#Publicado em português do Brasil
Boulos aparece atrás de Covas em São Paulo, mas conquista
protagonismo inédito para o Psol. Em Porto Alegre, Manuela D'Ávila tenta capitalizar
vitrine de 2018. Disputa no Recife divide esquerda.
Após o avanço de velhos partidos
de centro e direita e o fracasso das candidaturas bolsonaristas no primeiro
turno, os olhos se voltam no segundo turno para o desempenho de candidatos que
podem representar uma nova cara para a esquerda: mais jovem e não ligada
necessariamente ao PT.
O principal nome em evidência é o
de Guilherme Boulos (Psol), de 38 anos, que disputa o segundo turno com Bruno
Covas (PSDB) em São
Paulo. A última pesquisa Datafolha aponta que Boulos
permanece atrás de Covas, com 46% dos votos válidos, contra 54% do tucano. No
entanto, o psolista conseguiu diminuir a desvantagem pela metade nas últimas
duas semanas, acendendo alertas na campanha do PSDB.
Em Porto Alegre, Manuela
D'Ávila (PCdoB), de 39 anos, disputa o segundo turno com Sebastião Melo (MDB).
Ele aparece à frente, com 54% dos votos válidos, segundo pesquisa Ibope.
Manuela tem 46%.
No Recife, há um caso chamativo
de disputa dentro do próprio campo da esquerda e de um mesmo clã político, com
Marília Arraes (PT) e o deputado federal João Campos (PSB), que são primos.
Marília, de 36 anos e neta do ex-governador Miguel Arraes, aparece com 52% dos
votos válidos, segundo o Datafolha. Já Campos, de 27 anos e filho do
ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Arraes, aparece com 48%. A disputa
tem sido acirrada, com Campos apostando no antipetismo para derrotar Marília.
Em Fortaleza, a disputa envolve
um candidato do clã Gomes, Sarto (PDT), que tem 60% das intenções de votos
válidos segundo o Ibope, e Capitão Wagner (PROS), que tem 40% e é um dos poucos
candidatos alinhados com o bolsonarismo na disputa do segundo turno nas
capitais.
Em Belém, o Psol tenta conquistar
a prefeitura com Edmilson Rodrigues, que soma 52% das intenções de votos
válidos, segundo o Ibope, contra o Delegado Federal Eguchi (Patriota), outro
candidato bolsonarista.
Boulos tenta virada e solidificar
ascensão do Psol
São Paulo volta a ser palco neste
ano de mais uma disputa acirrada entre forças de direita ou centro e a
esquerda. Mas pela primeira vez tal disputa não contou com um candidato
competitivo do PT desde a volta das eleições diretas para prefeito em 1985. O
petista Jilmar Tatto terminou o primeiro turno com 8,65% dos votos sem nunca
ter decolado nas pesquisas. O papel de um candidato forte de esquerda acabou
sendo assumido pelo psolista Guilherme Boulos, líder do Movimento de
Trabalhadores Sem Teto (MTST).
A tomada do protagonismo pelo
Psol em São Paulo
também é vista como um teste para determinar o potencial de forças de esquerda
não petistas em 2022 e contrapor o desgaste sofrido pelo PT nos últimos anos.
Em números, o Psol ainda é nanico
em comparação com o PT, mas registrou uma trajetória ascendente no primeiro
turno, ao contrário do "irmão mais velho". Enquanto a presença de
petistas nos legislativos municipais caiu de 2.815 vereadores para 2.665, o
Psol aumentou a presença de 56 para 89. O PT ainda ganhou 179 prefeituras no
primeiro turno, contra 254 em 2016. O Psol passou de duas para quatro.
O resultado do segundo turno
neste domingo deve demonstrar qual é o potencial de Boulos. Nos últimos dez
dias, sua desvantagem contra Bruno Covas, atual prefeito da cidade, caiu pela
metade, passando de 16 para oito pontos percentuais. Ele ainda conseguiu formar
uma frente de apoio com o PT, PDT, PCdoB, Rede Sustentabilidade, PCB e Unidade
Popular (UP), no que foi classificado por um deputado petista como uma
"semente" para a disputa presidencial de 2022.
Apesar dos números em ascensão, o
histórico das eleições paulistas não é favorável. Desde 1988, quando as
eleições municipais passaram a contar com dois turnos, só um candidato
conseguiu uma virada em relação aos resultados do primeiro turno: Fernando
Haddad (PT) em 2012, que havia ficado pouco atrás de José Serra (PSDB).
Mas neste ano atípico de
pandemia, outros fatores podem desempenhar um papel decisivo. Com sua vantagem
diminuindo, a campanha de Covas vem acendendo o alerta para o risco de alta
abstenção. No primeiro turno, ela já havia sido alta na capital paulista, com
29,3% dos eleitores não comparecendo, seja por fatores como desinteresse
ou a pandemia.
Covas tem uma vantagem ampla
justamente sobre os eleitores mais velhos, que pertencem ao grupo de risco da
covid-19. Segundo o Datafolha, o tucano conta com 61% das intenções de voto
entre aqueles que têm mais de 60 anos. Já Boulos tem 61% nos eleitores entre 16
e 24 anos.
Nos últimos dias, a campanha
paulistana também tem sido marcada por acusações, conforme o segundo turno
se aproxima. A campanha de Covas foi acusada de compra de votos após aliados do
prefeito terem sido filmados distribuindo cestas básicas em São Paulo, ao mesmo
tempo em que um caminhão de som tocava um jingle da campanha tucana. Boulos
também concentrou ataques no vice de Covas, Ricardo Nunes (MDB), que já foi
acusado pela mulher de violência doméstica.