Manlio Dinucci*
O aumento dos custos do gás na Europa resulta, acima de tudo, da especulação num contexto de incerteza, atribuível aos esforços geopolíticos dos EUA contra o gás russo. Não só os preços poderiam voltar ao que eram há dois anos se Bruxelas assinasse um acordo a longo prazo com Moscovo, mas deveriam baixar.
A explosão dos preços do gás está a
atingir a Europa num momento crítico da sua recuperação económica, após os
efeitos desastrosos dos lockdowns de
A diferença é substancial: enquanto um contrato a longo prazo compra gás a um preço baixo, que se mantém constante ao longo dos anos, os mercados à vista compram gás a preços voláteis, geralmente muito mais elevados, determinados pela especulação financeira nas Bolsas de mercadorias. Grandes quantidades de produtos minerais e agrícolas são compradas com contratos futuros, que prevêem a entrega numa data fixa ao preço acordado aquando da sua conclusão. A estratégia dos poderosos grupos financeiros que especulam sobre estes contratos é aumentar os preços das matérias primas (incluindo a água) a fim de revender os futuros a um preço mais elevado. Para se ter uma ideia do volume de transacções especulativas nas bolsas de mercadorias, basta pensar que apenas a Chicago Mercantile Exchange, com sede em Chicago e Nova Iorque, realiza 3 biliões de contratos por ano no valor de um trilião de dólares (mais de dez vezes o valor do PIB mundial, ou seja, o valor real produzido num ano no mundo). Em 2020, enquanto a economia mundial estava largamente paralisada, o número de contratos de futuros e contratos similares atingiu um nível recorde de 46 biliões, 35% mais do que em 2019, provocando o aumento dos preços das mercadorias.
Ao mesmo tempo, os EUA estão a
pressionar a União Europeia para substituir o gás russo pelo gás americano. Em
2018, numa declaração conjunta entre o Presidente Trump e o Presidente da
Comissão Europeia Juncker, a UE comprometeu-se a "importar mais gás
natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos para diversificar o seu aprovisionamento
energético". O gás que chega à UE é extraído nos EUA a partir do xisto
betuminoso, utilizando uma técnica de fractura que causa danos ambientais muito
graves, sendo depois liquefeito por arrefecimento a
Junta-se a tudo isto, a
"guerra dos gasodutos", aquela que a Itália pagou a um alto preço,
quando em
Manlio Dinucci* | Voltairenet.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)
* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra. Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
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