Semana começada já lá vai meio-dia. Mais um meio-dia do resto das nossas vidas, a lembrar o Sérgio Godinho. Mais desconfinados e a laborar. Explorados e oprimidos é o costume para milhões, sabemos, e de tanto sabermos nem vale falar, quanto muito podemos escrever numa pedra de gelo – como contributo para a tal festarola de sexta-feira que os votados e nem por isso, da UE, dizem que vão tratar no Porto.
Batizaram a reunião - de lavagem da trampa que socialmente têm concretizado na UE - de Cimeira Social… Errado, deviam chamar-lhe “Atirar Areia para os Olhos dos Povos da (des)União Europeia”. Mas não chamaram, nem vão chamar. Raramente usam a honestidade. São sempre assim, a apostarem no faz de conta, no engano. Esta coisa causa mesmo fartum.
Avançando, partamos para outra.
No PG, via uma sondagem, fazemos nota do crescimento da direita radical profascista. Pois. É de esperar. “Volta Salazar, nem precisamos de te perdoar porque nunca de nada de mal te acusámos” – devem pensar e dizer nas intimidades. O Hitler foi um grande sábio e enorme professor, quando demonstrou e deixou para a sapiência dos vindouros, que há muitos lanudos nos povos prontos a balir em mémés de apoio… É a vida, e a história repete-se quase sempre. Há muito que está demonstrado.
Agora abre-se o busílis do assédio sexual. Começou. Uma jornalista pôs a boca no trombone e zás! Querem apostar que a partir de agora vai ser um corrupio de “eu também, eu também”? Pois. Isso. Venham de lá elas e eles, os assediados. Muitos homens também já foram assediados pelas mulheres (essas doidonas). Venham eles à praça também meter as bocas no trombone! Isso mesmo. Pois.
Pedro Cordeiro é quem assina o Curto de hoje. Lembra-nos que hoje se celebra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Ora, ora. O que vimos são grupos endinheirados a comprar a dita liberdade e a dar-lhe uns toques aqui e ali, assediando essa tal liberdade e pagando mal e porcamente aos que trabalham e precisam da liberdade para comunicarem e relatarem como “assim vamos nós” aqui e ali. Em Portugal não estamos mal de todo… Mas, verdade que estamos cada vez pior. Quem não sabe? Não sabem – nem querem saber - os que têm por lema “deixa andar”. Aqueles que acham que se vão safando e se perdem a olhar para os seus umbigos.
Basta. O Curto vem aí, a seguir. Com interesse, como uma janela por onde vislumbramos “como vai este país” – antes cantado por Herman e Nicolau, felizes e contentes. E também como vai o mundo… Nuvens negras aqui e ali… Pfff.
Boa semana e bom dia de hoje. Bom almocinho (se almoçarem), talvez numas manjedouras das modernas, repletas de comida (?) de plástico. É a vida. Aguentem-se. Querem ter a vidinha assim? Pois. Oh, que bom e tão moderno! Muito bem. Afinal são tudo avanços da modernidade. Que fixe.
MM | PG
Bom dia este é o seu Expresso Curto
Não é tudo e não é agora
Pedro Cordeiro | Expresso
Bom dia e boa semana. Este é o
terceiro dia de maio e, se ontem foi Dia da Mãe e anteontem Dia do Trabalhador
(já lá vamos), hoje celebra-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Saudação, pois, a todos os que a praticam e por ela lutam, sobretudo em
paragens onde exercê-la é menos fácil do que entre nós. Por mais erros que
cometamos neste ofício (e cometemos!), os males de uma sociedade têm mais por
onde grassar onde não há imprensa livre a informar o povo e a escrutinar o
poder.
É também de liberdade e poder que falamos — ou melhor, de abuso deste e
limitação daquela — quando falamos de assédio sexual. As declarações da atriz Sofia Arruda trouxeram para a
linha da frente um assunto que infelizmente nunca deixou de ser atual.
Seguiram-se relatos de dezenas de mulheres, quinta-feira passada na capa da revista Sábado e, um dia depois, na primeira
página do Expresso, pelas vozes de Catarina Furtado ou Sara Barros Leitão. Falou-se de #MeToo português.
