sexta-feira, 9 de abril de 2021

A trama de uma fraude eleitoral no Equador

Marco Teruggi* | opinião

Uma tentativa de fraude estaria em andamento para as eleições do próximo domingo no Equador. Os principais atores, canais de execução e financiamento já estão em um processo avançado. É o que conta uma fonte da liderança do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) em reunião no sul de Quito. Seu objetivo ao falar, explica, é tornar o voto presidencial transparente e evitar uma manobra preparada pelos dois homens-chave, aliados para as eleições: Guillermo Lasso, candidato à presidência do partido CREO, e Jaime Nebot, líder do Christian Social Partido.

Os atores

A arquitectura da tentativa de fraude tem quatro níveis principais na CNE, afirma a fonte: a cúpula, as ligações, as zonas intermédias e as delegações provinciais.

O primeiro, ou seja, a direção, ficaria sob o comando dos dois fortes da direita equatoriana, que indicaram três dos cinco vereadores. Lasso colocou Enrique Pita na vice-presidência, Nebot para José Cabrera. Quanto à presidente, Diana Atamaint, “ela veio por meio de organizações sociais, e quando assumiu como conselheira, houve um pacto que foi feito na casa de Nebot, na Ilha de Mocolí, para ser presidente da CNE e ela respondeu a ele desde então, "explica a fonte, que, por questões de segurança, pede o sigilo da sua identidade.

Em segundo lugar, existem as ligações entre os vereadores, Lasso e Nebot. São dois homens-chave externos à estrutura da CNE: César Monge, presidente do CREO, e Pascual del Cioppo, membro da direção do PSC. “São eles com quem os conselheiros se reúnem, ou os conselheiros que estão abaixo e passam as orientações para eles”, afirma, com um organograma que indica cada peça e seu papel.

Terceiro, cada um dos conselheiros tem conselheiros que desempenham um papel central na manobra. É o caso de Andrea Cárdenas e Christian Solis, que trabalham para Pita, Francisco Yépez e Valeria Grande, sob o comando de Atamaint, Gabriela Zurita e Fidel Ycaza, que estão sob o comando de Cabrera. Uma das tarefas que eles têm é "realizar diferentes ações nas províncias, como mudança de diretores, pessoal técnico, sugerindo nomes para serem funcionários, colocando o pessoal de Lasso em locais-chave de fraude.

Na zona intermediária, um nível abaixo, está a comissão técnica de processos eleitorais e tecnologias de informação, que desempenha um papel decisivo. Existem pessoas-chave como Lucy Pomboza -que também é a diretora nacional dos processos eleitorais-, Stalin Cardona e Esteban Montero. “Todos os directores nacionais e provinciais estão sujeitos a informar e proceder de acordo com as orientações dadas pela comissão”, explica, alertado pela iminência da implementação de uma fraude estruturada e invisível que dará a vitória a Lasso.

Como Cuba venceu a pandemia


#Publicado em português do Brasil

Do desenvolvimento de novas vacinas ao envio de médicos ao exterior para ajudar outras pessoas

Democracy Now | Amy Goodman

CONVIDADOS: Dr. Rolando Pérez Rodríguez, diretor de ciência e inovação da BioCubaFarma, que supervisiona o desenvolvimento da medicina em Cuba, incluindo o desenvolvimento das vacinas COVID-19. Ele também é o fundador do Centro de Imunologia Molecular de Cuba e membro da Academia Cubana de Ciências.

Reed Lindsay jornalista e fundador da Belly of the Beast, uma organização de mídia independente que cobre Cuba e as relações EUA-Cuba.

