domingo, 9 de maio de 2021

Angola | Pepetela vê Abel Chivukuvuku como ameaça para João Lourenço

Abel Chivukuvuku pode ser um candidato com perfil para defrontar João Lourenço nas eleições de 2022, entende Pepetela. Quanto à Isabel dos Santos, o escritor não acredita na sua entrada na corrida eleitoral.

Em entrevista conjunta à DW África e à Agência Lusa, o escritor angolano Pepetela afirma que a corrupção é uma das pragas mais difíceis de combater em Angola, apesar do anunciado empenho da governação do Presidente João Lourenço.

Entende que a luta contra o fenómeno constitui uma "experiência nova" para a qual o país não tinha estruturas e quadros devidamente preparados.  

"É preciso formar muita gente. Há muitas coisas a mudar certamente. Essas questões são extremamente complexas. Exigem muita experiência financeira. E o próprio Estado não estava preparado para encetar uma luta de tão grande dimensão. Vai demorar muito tempo", diz Pepetela. 

Falando de eleições gerais, o escritor acha que a conjuntura atual, marcada pela situação pandémica, poderá dificultar a ida às urnas. Admite que talvez em novembro de 2022 já haja condições para as realizar.

Nome de Chivukuvuku "está em todas as cabeças"

Pepetela tem, entretanto, alguma dúvida se o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), ganhará com uma maioria folgada como aconteceu no passado: "O que eu posso dizer é que talvez ganhe, mas não vai ganhar com a margem que ganhou antes. Vai se aproximar já muito do empate."

Entre os potenciais candidatos à Presidência, que poderão desafiar João Lourenço, Pepetela aponta o nome do político angolano Abel Chivukuvuku como elegível. 

"É um nome que está em todas as cabeças. Como é que isso vai ser resolvido? Eis a questão, porque é um bom candidato, tem apoio, sobretudo [porque] consegue movimentar bastante a juventude", considera Pepetela.  

O escritor pensa que isso pode ser uma ameaça para João Lourenço.

Sobre uma eventual candidatura de Isabel dos Santos, que já tinha manifestado essa intenção bem antes de se conhecer os escândalos financeiros envolvendo o seu nome, mostra-se duvidoso: "Não acredito muito [nisso]. Primeiro, porque ela nunca teve atividade política. Em princípio não tem experiência para isso e nem acredito muito que ela tenha esse desejo. Não sei. Não penso que fosse um candidato 'viável' para confrontar diretamente João Lourenço. Não me parece."

"Sempre houve municípios em que o MPLA não ganhou"

Em relação às autárquicas, Pepetela também tem dúvidas, não se sabendo se a indefinição em relação ao calendário tem a ver com eventuais receios do partido no poder vir a perder votos a nível dos municípios. E diz o seguinte: "O que o MPLA pensa não sei. Francamente, estou completamente desligado, não faço a mínima ideia".

"Mas sempre houve municípios em que o MPLA não ganhou, mesmo quando ganhava a 70% a nível nacional".  

Acredita, portanto, que haverá municípios em que a oposição, provavelmente a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), se apresentará com mais possibilidades de vitória. Embora seja difícil de se prever neste momento o que vai acontecer, Pepetela também admite que poderá haver surpresas nos próximos atos eleitorais, tendo em conta as movimentações em curso no seio da oposição. 

O escritor, que lutou junto do MPLA para a libertação de Angola, considera que "o programa do MPLA - aquele que foi apresentado na altura da tomada de posse do Presidente [João Lourenço] para cinco anos - certamente não será cumprido. É impossível". 

Já em "Geração da Utopia", o escritor mostrara a desilusão existente em Angola depois da independência, em 1975.

Pepetela premiado

Pepetela, ou Artur Carlos Pestana, galardoado em 1997 com o Prémio Camões, falou à DW e à Agência Lusa, à margem de um evento esta semana para assinalar o Dia da Língua Portuguesa, durante o qual também recebeu o Prémio de Literatura DST Angola, distinguido pela sua mais recente obra "Sua Excelência, de Corpo Presente" (2018). 

O escritor diz que o prémio entregue na quarta-feira (05.05) em Lisboa pelo primeiro-ministro português António Costa contribuiu para melhorar o seu vasto currículo, mas sublinha sobretudo a sua particularidade por ter sido criado por uma empresa privada portuguesa que atua em Angola no plano cultural. 

João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle

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