA), dom Alberto Taveira Corrêa, pelo bispo prelado emérito do Xingu (PA), dom Erwin Krautler, pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Giovani Mol, e pelo arcebispo de Manaus (AM) e ex-secretário-geral da CNBB dom Leonardi Ulrich.

Leia, adiante, a Carta ao Povo de Deus:

“Somos bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos os que desejam ver superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.

Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, 176). Temos clareza de que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados […], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus […] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, 180). Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.

A infernal máquina brasileira de lavar dinheiro


#Escrito em uinglês e publicado em português do Brasil

Pepe Escobar [*]

Duas décadas depois de um terremoto político, um potente tremor secundário que deveria sacudir o Brasil está sendo recebido com um silêncio estrondoso.

O que agora é chamado de "vazamentos do Banestado" e "CC5gate" é algo parecido com o antigo caso WikiLeaks:   uma lista publicada pela primeira vez na íntegra, dando nomes e detalhando um dos maiores casos de corrupção e lavagem de dinheiro do mundo nas últimas três décadas.

Esse escândalo pode nos proporcionar o saudável exercício daquilo que Michel Foucault reconhecera como uma "arqueologia do saber":   sem entender esses vazamentos, é impossível colocar no devido contexto eventos que vão dos sofisticados ataques de Washington ao Brasil – inicialmente via NSA [National Security Agency (Agência de Segurança Nacional norte-americana)], espionando o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (2010-2014) – até a operação "Lava Jato", que pôs na cadeia Luis Inácio Lula da Silva e abriu o caminho para a eleição do presidente neofascista Jair Bolsonaro.

O crédito pelo furo jornalístico desta trama de guerra híbrida orwelliana deve ser tributado, mais uma vez, à mídia independente. O pequeno site Duplo Expresso , liderado pelo jovem e ousado advogado internacional Romulus Maya, radicado em Berna, foi quem publicou a lista pela primeira vez.

Uma épica live de cinco horas reuniu os três principais protagonistas da denúncia do escândalo, no final dos anos 90, e que agora se dispõem a confrontá-lo novamente:   o então governador do Estado do Paraná, Roberto Requião, o promotor federal Celso Três e o agora superintendente aposentado da Polícia Federal, José Castilho Neto.

Anteriormente, em outra live, Maya e o antropólogo Piero Leirner, principal analista de guerra híbrida do Brasil, informaram-me sobre as inúmeras complexidades políticas dos vazamentos, enquanto discutíamos a geopolítica no Sul Global.

As listas do CC5 estão aquiaqui e aqui . Vejamos o que as torna tão especiais.

O que acontecerá com o neoliberalismo após a crise do COVID-19? Será que vai sobreviver?

#Escrito e publicado em inglês, traduzido para português do Brasil

Joseph H. Chung | Global Research

A destruição de pequenas e médias empresas

Nos últimos quarenta anos, o neoliberalismo dominou o pensamento econômico e a formulação de políticas econômicas em todo o mundo. Mas a crise do vírus da coroa expôs de maneira dramática suas contradições internas, sua incapacidade de lidar com a crise da coroa e sua incompetência em restaurar a economia real arruinada pela crise.

Neste artigo, focalizaremos a relação entre o neoliberalismo e a crise da corona:

O neoliberalismo impediu que os governos controlassem  efetivamente o surto inicial do vírus corona.

O neoliberalismo aumentou e ampliou a onda de propagação de vírus  , especialmente nos EUA.

O neoliberalismo pode abalar os fundamentos da economia americana.

O neoliberalismo pode não sobreviver à crise do vírus corona nos EUA 

Para salvar a democracia e a economia global, precisamos de um novo  modelo econômico que suporte o futuro da humanidade, que sustente o sustento humano em todo o mundo.

1. Neoliberalismo e o surto inicial do vírus Corona

A parte mais importante do neoliberalismo é a relação - muitas vezes de natureza corrupta - entre o governo e as grandes corporações. Por corrupção, entendemos atividades humanas ilegais ou imorais destinadas a maximizar o lucro às custas do bem-estar das pessoas. Nessa relação, o governo pode não ser capaz de controlar e governar as grandes corporações. De fato, no contexto atual, as empresas governam e supervisionam os governos nacionais.

Portanto, quando o vírus corona eclodiu, era difícil para o governo tomar ações imediatas para controlar o rompimento do vírus para salvar vidas humanas; Era bem possível que o preço das ações e o lucro das grandes corporações tivessem prioridade.

