Provocar Putin e incitá-lo a agir militarmente sempre foi o plano de Washington. Assim, poderia emparedar a Rússia frente à opinião pública e sabotar um entendimento eurasiático. União Europeia, sem liderança, caiu na armadilha…
Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras
Porque não soube tratar das causas de crise da Ucrânia, a Europa está condenada a tratar das suas consequências. A poeira da tragédia está longe de ter poisado, mas, mesmo assim, somos forçados a concluir que os líderes europeus não estavam nem estão à altura da situação que vivemos. Ficarão na história como as lideranças mais medíocres que a Europa teve desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Esmeram-se agora na ajuda humanitária, e o mérito do esforço não pode ser questionado. Mas fazem-no para salvar a face ante o escândalo maior deste tempo. Governam povos que nos últimos setenta anos mais se organizaram e manifestaram contra a guerra em qualquer parte do mundo onde ocorresse. E não foram capazes de os defender da guerra que, pelo menos desde 2014, germinava dentro de casa. As democracias europeias acabam de provar que governam sem o povo. São muitas as razões que nos conduzem a esta conclusão.
Esta guerra estava a ser
preparada há muito tempo tanto pela Rússia como pelos EUA. No caso da Rússia, é
notória a acumulação de imensas reservas de ouro nos últimos anos e a
prioridade dada à parceria estratégica com a China, nomeadamente no plano
financeiro, com vista à fusão bancária e à criação de uma nova moeda
internacional, e no plano de trocas comerciais onde são enormes as
possibilidades de expansão com a Iniciativa do Cinturão e Rota por toda a
Eurásia. Nas relações com os parceiros europeus, a Rússia revelou-se um
parceiro credível, ao mesmo tempo que foi tornando claras as suas preocupações
de segurança. Preocupações legítimas, se por um momento pensarmos que no mundo
das superpotências não há bons nem maus, há interesses estratégicos que devem
ser acomodados. Foi assim na crise dos mísseis de 1962 com a linha vermelha
posta pelos EUA a não querer mísseis de médio alcance instalados a
Confrontados com o declínio do domínio global que têm tido desde 1945, os EUA buscam consolidar zonas de influência a todo o custo, que garantam facilidades comerciais para as suas empresas e o acesso às matérias primas. O que escrevo a seguir pode ler-se em documentos oficiais e de think tanks pelo que se dispensam teorias da conspiração. A política do regime change não visa criar democracias, apenas governos fiéis aos interesses dos EUA. Não foram estados democráticos que emergiram das sangrentas intervenções no Vietnã, Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia. Não foi para promover democracia que incentivaram golpes que depuseram presidentes democraticamente eleitos em Honduras (2009), no Paraguai (2012), no Brasil (2016), na Bolívia (2019), para não falar do golpe de 2014 na Ucrânia. Desde há algum tempo, o rival principal é a China. No caso da Europa, a estratégia dos EUA tem dois pilares: provocar a Rússia e neutralizar a Europa (sobretudo a Alemanha). A Rand Corporation, conhecida organização de estudos estratégicos, publicou em 2019 um relatório elaborado a pedido do Pentágono, intitulado “Extending Russia”. Nele se analisa como provocar países de modo a que a provocação possa ser explorada pelos EUA. No que respeita à Rússia, lê-se: “Analisamos uma série de medidas não violentas capazes de explorar as reais vulnerabilidades e ansiedades da Rússia como meio de pressionar o exército e a economia da Rússia e o estatuto político do regime no país e no estrangeiro. Os passos que analisamos não teriam a defesa ou a dissuasão como objetivo principal, embora pudessem contribuir para ambas. Pelo contrário, tais passos são pensados como elementos de uma campanha concebida para desestabilizar o adversário, forçando a Rússia a competir em campos ou regiões onde os Estados Unidos têm vantagem competitiva, levando a Rússia a expandir-se militar ou economicamente, ou levando o regime a perder prestígio e influência nacional e/ou internacionalmente”.