Desde o ano passado, cerca de 440 cubanos morreram de COVID -19, dando a Cuba uma das menores taxas de mortalidade per capita do mundo. Cuba também está desenvolvendo cinco vacinas COVID19, incluindo duas que entraram no estágio 3 de testes. Cuba investiu pesadamente em seu sistema médico e farmacêutico por décadas, em parte por causa do embargo americano de seis décadas que tornou mais difícil para Cuba importar equipamentos e matérias-primas de outros países. Esse investimento, junto com o sistema de saúde universal gratuito do país, ajudou Cuba a manter o vírus sob controle e rapidamente desenvolver vacinas contra ele, disse o Dr. Rolando Pérez Rodríguez, diretor de ciência e inovação da BioCubaFarma, que supervisiona o desenvolvimento de medicamentos em Cuba. “Temos uma longa experiência com esse tipo de tecnologia”, diz ele. Também falamos com Reed Lindsay, jornalista e fundador da organização de mídia independente Belly of the Beast, com foco em Cuba, que afirma que as sanções dos EUA contra Cuba continuam prejudicando o país.

AMY GOODMAN : Como o número de mortes nos EUA com COVID -19 chega a 560.000 e o Brasil registra mais de 4.200 mortes em um único dia, começamos o programa de hoje examinando como Cuba conseguiu lutar contra a pandemia. Desde o ano passado, apenas cerca de 440 cubanos morreram de COVID -19, dando à ilha uma das menores taxas de mortalidade per capita do mundo. Cuba também está desenvolvendo cinco vacinas COVID-19, incluindo duas que entraram no estágio 3 de testes. Martinez é o presidente da BioCubaFarma ..

EDUARDO MARTÍNEZ DÍAZ: [traduzido] Estamos muito confiantes de que nossas vacinas serão eficazes, as vacinas que estão sendo desenvolvidas. Os resultados que obtivemos até o momento apontam para resultados satisfatórios. E afirmamos que até o final de 2021 nossa população estará imunizada com as vacinas que estamos desenvolvendo. … Dado o bloqueio a que estamos sujeitos e a situação no país, teria sido muito difícil obtermos os resultados que estamos a obter na luta contra a pandemia, se não tivéssemos desenvolvido esta indústria há mais de 35 anos atrás em nosso país.

AMY GOODMAN : Durante décadas, Cuba investiu pesadamente em seu sistema médico e farmacêutico, em parte por causa do embargo americano de seis décadas que tornou mais difícil para Cuba importar equipamentos e matérias-primas de outros países. Na década de 1980, Cuba desenvolveu a primeira vacina contra meningite B do mundo. Também desenvolveu importantes medicamentos contra o câncer que agora estão sendo usados ​​nos Estados Unidos e em outros lugares.

Em um momento, iremos para Havana, mas primeiro quero passar para um trecho da recente série de documentários online The War on Cuba , produzida por Belly of the Beast, um grupo de mídia independente em Cuba. Um episódio examina os esforços de Cuba para lutar contra COVID -19 em casa e no exterior. É narrado pela jornalista cubana Liz Oliva Fernández.

Ucrânia revisitada: guerra, Russofobia e Pipelinistão | Pepe Escobar

#Publicado em português do Brasil

Pepe Escobar* | Dossier Sul

Ucrânia e Rússia podem estar à beira da guerra – com consequências desastrosas para toda a Eurásia. Vamos direto ao ponto, e mergulhar de cabeça na névoa da guerra.

Em 24 de março, o Presidente Zelensky da Ucrânia, para todos os fins práticos, assinou uma declaração de guerra contra a Rússia, através do Decreto nº 117/2021.

O decreto estabelece que retomar a Crimeia da Rússia é agora a política oficial de Kiev. Foi exatamente isso que levou uma série de tanques ucranianos a serem enviados para o leste em vagões, depois da saturação do exército ucraniano pelos EUA com equipamentos militares, incluindo veículos aéreos não tripulados, sistemas eletrônicos de guerra, sistemas anti-tanque e sistemas de defesa aérea portáteis (MANPADS).

