Jorge Fonseca de Almeida* | Dinheiro Vivo | opinião
China assinalou recentemente a partida do 10.000º comboio de mercadorias da estação de Shaanxi com destino à Europa. Nenhum se destinou a Portugal.
Onde fica Shaanxi? Porque é basicamente ignorada, quando é um dos centros logísticos mais importante no comércio internacional?
Portugal, por opção própria, ficou de fora da Rota da Seda ferroviária que liga a China à Europa e que, assim, termina em Espanha, deixando o nosso país sem ligação terrestre rápida à maior economia do mundo, e sem ligação a qualquer dos muitos países por onde passa ao longo de milhares de quilómetros de percurso feito a grande velocidade.
Esta decisão política significou também, manter-se desligado da rede europeia mais moderna em termos de transporte de mercadorias por terra.
Eis o grande paradoxo: um país que produz para exportação e que se desliga cada vez mais das redes de transportes de mercadorias e de passageiros europeias e mundiais.
Perdida a marinha mercante, com a TAP em vias de redução drástica do seu já limitado alcance, também em termos ferroviários as opções têm sido desastrosas. Um país que por vontade política própria se isola e se afasta dos grandes mercados mundiais e que quer, simultaneamente, ser exportador! Que politica contraditória e absurda. Como reverter esta situação?
Ao nível do turismo, uma indústria estratégica para o país, a angariação, o transporte e grande parte do alojamento de turistas é feita por empresas estrangeiras em que não temos qualquer influência ou controlo. Porque não tem a TAP uma companhia low cost como o têm muitas outras companhias de bandeira?
Com o país arredado das principais rotas comerciais as exportações feitas de solo nacional têm, obviamente, um custo de transporte superior ao de produtos similares que partem de outras geografias já que não beneficiam das economias de escala que advém dos fluxos elevados. Mais um custo de contexto. Que as empresas exportadoras compensam pagando salários mais baixos aos trabalhadores portugueses.
Portugal precisa de se ligar fisicamente ao mundo. Precisa de uma rede ferroviária que o ligue à Europa, precisa de se integrar na rede aérea internacional, precisa de uma marinha mercante que o ligue a África e ao mundo, precisa de uma rede de gasodutos que o ligue ao centro da Europa e ao Norte de África, em suma, precisa de um investimento público forte nestas áreas. Infelizmente a bazuca vai disparar para outro lado.
*Economista, MBA. Autor de livros e artigos sobre Capital Social, Marketing, Fraude e Corrupção, Compliance e Corporate Governance. Consultor de gestão.
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