Octávio Serrano* | opinião
A retirada americana do Afeganistão foi uma verdadeira miséria; mal prevista; mal planeada; mal organizada; mal concretizada; uma grande “dor de barriga”, que foi adiada durante muitos anos, mas que dada a indefinição da intervenção militar americana, muito dificilmente teria outro resultado.
O Regime dos Talibans anterior ao 11 de Setembro assentava principalmente numa interpretação fundamentalista da religião muçulmana, adicionada a um conjunto de costumes tribais especialmente retrógrados da tribo dos pachtuns; a tribo mais populosa do Afeganistão! A qual se conseguiu impôr ditatorialmente, à maior parte dos outros povos e etnias afegãs, impondo-lhes a sua visão retrograda da sociedade! A afinidade do extremismo religioso e politico da Al-Qaeda e outros grupos, com os talibans, permitiu que estes, se transformassem em aliados destes grupos terroristas; como se sabe, os ataques do 11 de Setembro, partiram do Afeganistão; na altura os EUA impuseram aos Talibans um ultimato; ou entregavam a direcção da Al-Qaeda, ou eram invadidos; ora, uma das regras tribais dos Pachtuns, era a de não poderem entregar um amigo ou aliado, sucedesse o que sucedesse; resultado, os EUA foram quase obrigados a invadir o Afeganistão, com o objectivo de destruir os grupos fundamentalistas, onde foram incluídos os talibans.
A vitória e destituição do poder foi fácil; os americanos, entraram em estilo “cow boy”, e ganharam a primeira batalha; mas quanto a destruírem a Al-Qaeda ou derrotarem definitivamente os talibans, não foi assim tão fácil, como o provaram 20 anos de guerra; mas como o objectivo americano nunca terá sido a ocupação, ficaram entalados, numa guerra de guerrilha sem fim, sem poderem sair, sem mostrar a face da derrota; neste período os talibans camuflaram-se com a população rural, dominaram todo o esquema do tráfico de ópio e controlaram efectivamente a maior parte do país; enfim, tornou-se impossível derrota-los; assim, a guerra estendeu-se no tempo e passou a ser um foco de corrupção das elites locais, e uma fonte de rendimento para muita empresa americana, que trabalhavam nos mais variados sectores, em regime de sub-contratação; um sorvedouro imenso de dinheiros públicos do Orçamento de Estado da América.