Mais crucial ainda, o decreto de Zelensky é a prova de que qualquer guerra subseqüente terá sido provocada por Kiev, desmascarando as proverbiais alegações de “agressão russa”. A Crimeia, desde o referendo de março de 2014, é parte da Federação Russa.    

Foi esta (itálico meu) a declaração de guerra de fato, levada muito a sério por Moscou, que motivou o envio de forças russas extras para a Crimeia e mais perto da fronteira russa com o Donbass. Significativamente, estas incluem a 76ª Brigada de Ataque Aéreo da Guarda, conhecida como os pára-quedistas Pskov e, de acordo com um relatório de informação que me foi citado, capaz de tomar a Ucrânia em apenas seis horas.

Certamente não ajuda muito o fato de que no início de abril o Secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, recém-saído de seu antigo cargo como membro da diretoria do fabricante de mísseis Raytheon, chamou Zelensky para prometer “apoio inabalável dos EUA à soberania da Ucrânia”. Tal fato se associa à interpretação de Moscou de que Zelensky nunca teria assinado seu decreto sem uma luz verde de Washington.

O que a Turquia quer?

#Publicado em português do Brasil

Denis Korkodinov | OneWorld

Os discursos do chefe da República da Turquia, Recep Erdogan, desafiam o sistema de segurança internacional, que se baseia principalmente no conceito de coexistência pacífica. O maior problema para a Turquia nesse caminho é o Tratado de Lausanne e a ideologia de Kemal Ataturk, que impedem a implementação de uma nova variação do Império Otomano do Oriente Médio à Crimeia russa.

As reivindicações territoriais da Turquia estão transformando dramaticamente o equilíbrio global de poder, criando a base para mudar as fronteiras dos estados existentes por meio de conflitos militares. Os discursos do chefe da República da Turquia, Recep Erdogan, desafiam o sistema de segurança internacional, que se baseia principalmente no conceito de coexistência pacífica. O maior problema para a Turquia nesse caminho é o Tratado de Lausanne e a ideologia de Kemal Ataturk, que impedem a implementação de uma nova variação do Império Otomano do Oriente Médio à Crimeia russa.

As intenções expansionistas de Recep Erdogan são determinadas pelas conclusões que podem ser tiradas da análise de uma série de fatos inter-relacionados: a supressão da oposição "kemalista" como resultado da tentativa de golpe militar encenada em 2016; A posição de Ancara sobre a questão da propriedade da Crimeia; interferência nos assuntos internos da Síria, Iêmen, Líbia, Iraque, os países da Península Balcânica; disputa pelas ilhas gregas; apoio do Azerbaijão no conflito com a Armênia. Muitos especialistas explicam este aumento da atividade militante do líder turco com a próxima expiração do Tratado de Lausanne, que é odiado pelo presidente turco porque este acordo internacional possibilitou arrancar do Império Otomano uma parte significativa dos territórios que Ancara agora está procurando "

As raízes do desastre da vacinação na UE

#Publicado em português do Brasil

Daniel Gros* | Project Syndicate | opinião

A lenta implementação da vacinação COVID-19 na Europa destaca, mais uma vez, que ela não é institucionalmente adequada para uma ação executiva ágil e que seus complicados mecanismos de tomada de decisão são um obstáculo à responsabilização. Enquanto isso for verdade, as crises continuarão a levar a melhor sobre a Europa.

Bruxelas - No que diz respeito à vacinação COVID-19, a Europa está muito atrás de seus pares. Até agora, menos de 15% da população da União Europeia recebeu pelo menos uma dose, em comparação com 31% nos Estados Unidos e 45% no Reino Unido. O fracasso da UE é tão profundo que a normalmente plácida Organização Mundial da Saúde recentemente se sentiu compelida a reiterar o óbvio: o lançamento lento da vacina prolongará a pandemia, com altos custos humanos e econômicos.

