sábado, 21 de maio de 2022

A MARCHA DA CARAVANA É IMPARÁVEL – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Tristeza e pesar pelos vivos sem tino, irresponsáveis, sedentos de protagonismo, ávidos de dinheiro fácil. Muita tristeza, grande pesar. Por vivermos um tempo com saída para o beco onde a única perspectiva é a estupidez em doses latifundiárias. Nascemos há instantes. Meio século na vida de um estado independente mede-se por segundos, como o tempo da Rádio, onde a informação tem uma dimensão estética e plástica. E o que sofremos para viver 47 anos de dignidade, cidadania e liberdade! 

O general Zé Maria, um dos construtores destes 47 anos de Independência Nacional, surpreendeu-me com o agradecimento público ao médico angolano João Afonso. Lembrei-me que devo um par de anos aos médicos que me desentupiram as artérias e me proporcionaram um mínimo de qualidade de vida. Também eu devia agradecer-lhes publicamente. Mas temo que não aprovem a minha atitude. Afinal já salvaram milhares de doentes e para eles, essa actividade é apenas um dever. Como para mim é rotineiro escrever umas crónicas, cavar notícias e reportagens, fazer entrevistas. Cada um faz o que pode pelo bem de todos, pela Humanidade, particularmente pela Angolanidade que nos corre nas veias.

Confesso que me questionei. O que levou o meu queridíssimo amigo general Zé Maria a agradecer ao Dr. João Afonso, ao fim, de tantos anos? Nunca me passou pela cabeça que esse agradecimento fosse prenúncio de uma tempestade de lixo que ameaça a honra profissional do médico, a vida pessoal do Presidente José Eduardo dos Santos, a dignidade de todas e todos os que agitam os elementos da tempestade, a política do Executivo, o empenho da ministra Carolina Cerqueira, a responsabilidade e solidariedade do Presidente João Lourenço.

A saúde seja de quem for não é matéria disponível para os jornalistas. Para ninguém. Todas e todos temos o Direito à Inviolabilidade Pessoal e as figuras públicas não são um miradouro onde se vai espreitar ou ver a paisagem. É com muita mágoa que vejo familiares do Presidente José Eduardo dos Santos fazerem dele uma praça pública. Servirem-se do seu estado de saúde para tratarem de problemas pessoais. Com este comportamento, não se respeitam. Mas eu vou continuar a respeitar quem não se dá ao respeito. Pôr em causa um comunicado do Presidente José Eduardo dos Santos onde reitera a sua confiança total no Dr..João Afonso é inqualificável.

Estes episódios levam a um monturo de lixo que vai fatalmente infectar as nossas vidas, a cena política angolana, a coesão social, a reconciliação, a unidade, a pacificação dos espíritos. Este clima não interessa a ninguém. 

O Presidente Agostinho Neto foi dialogar com Mobutu Sese Seko, que elegeu o líder angolano como o seu inimigo número um. Do diálogo nasceu a paz no Norte de Angola. Agostinho Neto, tinha agendado um encontro com Jonas Savimbi, em 1979. Faleceu antes.

O Presidente José Eduardo dos Santos sentou-se à mesa com os racistas sul-africanos em Nova Iorque, pondo fim a longos anos de guerra. Depois estendeu a mão a Savimbi e assinou com ele o Acordo de Bicesse. Voltou a dar uma oportunidade à UNITA, levando-a para o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). 

Após a morte de Jonas Savimbi numa mata do Lucusse, mostrou a sua dimensão de grande estadista ao ordenar às suas tropas que calassem as armas e salvassem das matas todas e todos os militantes e dirigentes da UNITA. Adalberto da Costa Júnior agradece esse gesto humanitário dizendo que hoje Angola tem uma ditadura igual à da Coreia do Norte. Um mabeco falante, vaidoso e mentiroso, só pode ser tratado a pontapé!

José Eduardo dos Santos amnistiou todos os crimes dos sicários da UNITA. Estão limpos, imaculados. Apesar de muito ladrarem, a caravana passa. E segue o seu caminho rumo ao futuro. Que será bonançoso se todos trabalharmos nesse sentido. Porque todos somos poucos para fazer de Angola um grande país e servirmos o Povo Angolano como merece. 

O Presidente João Lourenço prometeu aos eleitores que ia corrigir o que está mal e melhorar o que está bem. Elegeu o combate à corrupção como o ponto principal das suas políticas. As promessas, no essencial, foram cumpridas, apesar dos acidentes de percurso e que foram catastróficos: Queda abrupta do preço do petróleo e a COVID-19. O balanço deste mandato que está prestes a terminar, é positivo.

A corrupção foi combatida e pode dizer-se que foi estancada. Mais do que corrigir o que estava mal e melhorar o que estava bem, foram lançados e concretizados projectos importantíssimos nas áreas da educação, saúde, habitação, economia e nas políticas sociais que têm a marca da ministra Carolina Cerqueira. O que falta fazer para o MPLA reforçar a maioria nas próximas eleições?

Uma amnistia geral e irrestrita. Para acabar com as tensões sociais, com o ressentimento, com a loucura de se servirem da saúde do Presidente José Eduardo dos Santos para satisfazer interesses pessoais. Chegou a hora do Presidente João Lourenço dar um passo fundamental no sentido da reconciliação entre todos os angolanos. Mas também no seio da grande família que é o MPLA.

E ao mesmo tempo, é claro, reforçar o combate à corrupção e enviar à sociedade sinais de que a impunidade tem los dias contados. Ninguém está acima da Lei.

Pedindo desde já desculpa se ferir a sua sensibilidade, também agradeço ao Dr. João Afonso pelo seu profissionalismo, pelo seu humanismo, pelo seu patriotismo.

*Jornalista

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