O confinamento vai continuar
Com números ainda elevados de vítimas
por covid-19 e associadas, Marcelo, o PR, considerou que ainda devemos
prolongar o confinamento. Há os que bradam pelo fim do confinamento… Ai, ai, a
economia. Ai, ai, que se lixem as pessoas, os portugueses e outros
Não por estas palavras mas sim naquelas que pode ler a seguir, deixamos a seguir o Curto. Vá nessa. E pense, confronte, duvide. Pense. Opte por aquilo que realmente lhe interessa, que é estar vivo e saudável. Proteja-se, assim como aos seus, e aos outros. Seja solidário(a).
Pense. Com a abertura das escolas, anteriormente, quantos idosos faleceram contagiados por covid-19? Quem os contagiou? Os netos? Existem números? Apuraram? Nem ouvimos falar disso… Pois.
Bom dia. Bom resto de semana confinada. Pela sua saúde. A seguir, curta o Curto, do Expresso. Vale.
Redação PG
Bom dia, este é o seu Expresso Curto
No dia em que se renova o confinamento, o tema principal é o desconfinamento
João Pedro Barros | Expresso
Bom dia,
O ritual cumpre-se pela 12.ª vez: o Presidente ouviu os partidos e o decreto do
novo estado de emergência seguiu para a Assembleia da República, que o irá
aprovar hoje (a sessão plenária arranca às 15h), graças aos votos
garantidamente favoráveis do PS e do PSD. Seguindo o guião, Marcelo deve
dirigir-se ao país às 20h.
O confinamento (que arrancou a 15 de janeiro) será assim estendido pelo menos
até 16 de março, ultrapassando os 45 dias de duração em março, abril e
maio de 2020. Porém, o grande tema na agenda nacional é mesmo o desconfinamento.
A situação é ao mesmo tempo paradoxal e compreensível. Paradoxal porque o
Governo, entre maio de 2020 e janeiro de 2021, fugiu tanto da palavra
confinamento como um ator de de dizer “MacBeth” dentro de um teatro. Depois
viveu-se a situação contrária: com medo de despertar os fantasmas do
facilitismo natalício, a palavra desconfinar foi rigorosamente confinada
por António Costa.
Por outro lado, é compreensível que seja o vislumbre de uma maior liberdade a
ocupar a cabeça dos portugueses – quem se sentir confortável com as atuais
restrições que atire a primeira pedra, ainda que esta sondagem do JN, DN e TSF
mostre que quase
metade dos cidadãos apoie um confinamento até à Páscoa. Nada nos deve
livrar do estado de emergência até inícios de abril, mas também parece óbvio
que há mais hipóteses de atingirmos o sucesso se houver uma meta à vista.
Será esta a abordagem do Presidente da República, que tem disfarçado mal o
irritante que parece, pelo menos, estar a desgastar as relações com o Governo.
No decreto
presidencial em que renova o estado de emergência, Marcelo Rebelo de Sousa
insiste no que já tinha pedido ao Governo há 15 dias: que "o futuro
desconfinamento deve ser planeado por fases, com base nas recomendações dos
peritos e em dados objetivos, como a matriz de risco, com mais testes e mais
rastreio, para ser bem-sucedido".
Só muito timidamente o tabu está a ser desfeito. Primeiro foi Mariana Vieira da
Silva, no sábado, a confirmar que o desconfinamento
comecará pelas escolas. Ontem, após a conversa com Marcelo, o
secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, lá revelou que o plano
de desconfinamento está a ser preparado “com as autoridades de saúde”. Em
Belém, Costa terá informado o chefe de Estado de que o tema está a ser tratado
com um grupo restrito de peritos. A pressão alta de Marcelo terá finalmente
aberto uma brecha no “blackout” do Governo, que também já
começou a ser “apertado” pelos partidos, nomeadamente por Rui Rio, que
pediu linhas verdes: ainda mais do que quando, o líder do PSD quer saber “em
que circunstâncias” se vai reduzir o grau de limitação de movimentos dos
cidadãos.
O executivo parece estar na mesma situação dos treinadores que repetem à
exaustão o cliché de que só estão preocupados com o próximo jogo, mesmo que ele
seja apenas para cumprir calendário e que se siga a final da Liga dos Campeões.
O objetivo é que não chegue uma mensagem de facilitismo ao balneário, mas o
problema é que em competição há sempre algum prémio para perseguir.
Quando já vários países fazem planos para o desconfinamento (como Inglaterra ou
a Alemanha,
onde o processo de vacinação até
está a merecer críticas), será estranho pedir um mapa que nos guie? É
verdade que não nos portamos bem no Natal passado, mas no último mês os números
dizem-nos o contrário: ontem foi o dia com menos mortes desde novembro e
os internados estão de volta aos níveis do Natal, ainda que – sobre isso não se
deixem dúvidas – demasiado altos para se tirar já o pé do travão. A propósito
de critérios para analisar o presente e o futuro pandémico, pode ler este texto
da Raquel Albuquerque sobre o
que disseram quatro matemáticos no Parlamento: em resumo, é o Rt, estúpido.