É preciso saber mais para perceber o que se está a passar na Ucrânia? A Rússia provocada a expandir-se para depois ser criticada por fazê-lo. A expansão da OTAN para leste, contra o que tinha sido acordado com Gorbachev em 1990, foi a peça-chave inicial da provocação. A violação dos acordos Minsk foi outra peça. Note-se que a Rússia começou por não apoiar a reivindicação da independência de Donetsk e Lugansk depois do golpe de 2014. Preferiu uma forte autonomia dentro da Ucrânia, como está estabelecido nos acordos de Minsk. Estes acordos foram rasgados pela Ucrânia com o apoio dos EUA, não pela Rússia.
Quanto à Europa, o princípio é
consolidar a condição de parceiro menor que não se aventure a perturbar a
política das zonas de influência. A Europa tem de ser um parceiro fiável, mas
não pode esperar reciprocidade. É por isso que a UE, para surpresa ignorante
dos seus líderes, foi excluída do AUKUS, o tratado de segurança para a região
do Índico e do Pacífico entre EUA, Austrália e Inglaterra. A estratégia do parceiro
menor exige que se aprofunde a dependência europeia, não só no plano militar
(já garantido pela OTAN) mas também no plano econômico, nomeadamente no plano
energético. A política externa (e a democracia) dos EUA é dominada por três
oligarquias (não há apenas oligarcas na Rússia e na Ucrânia): o complexo
militar-industrial; o complexo do gás, petróleo e mineração; e o complexo
bancário-imobiliário. Estes complexos têm lucros fabulosos graças às chamadas
rendas de monopólio, situações privilegiadas de mercado que lhes permitam
inflacionar os preços. Os objetivos destes complexos são manter o mundo em
guerra e criar maior dependência dos fornecimentos de armas norte-americanos. A
dependência energética da Europa em relação à Rússia era algo inaceitável. Do
ponto de vista da Europa, não se tratava de dependência, tratava-se de
racionalidade econômica e de diversidade de parceiros. Com a invasão da Ucrânia
e as sanções, tudo se consumou como previsto, e a imediata valorização das
cotações das ações dos três complexos tinham o champagne à sua espera. Uma
Europa medíocre, ignorante e sem visão estratégica cai desamparada nas mãos
destes complexos, que agora lhe vão falar dos preços a cobrar. A Europa
empobrece e desestabiliza-se por não ter tido líderes à altura do momento.
Ainda por cima, apressa-se a armar nazis. Nem se recorda de que, em dezembro de
As negociações de paz em curso
são um equívoco. Não faz sentido serem entre a Rússia e a Ucrânia. Deviam ser
entre a Rússia e EUA/OTAN/União Europeia. A crise dos misseis de 1962 foi
resolvida entre a URSS e os EUA. Alguém se lembrou de chamar Fidel Castro para
as negociações? É cruel ilusão pensar que haverá paz duradoura na Europa sem
cedências do lado ocidental. A Ucrânia, cuja independência todos queremos, não
deve entrar para a OTAN. A OTAN foi até agora necessária à Finlândia, à Suécia,
à Suíça ou à Áustria para se sentirem seguras e se desenvolverem? De fato, a
OTAN devia ter sido desmantelada logo que acabou o Pacto de Varsóvia. Só assim
a UE poderia ter criado uma política e uma força militar de defesa que
respondesse aos seus interesses, e não aos interesses dos EUA. Que ameaça havia
para a segurança da Europa que justificasse as intervenções da OTAN na Sérvia,
em 1999, no Afeganistão, em 2001, no Iraque, em 2004, na Líbia, em 2011? Depois
de tudo isto, será possível continuar a considerar a OTAN uma organização
defensiva?
* Boaventura de Sousa Santos -- Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Coordenador Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa
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1 comentário:
Andar a falar em Putin para desviar as atenções, não obrigado!
--->>> duas mensagens de paz, nas quais, o Ocidental Hipócrita não está interessado.