Em março de 2020, a UE parecia estar no caminho certo. Com o aumento da pandemia, foi acordado que a Comissão Europeia negociaria acordos de compra antecipada para uma carteira de vacinas candidatas em nome dos Estados membros. Dessa forma, quando um candidato se mostrasse seguro e eficaz, doses suficientes seriam disponibilizadas aos europeus.

No final do ano passado, a Comissão anunciou com orgulho que havia celebrado contratos para mais de dois bilhões de doses de vacinas - mais do que suficiente para a população total da UE de 440 milhões. À medida que as doses chegavam, elas seriam distribuídas per capita, evitando assim tensões indesejáveis ​​como as que surgiram nos primeiros meses da pandemia, quando uma corrida para reivindicar suprimentos limitados de equipamentos de proteção pessoal colocou os Estados membros uns contra os outros.

Com um portfólio grande e diversificado de doses de vacina encomendadas e um cronograma de distribuição claro, a UE parecia ter provado o seu valor. Mas descobriu-se que os contratos foram concluídos com atraso e não eram vinculativos.

Nazis condenados nos EUA escapam da Justiça na Alemanha

#Publicado em português do Brasil

Caso de antigo guarda de campo de concentração ilustra como os dois países julgam colaboradores do Holocausto: extraditado pelos EUA, acusado de 95 anos não será julgado na Alemanha e passará resto da vida em liberdade.

Friedrich Karl B., de 95 anos, escapou de um julgamento na Alemanha. Em 20 de fevereiro, o antigo guarda de um campo de concentração foi extraditado do Tennessee, nos EUA, para Frankfurt, depois que um tribunal americano o considerou culpado de participar do Holocausto.

B. admitiu ter servido como guarda do campo, mas disse a um tribunal de imigração dos Estados Unidos em 2020 que não viu nenhum prisioneiro sendo abusado, não soube de nenhuma morte entre os presos e não foi destacado para vigiar as marchas de evacuação do campo.

Já na Alemanha, B. anunciou que não queria ser interrogado novamente. Como não há testemunhas sobreviventes para prestar depoimento, em 31 de março promotores em Celle, região central da Alemanha, declararam que a investigação havia terminado. Não havia novas provas e ponto final.

B., que morava nos Estados Unidos desde 1959, agora provavelmente passará o resto de sua vida na Alemanha.

O vice-presidente executivo do Comitê Internacional de Auschwitz em Berlim, Christoph Heubner, acha estranho que os sistemas judiciários dos Estados Unidos e da Alemanha tenham interpretações tão diferentes do mesmo caso: "Se os americanos estão mandando pessoas de volta, os promotores alemães têm o dever de esclarecer isso", comenta.

Faz o que eu digo, não faças o que eu faço

AbrilAbril | editorial

É difícil de acreditar que Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças do agravamento da pobreza no País nos anos da troika, dê voz ao FMI para sugerir a taxação dos mais ricos para enfrentar a crise.

Por estes dias muito se tem falado da publicação do Monitor Orçamental do Fundo Monetário Internacional (FMI), do qual Vítor Gaspar tem sido porta-voz. Uma das sugestões, pasme-se, passa pela ideia de taxar os indivíduos e empresas mais ricas, lembrando as grandes multinacionais que prosperaram nos mercados de capitais, mesmo no actual contexto de pandemia.

No menu para os decisores políticos, fala-se em «oportunidade» para taxar o rendimento das empresas e de capitais, pessoais e até propriedades e heranças. Vítor Gaspar chegou mesmo a dizer que é preciso «um esforço a nível mundial para combater a evasão fiscal e assegurar que as grandes empresas multinacionais pagam a sua justa parte».

Nunca é demais desconfiar de sugestões assumidas por estes agentes e instituições políticas que, ao longo de décadas, promovem políticas que aumentam o fosso entre ricos e pobres.

O FMI tem sido responsável pela implementação de programas de austeridade, através de contrapartidas financeiras, que implicam desprotecção dos trabalhadores, a degradação das confições de vida das populações, a delapidação de recursos públicos, com a privatizações de sectores estratégicos da economia e das funções sociais do Estado.

