Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião
A norma tácita do recato obrigatório aplicada à comunicação quando estão em causa matérias de segurança funciona como um seguro de vida para as cúpulas das autoridades em Portugal, país onde são residuais os casos de atores públicos capazes de assumir a responsabilidade pelo erro ou pela incompetência.
É bem verdade que, enquanto povo interessado pelas questões da responsabilidade do Estado, devemos estar na cauda do mundo democrático, talvez por dedicarmos parte substancial do nosso stock de indignação às polémicas de ocasião calibradas pelas redes sociais.
O carrossel de visitas de altas individualidades do Estado ao restaurante onde trabalhava um suspeito de terrorismo tinha tudo para nos deixar num plano privilegiado para observar a nebulosa do funcionamento do Estado. Mas é um pouco como estudar fenómenos astronómicos num dia de nevoeiro: é quase impossível tirar conclusões.
Numa situação como esta, a ausência de explicações gera incómodo, sobretudo porque estamos perante o combustível perfeito para o fogo populista, especialista em alimentar-se no (aparente) fracasso da autoridade. Mas coisas há que carecem de explicação. Se a pessoa em causa não é perigosa e pode conviver, tranquilamente, com o atual e um ex-chefe de Estado e com o primeiro-ministro, por que razão foi investigada e, mais importante ainda, como é possível estar detida?
Nestes momentos, quando a realidade nacional transcende o absurdo, é também imperioso descer à terra, lembrando que Portugal é um dos países mais seguros do Mundo. Mas, claro está, nem isso serve de atenuante para o disparate de permitir que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa convivam e sejam fotografados com alguém que estaria, na altura, a ser investigado por suspeitas de terrorismo. Só faltou mesmo trocarem presentes, o que resultaria num embrulho ainda maior.
*Chefe de redação
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