Cabo Delgado é emblemático da influência do Daesh em África, diz Guterres
A ONU declarou a província de Cabo Delgado uma "área de trânsito fácil para os combatentes do Daesh" e mostra-se preocupada de alguns dos afiliados mais eficazes "espalharem influência e atividades".
A província moçambicana de Cabo Delgado tornou-se “emblemática da influência do Daesh em África” e exige prioridade na abordagem antiterrorista regional, considera o secretário-geral das Nações Unidas num relatório esta quinta-feira sob consulta no Conselho de Segurança.
“No norte de Moçambique, a província de Cabo Delgado tornou-se em março de 2021 emblemática da influência do Daesh na África, na sequência da breve ocupação de Palma por um grupo afiliado, perto de um grande projeto de gás liderado por uma empresa multinacional”, pode ler-se no relatório sobre atividades do Estado Islâmico (EI), que está esta quinta-feira no centro de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU.
O documento acrescenta que “as
autoridades locais não conseguiram defender a cidade e fornecer segurança, como
também foi o caso em Mocímboa da Praia, mais a sul
O relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, foi concluído a 27 de julho e foi esta quinta-feira apresentado no Conselho de Segurança pelo secretário-geral adjunto e chefe do Escritório das Nações Unidas para o Contraterrorismo, Vladimir Voronkov.
Segundo António Guterres, secretário-geral da ONU, os desenvolvimentos em Moçambique podem ter consequências de “longo alcance” na paz e segurança regional e têm de ser “tratados através de uma abordagem regional coerente como uma questão prioritária”.
Para a ONU, que teve várias
entidades envolvidas na autoria deste relatório semestral sobre atividades do
EI, a deterioração da situação de segurança na província de Cabo Delgado foi
“um dos eventos mais preocupantes do início de
O grupo afiliado local do Daesh [Al-Shabab] invadiu e deteve brevemente um porto estratégico perto da fronteira com a Tanzânia, antes de se retirar com despojos”, pode ler-se no relatório.
A ONU declara que a província de Cabo Delgado, sendo um “destino para migrantes da economia” e um ponto de entrada para drogas da Ásia, numa região que “abriga inúmeras atividades de tráfico”, é uma “área de trânsito fácil para os combatentes do Daesh”.
“Tal como na República Democrática do Congo, o ramo moçambicano do Daesh beneficia da economia informal. Os membros vivem clandestinamente e extorquem as populações locais”, constata o relatório.
O secretário-geral acrescenta ainda que as ilhas moçambicanas de Matemo, Vamizi e Makalowe, foram palco para a demonstração de “habilidades de operar em mar” do EI, com sequestros, raptos e ataques de extorsão.
A Organização das Nações Unidas mostra-se preocupada com o facto de “alguns dos afiliados mais eficazes do Daesh espalharem influência e atividades no continente africano”, sendo que nos últimos seis meses, “o desenvolvimento mais evidente foi a expansão do Daesh na África”, região onde o terrorismo provocou mais mortes.
O relatório indica que “a ameaça do Estado Islâmico se expandiu ainda mais em África por meio dos afiliados regionais do grupo, enquanto o núcleo do Daesh permaneceu focado no reagrupamento no Iraque e na República Árabe da Síria”.
“As repercussões do Mali no Burkina Faso e no Níger, as incursões da Nigéria no Níger, Chade e Camarões e de Moçambique na Tanzânia são todas muito preocupantes”, descreve o documento.
A autonomia delegada pelo núcleo do Daesh, o grande número de pequenas células operacionais e a ausência de medidas de contraterrorismo significativas transformaram os afiliados regionais numa grande ameaça com potencial para se desenvolver ainda mais, possivelmente em direção aos países vizinhos”, conclui o relatório.
A província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é palco de ataques por grupos armados desde 2017, descritos por vários governos e entidades internacionais como “terroristas”.
A vila costeira de Mocímboa da Praia, uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, foi a região em que os grupos armados protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017.
Observador | Lusa | Imagem: Manuel Elias / UN/ Handout / EPA
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