A teoria conhecida como neoliberalismo se distingue do antigo liberalismo que prevalecia antes da Grande Depressão.

Tornou-se amplamente aceito principalmente por sua adoção, nas décadas de 1970 e 1980, por Ronald Reagan, presidente dos EUA e Margaret Thatcher, primeira-ministra da Grã-Bretanha, como uma agenda de política econômica aplicada nacional e internacionalmente.

A justificativa do neoliberalismo é a crença de que a melhor maneira de garantir o crescimento econômico é incentivar as "atividades de fornecimento" das empresas do setor privado.

Agora, os defensores do neoliberalismo argumentam que bens públicos (incluindo saúde e educação) podem ser produzidos com maior eficiência por empresas privadas do que pelo Estado. Portanto, “é melhor” deixar que as empresas privadas produzam bens públicos.

Em outras palavras, a produção de bens públicos deve ser “privatizada”. Os neoliberais colocam o lucro como a melhor medida de eficiência e sucesso. E o lucro pode ser sustentado com o apoio do governo. Por sua vez, a política das empresas privadas é a de reduzir os custos trabalhistas da produção.

A assistência do governo inclui a redução de impostos corporativos, subsídios e políticas anti-trabalhistas, como a proibição de sindicalização e a abolição do salário mínimo.

Sob tais circunstâncias, os americanos não confiam nas diretrizes e diretrizes do governo, supostamente implementadas para proteger as pessoas do vírus.

A diretriz do CDC (Centros de Controle de Doenças) para auto-quarentena, distanciamento social e uso de máscaras faciais tem pouco efeito. Há outro produto do neoliberalismo que é problemático. Quero dizer o seu credo de concorrência ilimitada.

É verdade que a concorrência promove eficiência e melhor qualidade dos produtos. No entanto, à medida que a competição continua, o número de vencedores diminui, enquanto o número de perdedores aumenta. A economia acaba sendo governada por um punhado de vencedores poderosos. Isso leva à segregação dos perdedores e leva à discriminação das pessoas por nível de renda, religião, raça e cor da pele.

No contexto atual, em grande parte como resultado da política do governo, há pouca ou nenhuma solidariedade social; cada indivíduo tem que resolver seus próprios problemas. Fiquei triste quando vi na televisão uma jovem da Califórnia dizendo:

“Ser morto pelo COVID-19 ou morrer de fome é o mesmo para mim. Eu abro minha loja para comer!

Isso mostra como os cidadãos americanos são deixados em paz para combater o coronavírus. Além disso, o neoliberalismo tem outro legado infeliz; é o aumento e o aprofundamento da desigualdade de renda.

Os EUA são o país mais rico do mundo, mas também é o país onde a desigualdade de renda é a mais acentuada. Voltarei a esta questão na próxima seção. Em relação à crise do vírus da coroa, desigualdade de renda significa um exército daqueles com maior probabilidade de serem infectados e incapazes de seguir as diretrizes do CDC de testes, auto-quarentena e distanciamento social. Finalmente, a privatização dos serviços públicos de saúde deixou todo o país despreparado para o ataque do vírus.

De fato, nos EUA não há sistema de saúde pública. Por três meses após o primeiro surto do vírus, o país carecia de tudo o necessário para combater o vírus.

- Faltaram kits de teste e EPI (equipamento de proteção individual);

- não havia quartos suficientes para acomodar os infectados;

- havia escassez de pessoal médico qualificado;

faltavam máscaras faciais.

Assim, o neoliberalismo fez os EUA não apenas perderem o tempo de ouro para impedir a fuga inicial, mas também deixaram a onda de vírus continuar. Ninguém sabe quando vai se acalmar. De fato, em 4 de julho, havia 2,9 milhões de infectados e 132.000 mortes; isso dá uma taxa de mortalidade de 4,6%. Dada a população americana de 328 milhões, temos 402,44 mortes por milhão de habitantes, o que é um dos mais altos entre os países desenvolvidos. O problema é que a onda de vírus ainda está aumentando cada vez mais. Em 4 de julho, os casos confirmados aumentaram 50% em duas semanas em 12 estados e aumentaram 10% para 50% em 22 estados.

