Investigador considera que
"só o tempo vai explicar a dimensão real dos ataques" cibernéticos
sofridos por dezenas de instituições moçambicanas. E não descarta um relacionamento
com a insurgência
No início da semana, piratas informáticos atacaram um número de portaisdo Governo de Moçambique. O ataque bloqueou e tornou inoperantes páginas da internet das principais instituições governamentais.
O executivo admitiu renovadas tentativas de ataques cibernéticos contra portais oficiais, avançando que está em curso a manutenção técnica do servidor principal para reforçar a segurança.
Entre os alvos estiveram os portais do Instituto Nacional de Gestão de Desastres, da Administração Nacional de Estradas, da Administração Regional de Águas do Sul e do Instituto Nacional de Transportes Terrestres.
O Instituto Nacional de Governo Eletrónico (INAGE) avança que estão a ser feitos esforços para reforçar a segurança, pelo que alguns dos portais do Governo estão temporariamente inoperacionais.
Para avaliar a dimensão dos ataques, a DW África conversou com o coordenador do Centro de Jornalismo de Investigação de Moçambique, Luís Nhachote.
DW África: Este foi um ataque com dimensões preocupantes?
Luís Nhachote (LN): Não há registo em Moçambique de um ciberataque desta dimensão, em que até o site do Ministério da Defesa Nacional caiu nas mãos dos "hackers".
DW África: Há informações de que os piratas informáticos terão exigido uma quantia para não vazar dados confidenciais, incluindo do Ministério da Defesa. Já o INAGE diz que não há motivo para preocupação e que a prioridade é repor a segurança das páginas. Como avalia?
LN: Acho que a posição do setor das comunicações é de tranquilizar os usuários. Mas quando se ataca um website do Ministério da Defesa Nacional, é preocupante. Há a questão principal que é o ataque ao site, que deixa a página inoperacional. Mas também há a questão que vai um pouco mais além: que acesso é que esses piratas informativos tiveram ao backup do site do Ministério da Defesa. O grande receio, por exemplo, é que muito facilmente, a partir dos sites, os dados pessoais de milhares de moçambicanos possam ter caido nas mãos desses "hackers".
DW África: O INAGE disse que não houve perda de dados…
LN: Digamos que cerca de 30 sites foram atacados na mesma madrugada. Significa que foi um ataque de grande dimensão. Há muito mais que não se pode revelar, e penso que o tempo é que vai nos explicar qual foi a dimensão real do ataque.
DW África: Pode haver uma relação
desses ataques com a situação
LN: Está identificado que
esses "hackers" foram liderados pelos "Iemenhakers”, do Iémen. E
sabe-se que o Iémen é uma dos principais bases do Estado Islâmico. Pode ser
precipitado estabelecer uma conexão entre ambos; mas também pode não
ser inocente fazer a ligação desses ataques à situação
DW África: Como avalia a reação do Governo moçambicano a esses ataques?
LN: Foi uma reação política, sobretudo para tranquilizar aos usuários moçambicanos que usam os sites do Governo. Mas nós temos a consciência de que o Governo nunca deu muita primazia a essa questão da segurança eletrónica. Acho que qualquer "hacker" principiante é capaz de entrar e deixar cair muitas dessas páginas [do Governo].
DW África: Acha que, a partir de agora, o Governo vai estar mais atento e haverá uma preocupação maior nessa questão de segurança?
LN: Mais do que nunca. Sobretudo depois desses ataques, é o momento propício para o Governo começar a valorizar mais a questão da segurança eletrónica. Esses sites são de acesso público. Por se poder fazer a colação de alguma presença à ação do Estado Islâmico, o Governo tem que tomar contar dos websites e saber quais são as fontes e as origens desses ataques. Se ficar provado que é mais uma ação do Estado Islâmico, então a preocupação deve ser a dobrar.
DW África: Quais são as consequências para o cidadão comum?
LN: Os serviços eletrónicos providenciados pelo Governo começaram, sobretudo no período da pandemia, a facilitar a vida das pessoas, que passaram a tratar uma série de documentos por marcação on-line. Acho que as pessoas se voltaram a aglomerar fisicamente nos locais [de serviços] por falta de confiança nos sites.
Cristiane Vieira Teixeira | Deutsche Welle
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