OUTRAS NOTÍCIAS
Festivais – Poderão realizar-se este ano? O JN escreve hoje que a DGS já deu luz verde a eventos-piloto que deverão
decorrer no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, e no Campo Pequeno, em Lisboa, mas só
após o desconfinamento. Será obrigatório fazer testes rápidos à entrada.
Vacinação – Parecia mais ou menos inevitável que acabássemos por ponderar
seriamente a hipótese de adiar a segunda dose das vacinas. O coordenador da
“task force” revelou ontem que, alargando em duas semanas o período entre
tomas, será possível aplicar
a primeira a mais 200 mil pessoas até final de março (os números
mais recentes apontam que há quase 250 mil pessoas que já concluíram o
processo). Gouveia e Melo admitiu ainda que pode ser necessário desenhar um
novo plano de vacinação.
Prioridades – A propósito, um estudo publicado na revista “The Lancet
Psychiatry” recomenda
a vacinação prioritária de pessoas com doença mental grave, um dos
“principais fatores de risco” na covid-19.
Coordenação – É isto que procuram os líderes dos 27 países da União
Europeia em relação à pandemia, numa espécie de Conselho Europeu informal, por
videoconferência. A
Susana Frexes explica-lhe o que se vai discutir – os potenciais
atrasos nas entregas da AstraZeneca serão um tema inevitável. Em
Portugal, o ministro Augusto Santos Silva admitiu que podem originar "recalendarizações"
do plano português.
Minimalista – Será assim a tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa, a 9
de março, na Assembleia da República, com
apenas 100 convidados.
Apoio – De António Costa, em nome do Governo português, à recandidatura
de António Guterres ao cargo de secretário-geral da ONU.
Paredão – Reportagem do Hugo Tavares da Silva e do Tiago Miranda no reaberto
paredão de Cascais, onde nem sempre se cumprem as regras.
Julgamentos – Em Portimão, “acabou-se
o amor e as versões alteraram-se”, no primeiro dia do julgamento do
homicídio e da profanação do corpo de Diogo Gonçalves, no que também ficou
conhecido como o caso “Dexter”; no caso SEF, uma
testemunha mudou a sua versão de manhã e outra durante
a tarde, implicando os inspetores que, diz o Ministério Público, terão
espancado Ihor Homeniuk até à morte.
Investigação – O caso do jovem que confessou nas redes sociais ter violado
uma mulher: o
que diz a polícia, o que diz a lei e o que diz a psicologia.
Desemprego – Saiba quais são os
concelhos mais afetados em Portugal.
Lembrete – Hoje termina o prazo para os contribuintes validarem
as faturas pendentes no portal e-fatura, para efeitos de IRS.
Podcasts – Tem para ouvir novos episódios do Expresso
da Manhã (a pergunta de partida é se os candidatos autárquicos
independentes têm medo dos partidos), Money
Money Money (o preço das casas vai mesmo baixar?) e da Comissão
Política (como estão o Governo português e os de fora a resistir à
crise?).
EUROPA E A PRESIDÊNCIA PORTUGUESA
A pandemia não é a única frente de batalha europeia. Esta quarta-feira foi
anunciado um novo plano para as alterações climáticas que, na
verdade, é de combate mas, simultaneamente, de resignação e adaptação. O
vice-presidente da Comissão Europeia lembrou que “já não há vacina contra as
mudanças climáticas; só há preparação” e que, por isso, há que “evitar o pior e
preparar o inevitável”. Os custos anuais provocados pelos efeitos das
alterações climáticas na União Europeia ultrapassam
já os 12 mil milhões de euros anuais e, se não se travar a subida das
temperaturas, podem chegar aos 170 mil milhões de euros por ano.
Os responsáveis das farmacêuticas que têm a seu cargo a produção das vacinas
contra a covid-19 vão estar hoje no Parlamento Europeu para participar no
debate em torno da escassez e dos atrasos na entrega das mesmas que tanto
desesperam os europeus. Numa altura em que a União Europeia enfrenta críticas
quanto à forma como conduziu o processo, a que tem respondido pondo o ónus nos
fornecedores, chegou a altura de ouvir o que têm a dizer a AstraZeneca, a
Moderna, a Johnson & Johnson, a Pfizer (e outras) aos deputados
europeus.
FRASES
“Não vou sair por pé nenhum porque não me sinto responsável por esta crise do
Benfica. Nem eu, nem os meus jogadores nem o presidente. Devia haver um buzinão
para nos dar carinho.”