Covid: a saída nas mãos de indústrias sem ética



#Escrito e publicado em português do Brasil

Em meio à pandemia, cresce a ansiedade por uma resposta da Ciência. Pode ser ilusão. Fraudes, subornos e sabotagens mostram a pesquisa sequestrada por corporações cuja lógica é o lucro máximo – inclusive às custas da Saúde

Maurício Abdalla* | Outras Palavras

Ciência, poder e mercado

No século XVII, o desejo por uma sociedade regida pelas leis do mercado compunha o ideal revolucionário da burguesia europeia, cujo poder vinha crescendo cada vez mais no interior do sistema feudal em crise. Acreditava-se que as relações sociais guiadas unicamente pelas regras mercantis possuíam um potencial libertário, capaz de construir o reino da liberdade em contraposição ao domínio fundado na hierarquia social.

Para que esse desejo se tornasse realizável, era preciso substituir a cosmovisão naturalista baseada na física e metafísica aristotélicas, que sustentava a ordem feudal no plano intelectual, por um saber que reproduzisse na subjetividade social as relações de mercado que já se estabeleciam objetivamente na história. O estudo do mundo por meio da nova filosofia natural cultivada na Renascença possuía um caráter de ruptura com toda a tradição de conhecimento (amparada no aristotelismo cristão) que naturalizava e dava suporte teórico às relações feudais. O nexo entre conhecimento e poder caracterizava-se, naquela época, por esse contexto socioeconômico.

O desenvolvimento da ciência moderna, em suas origens, estava profundamente relacionado à ideia de um conhecimento libertador, em contraposição ao saber submetido aos interesses das castas feudais dominantes. Enquanto o apego à física aristotélica relacionava-se à postura conservadora, refratária às mudanças na ordem social e econômica, a defesa de uma nova filosofia natural (que hoje chamamos de ciência) compunha o ideal revolucionário, que em alguns países, como a Inglaterra, já estava em vias de concretização.

Foi nesse contexto que o filósofo inglês Francis Bacon, considerado o “profeta da ciência moderna”, vislumbrou na ciência um instrumento para um novo poder. “Conhecimento e poder humano são sinônimos”, escreveu o filósofo no terceiro aforismo de sua obra Novum Organum, de 1620, acrescentando, no aforismo 129, que “Agora o império do homem sobre as coisas está fundado unicamente nas artes e na ciência, pois a natureza só é dominada obedecendo-a”.1

A tese baconiana de que o poder decorre do saber e de que a ciência e sua aplicação são os fundamentos últimos e únicos do domínio humano sobre o mundo passou a compor a concepção moderna de ciência. O saber científico ainda tem sido visto como a luz que deve guiar os seres humanos em suas decisões cotidianas (individuais e sociais), como vislumbrado por Bacon em sua utopia da Nova Atlântida.2

Bacon acreditava em uma ciência sem sujeito. Para ele, a verdadeira ciência seria aquela na qual todos os elementos subjetivos do pesquisador, relacionados à vida social e econômica, interesses, concepções, crenças, linguagem etc. – que ele chamou de ídolos – seriam eliminados para dar lugar à fala neutra e direta da natureza. Seus agentes seriam capazes de se purificar totalmente dos ídolos e de usar um método infalível baseado na observação e indução. Do esforço desse grupo quase sacerdotal de pessoas purificadas e livres das influências do contexto socioeconômico e cultural adviriam as verdades naturais às quais o poder deveria submeter-se.

A visão baconiana ainda compõe a ideia popular sobre a ciência. A sociedade ainda a concebe como o resultado da prática de cientistas desinteressados e sem vida social – representados na imagem mítica do “cientista louco” de cabelos desgrenhados –, que realizam seus trabalhos em laboratórios próprios ou em universidades livres, sem financiamento ou direcionamento de resultados. O poder do qual gozam as decisões supostamente embasadas na ciência e o controle que todo discurso cientificamente construído exerce sobre nossas vidas amparam-se nessa visão idílica sobre a prática científica.

Entretanto, no mundo real, a história revelou-se bem diferente. Tão logo as regras do mercado e a classe social que as manipulam tornaram-se hegemônicas na sociedade ocidental, a ciência foi perdendo sua característica de conhecimento desbravador da natureza e de saber vinculado a um ideal libertário de poder para reduzir-se a força produtiva, capaz de multiplicar os lucros das empresas e ampliar a capacidade da indústria para transformar os elementos naturais em produtos comercializáveis.