Aliás, na nossa história recente, o FMI fez parte da tríade, juntamente com o Banco Central Europeu e a União Europeia, que respondeu à crise com o aumento da pobreza.

De facto, ninguém esquece o papel de Vítor Gaspar, que empunhou a pasta das Finanças nos primeiros anos do último governo de PSD e CDS-PP, e que, quando confrontado com opções a fazer no domínio económico e financeiro, optou por sobrecarregar os mesmos de sempre, com políticas de cortes aos rendimentos dos trabalhadores, aumento do desemprego e da exploração.

Foi esse mesmo governo que levou a cabo um autêntico saque fiscal sobre os trabalhadores e as suas famílias, tanto através do IRS como do IVA, quando, ao mesmo tempo, os grandes grupos económicos e financeiros foram poupados a contribuir na resposta à crise.

Portugal | Corrupção. PS e PSD alinham-se contra os megaprocessos

Partidos querem repartir investigações e pôr fim à concentração de casos em Carlos Alexandre e Ivo Rosa. Estratégia do Governo gera desconfiança. Bastonário da Ordem dos Advogados alerta: “Corremos o risco de apanhar o peixe miúdo e deixar os grandes criminosos de fora”

Há três anos, o Presidente pressionava uma reforma da Justiça — e o sector conversou, entregando uma proposta no Parlamento que ficou na gaveta. Há dois anos, o líder do PSD entregou, em segredo, uma proposta de reforma da Justiça ao Governo e aos partidos — mas o segredo foi tornado público e o Governo ignorou o desafio. Ao fim de todo este tempo, o Governo escolheu a passada segunda-feira para apresentar a sua nova “estratégia de combate à corrupção”, que mexe com regras sensíveis da investigação dos grandes processos judiciais — apenas cinco dias antes da pronúncia da decisão instrutória do processo da operação Marquês, que envolve José Sócrates, o ex-primeiro-ministro socialista. O timing do Executivo não passou despercebido e fez franzir alguns sobrolhos: é uma “coincidência feliz, poderá ter sido por dificuldade de agenda do Ministério da Justiça”, ironiza ao Expresso a deputada do PSD, Mónica Quintela, vincando que “a Justiça não pode estar fulanizada”.

Portugal | Justiça fora de prazo

Manuel Molinos* | Jornal de Notícias | opinião

Hoje é um dia histórico. Já o lemos, já o ouvimos. É o dia em que José Sócrates pode tornar-se no primeiro ex-chefe de um Governo português a ser julgado por 31 crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada, caso seja pronunciado na instrução da Operação Marquês.

Mas é também o dia em que nos questionamos como é que um processo, por mais complicado e técnico que seja, pode demorar tanto tempo a chegar a esta fase. Neste caso seis anos e uns meses, desde o momento da detenção do antigo primeiro-ministro.

Para quem teve a sorte de nunca ter precisado que a Justiça fosse justa com a sua vida, a questão é mais retórica. Já para os cidadãos prejudicados pela demora dos processos, não há motivos para grandes surpresas.

É verdade que a Constituição da República Portuguesa e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem estabelecem que todos os indivíduos têm direito a que as suas causas sejam julgadas em prazo razoável. Existe, portanto, uma obrigatoriedade de cumprimento de datas-limite. Por outro lado, subsistem mecanismos de não cumprimento desses prazos. A morosidade da Justiça é objetiva. Além de constituir o maior problema no nosso sistema judiciário, a falta de celeridade em alguns processos causa danos irreparáveis às partes que pretendem fazer valer os seus direitos.