Houve quem se atirasse logo a estas mulheres por não indicarem os nomes dos
agressores. Este fim de semana surgiu, porém, uma denúncia com nome. Uma
jornalista do “Observador” acusou o editor Manuel Alberto Valente de conduta
imprópria. O visado desmente, ameaçando processá-la. Do que não parece haver
dúvidas é que temos de falar a sério de assédio sexual em Portugal.
Sempre que somos chamados para este assunto, há quem lide com o desconforto
apontando às alegadas vítimas, questionando os fins da denúncia e de alguma
forma responsabilizando-las pelo que tenha sucedido. Ouço e leio frases como
“Mas porque é que só contou agora?”, “Mas de que é que estava à espera?” ou
“Mas agora é tudo assédio?”. Sem excluir denúncias falsas e nunca obliterando a
presunção de inocência, responda-se pela ordem inversa a estas perguntas muito
equivocadas.
Não, não é tudo assédio. Haverá formas de engate atabalhoadas, gestos
inocentes, perceções erradas do nível de intimidade que alguém nos concede. De
modo menos benigno, também há agressões sexuais e comportamentos ilegítimos que
não cabem na definição de assédio.
Mais importante será frisar que não é “agora” que o que é assédio o é. Se foi
assédio, foi assédio quando aconteceu, ainda que num tempo em que muitos não o
vissem como tal, ainda que haja hoje quem continue a não querer ver. Não é por
algo (assédio, racismo, sexismo, tortura, ditadura) ser ou ter sido aceite que
é ou era então aceitável. Em Portugal são abertos diariamente três processos por assédio sexual, a maioria dos quais é
arquivada.
De que está à espera uma mulher? Seja uma atriz a procurar oportunidades de
trabalho, uma jornalista que busca uma entrevista ou uma advogada estagiária,
parece-me legítimo uma mulher esperar que o seu corpo ou favores com ele
prestados não entrem na equação. Que, já agora, é profundamente desigual,
envolve relações de poder e ameaça de represálias. Que não tenha, como não tem
um homem, de pensar se aquilo que veste propicia abusos ou se deu a entender
seja o que for. Melhor do que eu, que já procurei emprego e fiz entrevistas sem
que tal tivesse de passar-me pela cabeça, explica-o a ex-jornalista Helena Ferro de Gouveia no
Facebook.
Quanto a questionar o momento que uma vítima de assédio escolhe para falar ou a
opção de dizer ou não quem o cometeu, faço minhas as palavras de Luís
Aguiar-Conraria no Twitter: dada a dificuldade de prova deste crime,
estarão os que exigem nomes dispostos a ajudar a pagar indemnizações em
processos por difamação? Menos certeza, mais empatia e ouvir sem julgar.
Outras notícias
COSTA E RIO Em entrevista à TSF, “Diário de Notícias” e “Jornal de
Notícias”, o primeiro-ministro atirou-se a Rui Rio. Para António
Costa — que falou ainda de justiça e estabilidade política —, o
presidente do PSD está desnorteado e, mais perigoso do que o Chega, é as suas
ideias extremistas contaminarem o maior partido da oposição. Rio fala de “nível rasteiro”.
COVID-19 Vivemos a semana menos letal desde que a pandemia começou a
matar e um estudo permite pensamento positivo, sem facilitar. Se a Madeira já sonha com turistas, em Odemira discute-se requisição civil
de um recinto turístico, mas o verdadeiramente grave é a exploração de imigrantes que ali decorre. Lá fora,
Israel larga a máscara, conta o correspondente do Expresso,
Henrique Cymerman, ao passo que a Índia vive dias difíceis, como escreve a Mafalda Ganhão. Sobre
este grande país recomendo a leitura da coluna do Miguel Monjardino e este longo texto da escritora Arundhati Roy.
1º DE MAIO Sábado foi Dia do Trabalhador e o António Pedro Ferreira andou a fotografar as celebrações. Já hoje o Daniel
Oliveira escreve isto, que merece ser lido. Em Paris, onde os tempos andam quentes, isso foi visível nas comemorações.
MARCELO Ainda se vai escandindo o discurso do Presidente da República no
25 de Abril. A Ângela Silva explora o que terá movido Marcelo e o Vítor Matos propõe esta leitura. O podcast da secção de política do Expresso
também por ali andou. Outras prosas pertinentes vieram de Daniel Oliveira, Sérgio Sousa Pinto e Ana Sá Lopes. Já o chefe de Estado voltou a intervir no Dia
da Mãe para elogiar as mulheres portuguesas.
