segunda-feira, 2 de maio de 2022

OS MASSACRES DE ODESSA E O ASSASSINATO DO JORNALISMO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O golpe de estado na Ucrânia, em 2014, causou um banho de sangue, sobretudo em Kiev, e derrubou o presidente democraticamente eleito, Victor Yanukovich. No Primeiro de Maio desse ano, hordas nazis queimaram vivos sindicalistas na Casa dos Sindicatos, em Odessa. Muitos morreram quando se atiraram para a rua, das janelas do edifício em chamas. Um massacre horrível. No Leste da Ucrânia os golpistas nazis assassinaram milhares de civis, porque se opuseram ao golpe. Ou melhor: Opunham-se à adesão da Ucrânia ao cartel Europeu (União Europeia) e à OTAN (ou NATO).

Os golpistas nazis de 2014, fundadores do actual regime ucraniano, foram apoiados pela União Europeia, sobretudo pela Alemanha, e pelo estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Logo a seguir ao massacre dos sindicalistas em Odessa, no Primeiro de Maio, a chanceler alemã Ângela Merkel encontrou-se com Barack Obama na Casa Branca. Em vez de condenarem os banhos de sangue causados pelos nazis golpistas, agiram ao contrário. Impuseram sanções à Federação Russa por apoiar os ucranianos que recusavam o poder golpista e anunciaram a oposição da região, ao poder instalado em Kiev.

A chanceler alemã disse nessa época: “Na Europa, tomamos a decisão de que, se houver uma desestabilização maior na Ucrânia, vamos dar início a uma terceira etapa de sanções. Gostaria de destacar que isso não é necessariamente o que queremos”. Barack Obama, apoiante do golpe de estado, também ameaçou a Federação Russa por apoiar “grupos que não são manifestantes pacíficos mas militantes fortemente armados”. Os nazis que desencadearam o golpe de estado, sim, eram pacíficos e as suas armas disparavam beijinhos. Sobre o massacre dos sindicalistas naquele Primeiro de Maio, nem uma palavra. Quem cala consente.

Este massacre de Odessa vem na sequência de outro, ocorrido na cidade em 1941, quando as hordas nazis de Hitler invadiram a União Soviética. Tropas fascistas romenas em colaboração com as milícias ucranianas de Stepan Bandera mataram 30.000 judeus e comunistas. 

O jornal The New York Times, em 2014, noticiou o massacre dos sindicalistas que foram queimados vivos ou morreram esmagados na rua. O jornal norte-americano atribuiu a autoria do massacre aos soldados às ordens dos golpistas de Kiev e “a grupos paramilitares”.

O fogo e o massacre na Casa dos Sindicatos foram da responsabilidade do Sector Direita e do Batalhão de Azov. Esta matança foi ignorada pelos Media ocidentais. Ninguém quis saber de quem foi a responsabilidade, quem ordenou e realizou o massacre.

O assassinato do jornalismo não começou no dia 24 de Fevereiro de 2022 na Ucrânia, vem desde 2014 no mesmo palco. Os grandes Media ocidentais ocultaram deliberadamente o segundo massacre de Odessa. As milícias nazis e os seus financiadores continuaram a agir no Leste da Ucrânia, impunemente. Os assassinos do jornalismo, quando se referem aos ucranianos massacrados no Leste do país, desde o golpe de estado de 2014, chamam-lhes pró russos. Confiscam-lhes a nacionalidade. Ucranianos são apenas os nazis e os servidores da União Europeia, OTAN (ou NATO) e o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Os ucranianos do Leste apenas querem manter os laços históricos e familiares com a Federação Russa. E não aceitam que o governo nazi de Kiev queira cortar esses lados pela força e recorrendo a hordas nazis.

O presidente golpista, Poroshenko, nomeou ministro do Interior Arsen Avakov, membro proeminente do Batalhão de Azov. A primeira coisa que fez, foi criar uma “unidade de força especial” para substituir a polícia de Odessa. Os novos “polícias” eram todos neonazis! Os massacres continuaram até 24 de Fevereiro de 2022. Desnazificar a Ucrânia é fundamental.

Portugal está transformando num sítio mal frequentado. Hoje, um grupo neonazi fez uma manifestação no Terreiro do Paço (Lisboa) a favor da Ucrânia, quando os trabalhadores portugueses comemoravam nas ruas o Primeiro de Maio, exigindo mais direitos e melhores salários. O “presidente” da Associação dos Refugiados Ucranianos disse aos canais de televisão que “é inaceitável a existência do Partido Comunista em Portugal”. Como os portugueses são quase todos ucranianos, esta ingerência e este abuso são aceitáveis e apoiados. Até porque os comunistas são os únicos que além de portugueses, são anti nazis.

Os Media portugueses, com especial destaque para o canal público de televisão (RTP), lançaram uma campanha insidiosa para a ilegalização do Partido Comunista Português. À boleia da Ucrânia. Todos estes sucessos têm o dedo do Tio Célito. Mas também do Partido Socialista e do Partido Social Democrata. 

Lobo Xavier, um filhote de fascista, disse na CNN Portugal que “o Partido Comunista faz mais mal à democracia do que o Chega. É pior do que o Chega”. Com ele estava um assassino do jornalismo, Carlos Andrade, uma alta figura do PSD, José Pacheco Pereira, e uma destacada dirigente do Partido Socialista, Alexandra Leitão. Nenhum foi capaz de dizer ao filhote de fascista e militante do CDS   que o s comunistas se bateram pelo derrube do fascismo e são hoje os grandes defensores da Constituição da República, enquanto o partido dele, o CDS, votou contra a Lei Fundamental, como a UNITA fez em Angola.

Pior do que os insultos destes filhotes de fascistas aos democratas, é a boleia que o Pentágono está a apanhar na Ucrânia. O seu porta-voz, John Kirby, ontem chorou ante os jornalistas porque “fico comovido quando vejo as imagens da guerra na Ucrânia”. Para tão repugnantes cultores do banditismo político apetece-me defender a prisão perpétua ou a pena de morte. Mas não o farei. Nem para essa escumalha abdico dos meus princípios e convicções. 

Eu estava em Bagdade (leiam o meu livro EU VI BOMBARDEAR BAGDADE) quando os falcões do Pentágono bombardearam a capital do Iraque. Nos bairros históricos da cidade vi grandes crateras onde existiam casas e pedaços de corpos humanos espalhados por todo o lado. O porta-voz dos maiores matadores da Humanidade fica comovido quando vê imagens da guerra na Ucrânia. Os jornalistas presentes, ante tal manifestação de hipocrisia e mistificação, tão baixo golpe para enganar a opinião pública mundial, só tinham que retirar-se e deixá-lo a falar sozinho. Mas ficaram. Porque no fim recebem uns trocos por se disponibilizarem para assassinar o jornalismo.

O jornalismo nunca mais vai recuperar dos golpes mortais que está a sofrer na Ucrânia. Estes canalhas até a minha profissão me confiscaram. 

*Jornalista

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