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MENSAGEM 1
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Com um largo historial de roubo/saques a povos autóctones... os europeus do Ocidente deveriam ter a mensagem de paz, óbvia, para o povo da Russia:
- "ESTEJAM DESCANSADOS, NÓS NÃO VAMOS ROUBAR/SAQUEAR AS VOSSAS RIQUEZAS - TAL COMO FIZEMOS A POVOS AUTÓCTONES DA AMÉRICA DO NORTE, DO SUL, ETC -... NÓS VAMOS ASSINAR O MAIS ELEMENTAR DOS TRATADOS DE PAZ"!
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Isto é:
---> um tratado de paz que recuse o MAIS VELHO DISCURSO DE ÓDIO DA HISTÓRIA -> o ódio tiques-dos-impérios: o ódio a povos autóctones dotados da Liberdade de ter o seu espaço e prosperar ao seu ritmo.
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Pois, pois é: o Ocidente pretende cercar a Russia (um território imenso no planeta, com apenas 140 milhões de habitantes) com países da NATO...
e... o europeu-do-sistema a querer comer-nos por parvos!
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O discurso do europeu-do-sistema não mudou, continua igual:
--> autóctones Identitários são alvo de ódio... porque... os autóctones Identitários não estão interessados em:
1- negociatas de índole esclavagista: isto é, negociatas que pressupõem a existência de outros como fornecedores de abundância de mão-de-obra servil.
2- negociatas de índole colonialista: isto é, negociatas que pressupõem a substituição populacional de povos autóctones considerados economicamente pouco rentáveis.
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O cidadão de Roma da NATO ambiciona fazer na Russia... aquilo que já foi feito a povos autóctones da América do Norte, do Sul, etc
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-> Para o cidadão de Roma da NATO roubar/saquear territórios (em conjunto com sabotagens sociológicas: substituições populacionais, holocaustos massivos, etc) a povos autóctones...
... é uma herança universalista/multiculturalista!?!
[veja-se: América do Norte, Sul, etc]
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Mais:
- quando se fala na DEVOLUÇÃO de territórios a povos autóctones (que foram impedidos de ter tempo de prosperar ao seu ritmo)... o cidadão de Roma da NATO quer que essa devolução seja considerada 'racismo'!?!
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Sim: O OCIDENTE QUE DEVOLVA TERRITÓRIOS ROUBADOS!
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MENSAGEM 2
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Com um largo historial de roubo/saques a povos autóctones... os europeus do Ocidente deveriam ter a mensagem de paz, óbvia, para o povo da Russia, e não só:
- "URGE A IMPLEMENTAÇÃO DA TAXA TOBIN"!
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A implementação da Taxa Tobin vai permitir o desenvolvimento dos mais variados povos
... nomeadamente...
vai permitir que os mais variados povos possam desenvolver as mais variadas empresas, consequência:
- vão ser empresas autóctones a explorar as suas riquezas naturais... e não... multinacionais Ocidentais.
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P.S.
A Russia sabe que possui um vizinho, vulgo Ocidente, que gosta de roubar/saquear.
Se, em oposição ao cidadanismo de Roma da NATO,... a Russia apoiar a elaboração do MAIS ELEMENTAR dos Tratados de Paz...
----> A RUSSIA PODERÁ VIR A SER A LÍDER DO MUNDO LIVRE!
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SEPARATISMO IDENTITÁRIO; sim, óbvio!!!
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Os IDENTITÁRIOS SEPARATISTAS vão querer estar em coligação com a Russia
... e...
vão querer LIBERDADE/DISTÂNCIA/SEPARATISMO do cidadão de Roma da NATO.
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Sim:
- NA ORIGEM DA NACIONALIDADE ESTEVE O IDEAL DE LIBERDADE IDENTITÁRIO ("ter o seu espaço, prosperar ao seu ritmo")... não foi... o ódio tiques-dos-impérios do cidadanismo de Roma.
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SEPARATISMO 50-50:
-> os globalization-lovers, UE-lovers, etc, que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa.
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-» blog http://separatismo--50--50.blogspot.com
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