terça-feira, 1 de março de 2022

CONTOS POPULARES ANGOLANOS -- A Cilada do Usurpador e o Pastor Kimbacala

Seke La Bindo*

No Alto Maiombe existiam dois reinos vizinhos e rivais que andavam sempre em guerras. O rei Varta Mianha era um usurpador. Tinha chegado ao poder contra a vontade dos anciãos. E queria submeter os povos vizinhos, guerreando tudo e todos. O rei Vumbama tinha o apoio do povo, mas fazia tudo para evitar o sofrimento dos súbditos. Pediu uma assembleia de sábios dos dois reinos e eles iam decidir como chegar à paz. 

Depois de grandes discussões, foi tomada uma decisão: Varta Mianha tinha que abandonar aquelas paragens. 

O rei usurpador aceitou a decisão dos sábios mas imediatamente começou a engendrar uma vingança. E jurou ante o espírito dos seus antepassados que o sangue havia de correr no Alto Maiombe como a água corre nos rios.

O rei Vumbama tinha uma filha de 15 anos, a bela Tsholu, admirada por quantos viviam perto dela. Mas não podia sair dos seus domínios devido às rivalidades e às investidas dos soldados do rei usurpador. 

Tsholu amava o pastor Kimbacala, um jovem que tratava do gado de seu pai. E quando ao fim da tarde o rapaz regressava com o rebanho ao curral, ia falar à sua amada, às escondidas. Ninguém sabia da relação ente a princesa e o pastor de cabras. 

O rei Vumbama gostava muito de caçar. Todos os dias saía do palácio real com os seus soldados, para caçar na grande floresta. Quase sempre encontrava no caminho Kimbacala, sem saber que a sua bela filha amava o pastor que guardava os seus rebanhos.

Um dia, Kimbacala estava com o seu rebanho junto ao rio Luali. De repente ouviu barulho junto à ponte e viu Varta Mianha com um grupo de homens armados. Apurou o ouvido e descobriu que o rei usurpador estava a preparar uma cilada ao seu senhor.
Voltou a correr para o palácio real a fim de avisar o rei do perigo que corria. Mas apenas Tsholu estava em casa. 

- O que te faz correr, meu amado?

- Encontrei os homens do rei Varta Mianha preparando uma cilada contra o teu pai junto à ponte do rio Luali, onde passa sempre que regressa da caça.

Tsholu pediu-lhe que fosse a correr à mata onde o pai caçava e lhe desse a notícia, mas que não se deixasse apanhar pelos homens do rei usurpador. kimbacala assim fez. Encontrou o rei ainda longe da ponte. Vumbama, surpreendido por ver o pastor dos seus rebanhos, perguntou:

- O que quer de mim o meu pastor?

Kimbacala tinha corrido muito até ali e respondeu ofegante:

- Senhor, venho avisar-vos que perto da ponte está preparada uma emboscada contra vós!

O rei Vumbama percebeu logo que Varta Mianha estava por trás da cilada. Imediatamente mandou um dos soldados verificar se o pastor Kimbacala falava verdade. Quando o soldado voltou, confirmou a cilada. 

Agradecido, o rei Vumbama tirou uma corrente de ouro que trazia ao peito e deu-a ao pastor kimbacala, dizendo:

- Vai! Mais tarde hei-de recompensar-te melhor!

Kimbacala retorquiu que lhe bastava ser pastor do rei e apenas queria a simpatia do pai de Tsholu. O rei insistiu:

- Se algum dia precisares de mim, basta que me mostres esta corrente de ouro.

Passaram três anos e um dia Tsholu disse ao pai que esperava um filho. O rei ficou zangado e exigiu que a filha dissesse quem era o pai da criança. Kimbacala estava escondido e ao ouvir a pergunta do rei apareceu e mostrou a corrente de ouro.

Nesse momento o rei Vumbama aceitou casar a filha com o pastor que tinha salvo a sua vida, quando Varta Mianha lhe fez uma cilada. Tsholu e Kimbacala casaram e foram muito felizes. 

*Esta história foi-me contada em Cabinda por José Casimiro

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