MADRID Amanhã há eleições para o parlamento autonómico da região da
capital espanhola. A campanha foi feia e polarizada, segundo o correspondente do Expresso,
Ángel Luis de
REINO UNIDO Um país cujo primeiro-ministro tem sido cercado por casos
bicudos vai a votos quinta-feira, em eleições regionais (Escócia e
Gales) e municipais (espalhadas pelo país). Mais do que os resultados, que
podem ser preocupantes na Escócia, Boris Johnson estará ralado com
questões que envolvem financiamento partidário para remodelar a sua residência
oficial, fugas de informação e lóbis suspeitos. Já há um dirigente do seu
Partido Conservador a admitir a necessidade de o governante se demitir caso
se apure que violou o código de conduta. Acresce a agitação na Irlanda do
Norte, que fez 100 anos anteontem. Logo à tarde o podcast O Mundo a
Seus Pés discute a situação britânica. Até lá, que lhes valha a rainha, sublinha Pedro Mexia.
JOE BIDEN A primeira disputa eleitoral do mandato do Presidente dos EUA,
para preencher uma vaga no Congresso pelo Texas, vai sorrir aos republicanos. Não é coisa para tirar o sono a
Biden, já que o terreno da contenda era adverso. Aproveito para sugerir os
artigos da Teresa de Sousa e do Bernardo Pires de Lima sobre o recente discurso do
homem mais poderoso do mundo. Este fez 100 dias no cargo e vale a pena ler
as palavras do correspondente do Expresso nos EUA, Ricardo
Lourenço, e do comentador Germano Almeida, que lançou este livro sobre Biden.
FÓRMULA 1 Lewis Hamilton venceu o Grande Prémio de Portugal,
FUTEBOL O regresso dos fãs do Manchester United ao campo de Old
Trafford não correu bem. Noutras paragens, Inter de Milão e Ajax de
Amesterdão sagraram-se campeões.
Frases
Escolhi frases de três entrevistas que não deve perder na edição desta semana do Expresso.
“A doença faz-me tomar
consciência do desperdício que é a vida de cada pessoa. É como se cada coisa
que vivo tivesse um valor superior”
Luís Miguel Cintra, ator português
“Fiquei surpreendido com a
política orçamental do atual Governo. As reservas iniciais que tínhamos no FMI
quando os socialistas regressaram ao poder eram infundadas, provaram ser
erradas.”
Poul Thomsen, antigo chefe de missão do Fundo Monetário
Internacional em Portugal
“Começamos tão jovens que
esquecemos que a decadência faz parte da nossa existência. E acabamos por
perder tudo e retornar ao pó de que somos feitos. É uma mensagem alegre? Não.
Mas é profunda”
Anthony Hopkins, ator britânico que venceu o óscar de
melhor ator pelo magnífico filme “O pai”. Foi a segunda vez que ganhou este
prémio, 29 anos depois de “O silêncio dos inocentes”
Presidência portuguesa da UE
“Uma dieta sem plásticos” é o
objetivo das dicas e propostas fornecidas por uma campanha
europeia que começa esta segunda-feira nas redes sociais, visando
aumentar o conhecimento sobre os perigos escondidos nos produtos de plástico
usados no quotidiano. Alemanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Letónia,
Lituânia, Polónia, Portugal, Sérvia, Suécia e Rússia são os países
participantes. A campanha integra o apelo ao uso da aplicação Scan4chem,
disponível em português, a qual permite aos consumidores solicitar informações
aos fabricantes sobre a presença de substâncias perigosas nos seus produtos.
Arranca hoje às 9h no Instituto Português de Oncologia do Porto a Cimeira
Europeia de Investigação na Área do Cancro 2021, no âmbito da presidência
portuguesa do Conselho da União Europeia. O encontro terá transmissão
A cimeira é dinamizada pelo Porto Comprehensive Cancer Center (P.CCC),
consórcio entre o IPO do Porto e o i3S – Instituto de Investigação e Inovação
em Saúde da Universidade do Porto. A iniciativa, coordenada pelo investigador
Julio Celis, reúne representantes de instituições europeias, decisores
políticos, investigadores e médicos. Estarão ainda presents a ministra da
Saúde, Marta Temido, a comissária europeia para a Saúde e Segurança dos
Alimentos, Stella Kyriakides, e a comissária europeia para a Inovação,
Investigação, Cultura, Educação e Juventude, Mariya Gabriel.