Jorge Jesus, treinador no Benfica, na antevisão
ao jogo de hoje (às 17h55, com transmissão na SIC) frente ao Arsenal,
que vai ditar o futuro do clube na Liga Europa. Ontem, ao final da noite, houve
um buzinão
nas imediações do Estádio da Luz em protesto contra a gestão do
presidente Luís Filipe Vieira
“É verdade que os árbitros entram em campo sob brasas e é também verdade que a
sua missão, nesta fase, é terrível, mas isso não desculpa tudo. As suas
atuações têm-se caraterizado por uma irregularidade gritante e isso é notório
mesmo quando em campo estão os mais experientes e cotados.”
Duarte Gomes, ex-árbitro de futebol, numa
crónica publicada na Tribuna
“Recebo mais amor na música do que no futebol.”
Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero e comentador de futebol, enquanto
adepto do FC Porto, ao
podcast Posto Emissor, da Blitz
O QUE EU ANDO A LER
Foi uma boa surpresa que me chegou às mãos em pleno dia de São Valentim: “Parem
as máquinas!” é uma compilação de episódios e desventuras do
jornalismo português desde o final do século XIX até ao início da década de
São relatados casos que, maioritariamente, são tiros jornalísticos ao lado. Por
exemplo, em 1914, o extinto “O Mundo” anunciou em manchete que tinha sido
eleito um Papa português, o cardeal José Neto. O jornal foi propositadamente
enganado por Joaquim Madureira – ex-jornalista e então secretário do chefe de
Governo, Bernardino Machado –, cansado das fugas de informação internas.
Bastou-lhe falsificar um telegrama e simular um telefonema para o Patriarcado
para dar credibilidade à informação.
Outra história deliciosa passou-se em 1971. Um grupo de amigos, do qual faziam
parte o piloto Nicha Cabral e o chefe de cozinha Michel da Costa, simulou no
restaurante Tavares Rico, em Lisboa, fazer parte de uma comitiva de árabes
que vinha negociar a compra de petróleo angolano. Em plena crise petrolífera, a
notícia – com foto e tudo – chegou à primeira página de “O Século”.
Talvez com menos graça faz ainda parte do livro de Gonçalo Pereira Rosa a
história de uma entrevista a Adolf Hitler, assinada por Félix Correia, do
“Diário de Lisboa”. O termo entrevista será um manifesto exagero, porque o
enviado especial à Alemanha não chegou a fazer qualquer pergunta. Hitler
aproveitou para fazer uma operação de charme e anunciar o interesse numa
“amizade recíproca" entre os dois países.
Félix Correia – que, conta o autor, nunca escondeu a simpatia pelo regime nazi
– viu-se mais tarde censurado precisamente por esse motivo. Em 1940, reuniu em
livro várias crónicas, incluindo as dessa viagem à Alemanha, dedicando a obra
ao então Presidente Carmona e a Salazar. Erro crasso: o Estado Novo não queria
ser associado a Hitler e os exemplares não vendidos foram apreendidos. O
nome de Félix Correia – elogiado por vários jornalistas que com ele trabalharam
– está hoje numa praça na Amadora e em ruas em Lisboa e Sintra.
O QUE EU ANDO A OUVIR
Às vezes é difícil, ou mesmo impossível, localizar a semente que nos levou a
gostar de uma determinada banda ou músico. Foi um amigo que nos recomendou?
Ouvimos na rádio? Lemos uma crítica numa revista? Neste caso, fica registado
para a posteridade como comecei a gostar dos londrinos Shame: uma referência na
entrevista de Adolfo Luxúria Canibal ao suplemento de sexta-feira da nossa
revista, com 1001 ideias para ocupar o tempo em plena pandemia.
O que descobri em “Drunk Tank Pink”, o segundo disco da banda, editado em
janeiro, é a enésima reencarnação do pós-punk, um género condenado à morte
praticamente desde o início dos anos 1980, com a popularização da pop de
sintetizadores. As brilhantes
Savages – também originárias de Londres e atualmente em pousio –
tinham sido a última banda do género que me tinha trazido esta sensação de
frescura.
Se a descrição acima lhe chamou a atenção, experimente “Snow day”, uma
verdadeira montanha russa de texturas de guitarra, ritmos e andamentos. Ou o
primeiro single “Alphabet”,
uma canção mais punk, direta e orelhuda. Ou “March
Day”, que nos remete para os universos dos Fugazi ou dos Talking Heads (já
sei, fasquia elevada) e para as experiências mais desconstrutivas da “no wave”
do final dos anos 1970.
Os Shame não inventaram nada de propriamente novo? Concordo, mas ouvi-los
sabe bem na mesma.
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