quarta-feira, 10 de março de 2021

MEMÓRIA DIGNA DO HERÓICO COMANDANTE HUGO CHAVEZ

 Martinho Júnior, Luanda 

“Partilhamos com a Mãe África a luta pela independência para alcançar a felicidade dos nossos povos. Com a Ordem, honramos os seus líderes por quebrar as cadeias do colonialismo” – Citação do Presidente Nicolas Maduro Moros - https://noticiasdonorte.publ.cv/113179/venezuela-presta-homenagem-aos-lideres-africanos-da-independencia/ 

“El comandante Hugo Chávez nos enseñó a ver el continente africano como nuestra madre África, no solo porque nos unen raíces históricas y étnicas, sino porque compartimos el mismo destino y futuro, por ello la importancia de nuestra unidad”

- Citação do Presidente Nicolas Maduro Moros - https://saberesafricanos.net/noticias/cultura/6029-gobierno-venezolano-confiere-orden-francisco-de-miranda-a-seis-lideres-independentistas-de-africa.html?fbclid=IwAR3vfPYBHfPPyPxZNgUsVmYAmDC5VRVo5daP5iTisBfCgGCnAue91SIJTJ
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01- A 5 de Março de 2021, os combatentes da liberdade no imenso espaço da Tricontinental tiveram a oportunidade de honrar a memória e os ensinamentos do Comandante Hugo Chavez. (http://patrialatina.com.br/a-vigencia-do-legado-de-chavez-oito-anos-apos-sua-partida-fisica/).

Este ano, o 8º após o desaparecimento físico do Comandante, a África Austral teve o ensejo de corresponder com um elevar da fasquia dessa memória comum transatlântica, que une todos os combatentes que lutaram de armas na mão pela libertação dos seus povos do jugo colonial, neocolonial e do “apartheid”, inspirando toda a África, toda a América Latina e toda a humanidade consciente, responsável e digna!

O Presidente-Comandante Nicolas Maduro Moros, enquanto destacado líder Não Alinhado e activo do movimento anti-imperialista contemporâneo, outorgou a Ordem Francisco de Miranda, 1ª classe a 6 entidades africanas que estão entre as personalidades historicamente mais representativas de toda a África Austral combatente: “rendimos un merecido homenaje a los líderes independentistas de la Madre África, continente con el que compartimos la lucha por alcanzar la suprema felicidad de los pueblos, siendo dueños de su propio destino, rompiendo las cadenas del colonialismo y del régimen del apartheid”. (https://twitter.com/NicolasMaduro/status/1367181591185883139).

A general Inga, camarada Luzia Inglês Van-Dúnem, Presidente da Organização da Mulher Angolana (OMA), foi a entidade angolana a quem foi outorgada a Ordem, neste mês de Março, o mês da Mulher e numa altura em que ela vai deixar a Presidência em função da idade avançada que já alcançou!... (https://twitter.com/NicolasMaduro/status/1367182174823321600?fbclid=IwAR3Xf5Y2MLgqybEb0cpRXUFwfTdAgtlODrVVdxSYvRoYtOVUn2ZVV2cHtRw).

02- Além da General Inga, a Ordem Francisco de Miranda foi atribuída a Sam Nujoma, (Samuel Daniel Shafiishuna), o primeiro Presidente da Namíbia, a Joaquim Chissano, o ex-Presidente de Moçambique que sucedeu a Samora Machel, a Netumbo Nandi-Ndaitwah, Ministra das Relações Exteriores da Namíbia, a Oppah Muchinguri Kashiri, Ministra da Defesa do Zimbabwe e por fim, a título póstumo, a Oliver Tambo, que em vida chefiou a partir do exílio o ANC da África do Sul, na sua longa luta contra o “apartheid”! (https://saberesafricanos.net/noticias/cultura/6029-gobierno-venezolano-confiere-orden-francisco-de-miranda-a-seis-lideres-independentistas-de-africa.html?fbclid=IwAR3vfPYBHfPPyPxZNgUsVmYAmDC5VRVo5daP5iTisBfCgGCnAue91SIJTJE).

Há que evidenciar os critérios seguidos na outorga em relação às 6 entidades africanas:

- Três mulheres e três homens, seis combatentes, um deles a título póstumo;

- A muito merecida escolha do camarada Oliver Tembo para a medalha a título póstumo.

O camarada Oliver Tambo foi, entre o escol do ANC da África do Sul, o que o dirigiu durante anos a luta a partir do exílio, numa altura em que se formalizou a Linha da Frente, a partir da qual se havia de derrotar o “apartheid”. (https://www.sahistory.org.za/people/oliver-reginald-kaizana-tambo).

Ele era então, incontornável na acção político-diplomática, até pela clarividência que demonstrou em lidar contra os fundamentalistas do “apartheid”, sem abrir brechas em relação ao elitismo seguidor de Cecil John Rhodes, que tanto peso de influência possuía e possui ainda na África do Sul e nos países de assumida cultura anglo-saxónica, quer os do núcleo-duro do império de hegemonia unipolar, quer os outros que preenchem a vassalagem da NATO!

