Se Xanana Gusmão não se candidatar Avelino Coelho avançará para as presidenciais de 2022
Avelino Coelho da Silva
informou-me e declarou aos órgãos de comunicação social de Timor-Leste que
poderá ser candidato às eleições presidenciais de
O Presidente do Partido Socialista de Timor (PST), um dos principais líderes da Frente Clandestina durante a luta de libertação nacional de Timor-Leste, ex-Colaborador do Estado-Maior das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL) e um dos principais fundadores da Brigada Negra (Comando Especial das FALINTIL responsável pela guerrilha urbana na Indonésia e em Timor-Leste), declarou aos órgãos de imprensa que será candidato às eleições presidenciais de 2022 na eventualidade de Kay Rala Xanana Gusmão não se candidatar.
Xanana, Taur, Konis, Daitula e Avelino, unidos pela Luta de Libertação Nacional
No âmbito desta possível candidatura de Avelino Coelho é imperioso recordar de forma relâmpaga o percurso político-militar deste personagem que apesar do seu papel extremamente preponderante durante a luta de libertação nacional de Timor-Leste, foi (premeditadamente) marginalizado do processo de negociações Portugal, ONU e Indonésia.
De resto, a história regista o (triste) silêncio da Agência de Notícias Lusa e de órgãos de comunicação social televisivos, à excepção, principalmente, do Jornal «O Público», do Jornal «Correio da Manhã» e do Jornal «O Comércio do Porto», nomeadamente, o que é verdadeiramente dramático, quando Avelino Coelho esteve mais de um ano refugiado na Embaixada da Áustria em Jacarta, com a sua mulher, duas filhas menores e dois outros camaradas do Partido, perseguidos pela polícia indonésia.
Avelino Coelho, também conhecido por Shalar Kosi, F.F., nome de código utilizado durante a luta de libertação nacional de Timor-Leste, nos finais da década de 80, teve um papel decisivo e estratégico no âmbito da história de libertação devido ao seu grande empenhamento, dedicação e abnegação no envolvimento das actividades da BRIGADA NEGRA em território indonésio e timorense, sob a liderança de Kay Rala Xanana Gusmão, e também no processo de organização, supervisão e liderança da Associação Socialista de Timor (AST).
Na verdade, apesar dos relatos oficiais relacionados com a história de libertação de Timor-Leste não o revelarem ou quando fazem referência é de forma muito mitigada, é fundamental registar que a assinatura do acordo de 5 de Maio de 1999 resultou de muitos factores.
… “não foi somente produto da capacidade diplomática de Portugal e dos seus aliados, mas houve outros factores, como a contínua presença da Guerrilha, que ganhando novas forças e novas formas de combate, alastrando o campo de combate para a Indonésia, onde se destacam as acções desenvolvidas pela BRIGADA NEGRA (BN), pela AST-Associação Socialista de Timor (actual Partido Socialista de Timor – PST), e por outras organizações estudantis que pugnavam pela Indonesianização do conflito de Timor-Leste, foram de relevância significativa e decisiva”.
(Avelino Coelho / Shalar Kosi F.F.)
Factos históricos (ignorados) durante as negociações ONU, Portugal e Indonésia
Nos dias 24 e 25 de Fevereiro de 1997, há 24 anos, na qualidade de Colaborador do Estado Maior das FALINTIL, Avelino Coelho, com o nome de código Shalar Kosi / F.F., reuniu-se em Ermera com o saudoso Comandante Nino Konis Santana, Chefe do CL/Frente Armada. Entre outras questões debatidas, a ideia segundo a qual seria necessário Timor-Leste fazer uma aliança com a oposição indonésia também foi defendida por Konis Santana.
Na opinião de Kay Rala Xanana Gusmão, Avelino Coelho, Konis Santana, Taur Matan Ruak e do saudoso Comandante David Alex (Dai Tula), o processo que envolveu partidos políticos indonésios na oposição foi decisivo para criar instabilidade na Indonésia e acelerar o processo da queda de Soeharto e da democratização no território invasor.
“Efectivamente, a elevada consciência nacional dos movimentos democráticos, inicialmente em 1996 avançados pelo PRD (Partai Rakyat Demokratik) e pelo PUDI ( Sri Bintang Pamungkas) e que veio a culminar num movimento amplo após a crise monetária e económica, que impulsionou a queda de Soeharto; a subida ao trono por Habibie, todos, cumulativamente forçaram a diplomacia portuguesa e Indonésia a aceitar a proposta de Habibie”.
(Avelino Coelho / Shalar Kosi F.F.)
Outra acção fundamental para o sucesso da luta foi o delineamento de estratégias políticas para produzir alianças entre as FALINTIL e a Frente Clandestina. No dia 21 de Junho de 1997, Avelino Coelho e o saudoso Constâncio Shantal da Costa / Aquita (falecido recentemente), membro da direcção do PST, deslocaram-se às montanhas para reuniões com o Comandante Taur Matan Ruak e David Alex (Dai Tula), este último, preso e assassinado pelas tropas indonésias.
Na reunião clandestina, um dos pontos debatidos foi a concertação entre a Direcção da guerrilha e as acções da Brigada Negra.
Candidato presidencial com significativo percurso político e académico
Avelino Maria Coelho da Silva
(Shalar Kosi, F.F.) nasceu em 18 de Dezembro de 1962, em Laclubar
(Timor-Leste). É o filho mais velho do conhecido Katuas Enfermeiro Adelino da
Silva, já falecido, e de Maria Zulmira Coelho. Tem sete irmãos (o mais velho
desapareceu após ter sido perseguido e capturado pela polícia indonésia), três
irmãs, duas são médicas e uma outra é diplomata
No plano académico e profissional, Avelino Coelho é PhD em Direito, na Especialidade de Direito Constitucional, pela prestigiada Universidade Pelita Harapan-UPH de Jacarta (2016), Consultor Jurídico e Professor de Direito em Cursos de Graduação e Pós-graduação na Universidade de Díli (UNDIL) e na Universidade da Paz (UnPaz).
Durante a luta de Resistência pela Libertação do País assumiu funções relevantes, tendo sido indigitado em 1995 para assumir o cargo de Conselheiro Político Militar e trabalhado directamente com o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL), Kay Rala Xanana Gusmão.
Como principal fundador da Brigada Negra (BN), um Comando Especial das FALINTIL para a Guerrilha Urbana em Timor-Leste e na Indonésia, teve um papel determinante na organização da Frente Clandestina nestes dois países.
Foi também fundador da Associação Socialista de Timor (AST), onde foi Secretário-Geral, OJECTIL e de outras organizações da Resistência Clandestina.
Em 1996 foi indigitado pelo Comandante-em-Chefe das FALINTIL para assumir o cargo de Colaborador do EMG-FALINTIL, trabalhando directamente com o Chefe do Estado Maior das FALINTIL, Comandante Taur Matan Ruak.
Foi membro do Conselho Consultivo Nacional da UNTAET entre 1999 – 2000 e, na reestruturação do Órgão para o Conselho Nacional foi ainda membro do mesmo até 2001.
Foi Secretário de Estado para a Política Energética no IV Governo Constitucional de Timor-Leste (2007–2012) e Secretário de Estado do Conselho de Ministros nos V e VI Governos (2012–2017) de Timor-Leste.
Desde a sua fundação é presidente do Partido Socialista de Timor (PST).
M. Azancot deMenezes – Publicado em Jornal Tornado
*PhD em Educação / Universidade de Lisboa
*Também colaborador de presença assídua em Página Global
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