Há um "silêncio ensurdecedor" por parte do Presidente Filipe Nyusi sobre o seu suposto envolvimento no maior escândalo de corrupção de Moçambique.
No caso das dívidas ocultas, Filipe Nyusi não se tem comportado como "empregado do povo", como ele próprio se autointitulou no início do primeiro mandato como Presidente de Moçambique.
Recentemente, a Privinvest e o seu proprietário Iskandar Safa alegaram ter pago a Filipe Nyusi um milhão de dólares e comprado um carro para a sua campanha eleitoral de 2014. As alegações foram feitas no contexto da ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) moçambicana no Tribunal Comercial do Tribunal Superior de Londres. Mas foi com silêncio que o estadista respondeu ao seu "patrão".
"O Presidente devia esclarecer isso imediatamente", comenta João Mosca.
Segundo o economista, isso implicaria, "levando as coisas às últimas consequências, a sua demissão imediata para efeitos de facilitarem e criarem condições para que todos os processos judiciais decorressem normalmente e sem a sua defesa e imunidade enquanto Presidente da República".
Não é a primeira vez que Nyusi opta pela mudez, num gesto de desconsideração para com o seu eleitorado. Em 2019, quando o negociador da Privinvest, Jean Boustani, revelou no julgamento ligado às dívidas ocultas, nos EUA, que o estadista tinha recebido dinheiro para a sua campanha, Nyusi também não deu satisfações, o que era esperado de si por uma questão de moral e ética.
Silêncio em nome da salvaguarda?
Há quem considere que o seu silêncio visa não se comprometer. O sociólogo Moisés Mabunda diz que, sendo esta uma matéria que está nos tribunais, esse poderá ser "um ato de prudência para evitar qualquer outra interpretação, mais do que aquela que está a correr nos tribunais."
O sociólogo sublinha que "ainda não tivemos a sentença do tribunal que diga o que aconteceu. O caso ainda não foi julgado. Penso que é uma questão de salvaguarda de si próprio ou da posição [que ocupa], porque não basta dizer se está ou não envolvido, teria de fornecer mais dados."
Povo espera respostas
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) garantiu esta semana a inocência de Nyusi, mas há alegações contra o mais alto representante do Estado moçambicano a que ele não poderá fazer ouvidos de mercador.
No entender de João Mosca, logo que começaram a haver evidências de corrupção sólidas sobre as dívidas ocultas, todo o Governo na altura devia ter sido demitido. Mas o analista lembra que é impossível tal acontecer pela natureza do poder em Moçambique.
"Esse é um principio ético e de comportamento político que jamais existirá num partido [FRELIMO] conhecido pelas mais diferentes formas de repressão violenta. E queremos que haja um pronunciamento do Presidente da República sobre isso", pede.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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