Casos sem a complexidade da Operação Marquês também demoram anos e anos a serem resolvidos, causando graves prejuízos a quem tem de ser ressarcido dos seus danos. Entre os atrasos mais escandalosos, estão os decorrentes de acidentes rodoviários. Se a vítima deduzir um pedido de indemnização civil contra uma seguradora por ter sofrido lesões graves irreversíveis, por culpa de outrem, em resultado das quais fica incapacitado de trabalhar e consequentemente sem rendimentos para fazer face às despesas diárias, a agonia a que é sujeita é desumana. E note-se que há mesmo casos em que as partes de um processo judiciário recebem notificações muitas vezes após terem falecido. O desfecho da decisão instrutória da Operação Marquês será sempre surpreendente, menos a lentidão e o provável arrastamento do processo por mais uns longos anos.

*Diretor-adjunto JN

Portugal | Sócrates e outros 27 arguidos sabem hoje se vão a julgamento

O ex-primeiro-ministro José Sócrates e os outros 27 arguidos da Operação Marquês sabem hoje se vão a julgamento e por que crimes serão pronunciados.

Seis anos após ter sido detido no aeroporto de Lisboa, José Sócrates, de 63 anos, pode tornar-se no primeiro ex-chefe de Governo português a ser julgado por corrupção passiva de titular de cargo político e outros crimes, após o Ministério Público o ter acusado de 31 ilícitos.

Além de Sócrates, no processo estão também outras figuras públicas, como o ex-presidente do BES Ricardo Salgado, o antigo ministro socialista e ex-administrador da CGD Armando Vara, os ex-líderes da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, o empresário Helder Bataglia e Carlos Santos Silva, alegado testa-de-ferro do ex-primeiro-ministro e seu amigo de longa data.

No processo estão em causa 189 crimes económico-financeiros, sustentando a acusação que José Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2005 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses de Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santo (GES) e na PT, bem como para garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento turístico Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios, nomeadamente fora do país, do Grupo Lena.

A catastrófica resposta brasileira à covid-19 pode representar crime contra a humanidade

Casos de covid-19 estão aumentando no Brasil, enquanto a variante mais transmissível P1 se espalha pelo país

No Brasil, a abordagem do governo federal à pandemia de covid-19 foi a de tentar alcançar a imunidade de rebanho por meio do contágio. Isso até agora levou a mortes evitáveis de centenas de milhares de cidadãos. Em 5 de março, publicamos um artigo explicando a estratégia de permissão da disseminação da covid-19, conduzida por Jair Bolsonaro, o próprio presidente brasileiro. [1] Desde então, como esperado, o Brasil mergulhou em uma catástrofe salutar sem precedentes.

Na semana passada, quase um terço de todas as mortes diárias por covid-19 no mundo estava no Brasil, embora o país represente somente 2.7% da população mundial. Em 2 de abril, tivemos 12.8 milhões de casos e mais de 325 mil mortes. Nessa semana 21-27 de março, houve um aumento diário de 0.8% nos casos e de 1.9% nas mortes; a letalidade passou de 2% para 3.3% desde o final de 2020. [2] As novas variantes circulando no Brasil se tornaram uma séria preocupação para os países vizinhos.

A catástrofe poderia ser muito pior se o país não tivesse o sistema público de saúde (SUS) que se baseia no acesso universal. Ainda assim, o sistema atingiu o colapso.

Em 29 de março de 2021, 17 de 27 estados federais alcançaram a taxa de 90% de ocupação ou mais nas UTIs; entre as 27 capitais, 21 mostraram as mesmas taxas, e 7 delas chegaram à capacidade total ou estavam trabalhando acima dela. [4] Na maioria dos postos de saúde, o número de leitos disponíveis, embora insuficientes, é resultado de sucessivas expansões devido a alta demanda. Mesmo com esses esforços, em 25 de março, 6.371 pessoas estavam esperando por um leito na fila da UTI. [5] Em março, 496 pessoas perderam suas vidas enquanto esperavam na lista da UTI somente no estado de São Paulo. [6]

Os estoques de medicamentos usados para intubações de pacientes estão quase esgotados. [7] A escassez de oxigênio, começando em janeiro no estado do Amazonas, afetou diversas outras cidades e ameaça o resto do país.