Embora a ciência teórica ainda guarde a dimensão original do saber científico como forma de conhecimento sobre a natureza – e talvez por isso seja cada vez mais desprestigiada –, a ciência aplicada e sua conversão em tecnologia confundiu-se com o próprio conceito de ciência.

O ideal baconiano revelou-se um mito tanto pelas razões teóricas trazidas pela filosofia da ciência do século XX, quanto pelo desenvolvimento real do mundo. O que podemos afirmar, afastados do contexto em que Bacon elaborou suas ideias, é que não existe saber sem sujeito e não há sujeito que não seja determinado pelas relações socioeconômicas e culturais que o envolvem. Tampouco existe ciência fora de um contexto socioeconômico, sem local ou recursos, nem laboratórios que não demandem volumosos investimentos financeiros para custear os gastos que a ciência avançada necessita para sua consecução.

Sabemos também que as relações reais de poder no capitalismo são determinadas pelo dinheiro. Consequentemente, uma vez que os possuidores do dinheiro são os que detêm o poder real no mundo capitalista, o saber da ciência, principalmente em sua dimensão pragmática, revelou-se profundamente dependente do poder econômico. Mesmo quando pensamos em investimentos públicos em pesquisa, devemos ter em mente o controle que as grandes corporações privadas exercem cada vez mais sobre a gestão dos Estados e de seus orçamentos – o que nos leva à conclusão sobre a primazia do poder sobre o saber.

Atualmente, não há investimento em ciência sem interesses mercantis. Os casos de bilionários que doam recursos à ciência por meio de suas instituições sociais são exceções, muito pouco frequentes para serem usadas como contraexemplo à ideia da relação entre o financiamento da ciência e os interesses do mercado. Ademais, a ciência que se faz com as doações de fundações também se insere em um conjunto de outros interesses que envolvem cientistas e instituições que recebem esses recursos.

No mundo real, portanto, ao contrário da tese baconiana, o saber é decorrente do poder, justamente pelo fato de que a dimensão pragmática da ciência necessita de recursos e, ao mesmo tempo, seus resultados são direcionados e apropriados pelos interesses mercantis que os financiam.

Poderíamos exemplificar as afirmações acima com incontáveis exemplos. Por razões de brevidade, tomemos apenas o caso conhecido como o “affair Séralini” como ilustração mais recente. Ao refletir sobre esse episódio de intervenção direta da indústria de biotecnologia na prática, conclusões e publicações científicas, Fagan, Traavik & Bøhn afirmam:

Ao contribuir para o avanço do bem estar da humanidade, a ciência tem sido a galinha que pôs muitos ovos de ouro de grande proveito para o setor empresarial. Porém, quando os resultados das pesquisas não estão em sintonia com as prioridades comerciais de curto prazo, não parece hav­er qualquer hesitação para tentarem interferir nos processos científicos e manipulá-los. 3

As regras do mercado são fundadas na maximização dos lucros e na quantificação de toda a realidade. Os mecanismos reais que possibilitam a obtenção de lucro (comércio, indústria, serviços, atividade bancária, agricultura, pecuária etc.) são apenas meios necessários para a obtenção de um único o fim: a reprodução do capital. Como simples mediações, eles perdem toda sua concreticidade real e se tornam meios abstratos direcionados a resultados monetários. Não há outra ética no julgamento da manipulação dos meios que geram lucro que não seja a que se rege pelo único princípio: se dá lucro é bom, se dá prejuízo é mau. “Bem“ e “mal” tornam-se conceitos subsumidos à ideia geral de mercado como princípio absoluto.

Quando as mediações para a produção de riqueza monetária estão diretamente relacionadas ao equilíbrio da natureza e à saúde e sobrevivência do ser humano, as consequências da utilização da ciência na prática industrial pautada apenas na ética do mercado são enormes. Pois, quando a natureza e o mundo microbiológico são transformados em meios abstratos quantitativamente concebidos em sua potencialidade comercial, os diversos efeitos concretos de sua manipulação não entram nos cálculos e planejamento de metas das corporações. Importa apenas o seu potencial de geração de lucros para os acionistas anônimos – para os quais pouco importa o que realmente fazem as empresas nas quais investem: elas são apenas números e gráficos no mercado de ações.

É justamente nesse campo que se insere a reflexão mais importante sobre a ciência como força produtiva e seu papel no desenvolvimento da sociedade.

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