De todos os dirigentes do ANC da África do Sul, Oliver Tambo foi talvez dos que mais se aproximou do espírito anti-imperialista do Comandante Hugo Chavez e de seus ideais bolivarianos, que tanto honram também o antecessor combatente vanguardista que foi o emérito Francisco de Miranda! (https://saberesafricanos.net/actividades/calendario/eventodetalle/0/-/-.html?rp_id=10701&fbclid=IwAR3uVB4wUQnK1IQDnTI7RRqkfqskNpG03G-cTdEIm48T14OkmYHcMyvH4UM).

Na própria África do Sul contemporânea Oliver Tambo não tem sido suficientemente lembrado, mas quem alguma vez lidou com o ANC na altura do exílio enquanto vigorou a Linha da Frente contra o “apartheid”, conforme muitos combatentes internacionalistas nos quais eu pessoalmente me incluo, comprovam seu imenso mérito, em simultâneo com o mérito de Joe Slovo, que dirigia então o Umkhonto we Sizwe, o braço armado do ANC! (https://www.sahistory.org.za/people/joe-slovo).

Quando em 1977 o Presidente António Agostinho Neto, na qualidade de Comandante-em-Chefe das gloriosas FAPLA e o então Ministro da Defesa da República Popular de Angola Coronel Iko Carreira, se decidiram a abrir o então clandestino Campo de Instrução Internacionalista da Funda, onde fui instrutor, constatava-se unidade, coesão e enorme vocação de luta!

O corpo de instrução que tinha o camarada Eduardo Cruzeiro, “Alex” (internacionalista português) como seu chefe, teve a honra de se reunir com o camarada Joe Slovo no Miramar (Luanda) e aperceber-se dos esforços inauditos que então o ANC levava a cabo em condições tão difíceis, mas permitindo-se à humildade de partilhar com a SWAPO o mesmo campo de treino clandestino, apesar das diferenças entre as duas organizações, o distinto carácter de suas lutas e o estágio em que se encontravam os camponeses semianalfabetos mobilizados pela SWAPO e os intelectuais jovens universitários sul-africanos de origem suburbana e cosmopolita, mobilizados pelo ANC!

Creio que essa capacidade de confluência fazia parte do espírito de unidade e luta que norteou essa época decisiva, pois a África Austral constituía o fecho da luta armada de libertação contra o colonialismo e o “apartheid” iniciada em Argel e em 1976/77 podia-se sentir precisamente isso em Angola!

O camarada Joe Slovo brindou connosco essa iniciativa de unidade, coesão e luta, o que nos emocionou e mobilizou para levar até ao fim o êxito dessa missão que permaneceu praticamente clandestina até à década de 90 do século XX e praticamente desconhecida até hoje!

Com a outorga póstuma da Ordem Francisco de Miranda ao camarada Oliver Tambo, peço licença para com ela recordar entre todos os combatentes desaparecidos, os que tornaram possível aquele efémero passo da Funda, a começar o camarada Presidente António Agostinho Neto, até ao camarada instrutor Falume, digno e ignoto internacionalista moçambicano e naturalmente todos os guerrilheiros da SWAPO e do ANC, muitos deles com identidade forjada naquela altura!

03- O 8º ano em que se cultiva a memória do Comandante Hugo Chavez não podia ter sido melhor assinalado por todos os que preenchem hoje as trincheiras de luta nos dois lados do Atlântico Sul, numa altura em que a consciência sobre a IIIª Guerra Mundial do império da hegemonia unipolar contra o Sul Global se torna cada vez mais intensa! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/12/04/siglos-de-plomo/).

A Venezuela Bolivariana, sob a liderança do Presidente-Comandante Nicolas Maduro Moros, com esta outorga da Ordem Francisco de Miranda foi coerente com seu glorioso passado, com o passado de luta de libertação em África e soube exprimir a vontade de unidade e coesão dos povos que compõem o Sul Global, dez anos depois do ataque do AFRICOM e da NATO à Líbia.

Recordo que em 2011 foram as vozes da Venezuela Bolivariana e da África do Sul as que mais se fizeram ouvir em defesa diplomática internacionalista do Coronel Kadafi, ainda que sem o poder militarmente socorrer! (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/09/05/chavez-pede-que-paises-do-bric-e-da-alba-planejem-contra-ataque-na-libia.jhtm;  https://www.theatlantic.com/international/archive/2011/09/south-africa-stands-with-qaddafi/244584/).

Dez anos transcorridos, a outorga da Ordem Francisco de Miranda a ilustres africanos, também não pode ser equacionada de outro modo no espaço Tricontinental: há que fazer lembrar o desastre da Líbia e as suas repercussões (ainda não totalmente inventariadas) em África, por que a luta de “variável geometria” contra o imperialismo se impõe ainda neste século XXI a todos os emergentes de boa vontade, a todo o universo multipolar e a toda a humanidade cultora de respeito pela Mãe Terra e sedenta da paz digna e abrangente para todos os povos do planeta! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2020/10/06/cinturon-de-caos-en-el-paralelo-del-sahel/).

Martinho Júnior -- Luanda, 7 de Março de 2021

Imagens: Precursor Francisco de Miranda; Comandante Hugo Chavez e camarada Oliver Tambo.

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