O colapso do sistema de saúde está resultando em maiores taxas de mortalidade, tanto de covid-19 quanto de outras doenças, incluindo pela falta de assistência médica disponível. Em 2020, as taxas de mortalidade nos hospitais já estavam altas: 59% entre os pacientes de UTI e 80% entre as pessoas que precisaram de ventilação mecânica. Em 2020, 9.311 brasileiros morreram sem assistência em casa por causa da covid-19. [8,9]

Contrário ao cenário, quase todos os estados federais adotaram medidas restritivas para conter a circulação da covid-19. Eles enfrentaram grande oposição do governo federal.

Enquanto Argentina reafirma luta por justiça...

#Publicado em português do Brasil

Brasil de Bolsonaro vive tentativa de reafirmar golpe de 1964

É hora do STF se blindar contra o vírus negacionista e anticonstitucional. Só Lula pode ressuscitar o Estado. Para isso, é preciso derrotar o lawfare

Na Argentina, governada por Alberto Fernandez/Cristina Kirchner e a Frente de Todos, neste 24 de março, foi o 45o. ano das comemorações pela Memória, Justiça e Verdade sobre as 30 mil vítimas do maior genocídio na América Latina dos últimos tempos, produto do golpe cívico-militar. 

Realizaram-se mobilizações restringidas pela pandemia, mas pontuais em todo o país, desde a Praça de Maio (com fotos dos desaparecidos, representações teatrais, algumas presenças das heroínas, mães e avós dos lenços brancos, dos familiares das vítimas, Sindicatos e Associações pelos direitos humanos); grupos de vizinhança aglutinados em jardins municipais e escolas, famílias nas varandas e nas calçadas, plantaram árvores, rendendo, desta forma, a homenagem de um povo que não perde memória, reafirma o “Nunca Mais” e exige o julgamento de todas as causas pendentes de lesa humanidade. 

“Plantar Memória” foi o lema do dia. Tudo num contexto político em que avança uma promissora Reforma Judicial, e se desvenda um escandaloso esquema do “lawfare” onde juízes, procuradores e jornalistas seletos visitavam, repetidamente, o ex-presidente Macri, durante o seu governo, na residência oficial de Olivos, dias antes de que a mídia hegemônica (Clarín/La Nación) publicasse acusações contra a ex-presidenta Cristina Kirchner e dirigentes do seu governo. A recente revelação sobre a chamada Operação Olivos, foi feita por jornalistas investigativos do El Destape e desencadeou uma severa atuação da Justiça. Veja no Café na Política.

Venezuela | Bloqueio dos EUA impede compra de vacinas contra covid-19

#Publicado em português do Brasil

País sul-americano atravessa 2ª onda de infecções por covid-19, que as autoridades sanitárias afirmam ser mais contagiosa e letal, e está relacionada à presença de variantes do Brasil

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, denunciou nesta quinta-feira (08/04) que o bloqueio imposto pelos Estados Unidos à Venezuela impede que Caracas adquira, hoje, as vacinas necessárias para imunizar a população.

As declarações de Arreaza indicam que, sem as medidas coercivas unilaterais impostas por Washington, as vacinas anticovid de que o país necessita já teriam sido adquiridas. Arreaza disse que “se a Venezuela não tivesse seus recursos bloqueados no exterior, teríamos comprado 30 milhões de vacinas há três meses”.

Nesse sentido, explicou que o país até agora recebeu pouco menos de 1 milhão de vacinas: 250.000 doses da russa Sputnik V e 500.000 da farmacêutica chinesa Sinopharm. “Não teríamos apenas os 30 milhões de vacinas, mas teríamos vacinado metade da população se não tivéssemos os mecanismos represados na banca internacional”, acrescentou.

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