O que ando a ler
Percorro os primeiros capítulos
de “Shuggie Bain”, romance de estreia do escocês Douglas Stuart
galardoado com o prémio Booker em 2020, e já lhe sinto o impacto. É o relato
autobiográfico de quem cresceu sem privilégios, em meio familiar disfuncional,
com o que isso alia de despertar para o conforto de outras vidas e coragem para
exibir as feridas e as cicatrizes aos outros e ao espelho.
Volto ao poeta português Daniel Jonas. Se no livro “Oblívio” tinha um poema que
arrancava com “O cão da noite entrou-me em casa às quatro”, agora propõe-nos “Cães de chuva”, que se afasta da forma do soneto que marcou
as suas mais recentes obras, mas não das inquietações e angústias que perpassam
volumes anteriores, como “Nó” ou “Bisonte”.
No ensaio, retomei um tema do coração — a saída do Reino Unido da União
Europeia — pela pluma do professor universitário António Goucha Soares. “Brexit”
é, mais do que um recopilatório do que se passou entre o referendo de 2016 e o
final do período transitório em dezembro último, uma reflexão sobre a Europa e
o que pode representar, acessível a leigos e letrados.
Na mesa de cabeceira estão, além de “Joe Biden: O Homem e as Suas
Circunstâncias”, de Germano Almeida, que referi acima, dois livros recentes que
me apetece ler ao longo deste Maio, maduro Maio, a que o Luís Guerra põe som: “Presos por um Fio, Portugal e as
FP-25 de Abril” de Nuno Gonçalo Poças, a cuja apresentação pode assistir aqui.
Conduzida pelo Ricardo Costa, a sessão teve intervenções do autor, de
Paulo Portas e de Manuel Castelo-Branco, filho de uma vítima do grupo
terrorista; e “Conselho da Revolução (1975-1982): Uma biografia” de Maria Inácia Rezola e David Castaño.
O que ando a ouvir e a ver
O último single da poderosa
Billie Eilish, “Your power”, que toca no tema da abertura deste
Curto, que a artista abordou há dias. Faz parte do álbum “Happier
than ever”, a publicar a 30 de julho.
Uma canção sobre ser mãe, da também poderosa (e minha amiga,
fica o disclaimer) Joana Alegre, concorrente ao Festival RTP da Canção
este ano, como Carolina Deslandes, mais uma artista de relevo que glosou o tema da maternidade. A tempo de marcar um dia
especial, sobre o qual li bons textos de Susana Peralta e Miguel Esteves Cardoso no “Público”, Teresa Rebelo
Pinto no semanário “Novo”, que aproveito para saudar pela recente estreia,
e este trabalho da Marta Gonçalves no Expresso.
O podcast África Agora, onde a Cristina Peres conversa com o
embaixador Luís Fonseca sobre Cabo Verde, onde houve legislativas há dias e
haverá presidenciais no verão.
O último disco de Jordi Savall, com os ofícios de Semana Santa do compositor espanhol Tomás
Luis de Victoria. Não pensem que é extemporâneo: a celebração em causa só
acabou ontem, domingo de Páscoa para os cristãos ortodoxos, a quem envio
ecuménica e ateia saudação.
Dentro de dias vou ouvir Fausto
Bordalo Dias ao CCB. E é só porque a pandemia trocou tantas datas que
me deixou dois concertos sobrepostos que falharei Benjamim no Lux.
No palco vi recentemente esta peça no Trindade, baseada num filme de John
Cassavetes, que fica mais umas semanas
A despedir-me já, que o café deste Curto transborda, conto que passei há meses
por baixo e quero agora passar por cima desta ponte pedonal em Arouca; que a Bárbara Reis está coberta de razão neste artigo; que a
BBC retoma os Proms e
ainda não perdi a esperança de assistir a um ao vivo; e que pode dar 0,5% do
seu IRS, sem custo para si (é o Estado que cede), a uma de milhares de
organizações que fazem o bem. No Expressod a Manhã de hoje o Paulo Baldaia pediu sugestões a alguns editores do
Expresso, incluindo yours truly.
Até breve, até sempre, siga connosco o que se passa no país e no mundo.
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