quarta-feira, 22 de junho de 2022

Angola | As Meninas do Uíge e a Miss Jardada – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Uíge é província de mil belezas e as mulheres não são as menos dotadas. Pelo contrário, estão no topo da lista das maravilhas provinciais. Sei disso desde que, com nove anos, vesti uma camisa branca, calção branco e sapato de alvaiade, para fazer exame de admissão ao liceu. Ia chumbando porque passei o tempo todo da prova a contemplar as belas meninas que prestavam provas como eu. 

A partir de então, desde o internato do colégio onde fui enclausurado ao bairro Candombe, dos meus amores, rendi-me a belezas estonteantes, deusas nunca cantadas por Virgílio e Homero, Vénus que fazem inveja às deusas dominadoras dos olimpos gregos e romanos. Sou um enamorado do Uíge e suas maravilhas.

Este fim-de-semana aconteceu a eleição da Miss Uíge. Acreditem em mim que sou perito na matéria. Elas eram todas belíssimas. Igualmente belas. Deviam ser todas eleitas. Mas o regulamento comete o erro gravíssimo de só permitir a eleição de uma. E foi eleita uma beldade tão bela como as outras beldades. 

À boa maneira do Uíge, a festa acabou com todo o mundo à porrada. Pensam que nunca vi nada igual? Nas farras de sábado à noite, no Candombe, as cenas de pancadaria eram certinhas. Homens contra homens, mulheres contra mulheres, homens e mulheres contra mulheres e homens.

A Maria Luísa, numa estrelada noite de sábado, atirou-se a um sargento do batalhão estacionado na cidade. Porque ele queria sexo oral. 

O quê? Eu mesmo, Maria Luísa, meter a minha boca de comer aí? Nem que fosse no mataco é pá! Nem que foras tenente é pá! E partiu logo para a agressão. Como o abusador estava fardado e nós não gostávamos dos tropozoides porque nos roubavam as namoradas, caímos-lhe em cima e o agredido foi enviado para Luanda em estado que inspirava cuidados especiais. 

Um dedal de kandingolo a mais podia ser combustível para cenas homéricas de porrada. Maruvo, o glorioso champanhe do Uíge, dava makas mundiais. A cena das misses não me admirou. Apenas me fez derramar uma lágrima teimosa de saudade. Porém, fiquei desiludido quando soube que a beldade eleita mais bela que as mais belas, é jardada. Quer dizer, comprou nádegas de plástico. O quê? Uma mulher do Uíge precisa de se jardar? Não. Ela não pode ser da nossa província. É uma infiltrada. A Frente Podre da UNITA (FPU) deve estar metida nisto. Só pode.

Um jornal fantasma entrevistou o Riquinho, empresário de espectáculos. Num texto onde aas palavras são alinhadas por sons e alturas, como na tropa, o escriba afirma que ele “abriu os cordões à bolsa, despendendo milhões de dólares para levantar a moral do povo nos seus momentos mais difíceis, trazendo para o País artistas de distintos pontos do globo para fazer a delícia de todos nós”. 

O Riquinho é bom rapaz. Mas nunca na vida dele teve dinheiro. Essa de abrir os cordões à volva e gastar milhões para nos animar, só pode ser piada. O agente artístico só terá milhões quando às galinhas caírem os dentes. Ele é um teso. Deram-lhe guita e ele voou com as asas dos outros, com o dinheiro dos outros e beneficiando da proverbial negligência de quem não pode ser negligente. Agora aturem-no. 

Um pobre de pedir, um indigente, foi promovido a agente de espectáculos e agora diz que o MPLA lhe deve dinheiro. Quem é o pai da criança? Não interessa. Mas é bom quer alguém explique ao Riquinho que meter a mão na massa dos cofres públicos acabou. Enfim, pode sacar ainda algum mas tem de se inscrever como familiar de algum ou alguma golpista do 27 de Maio de 1977. Pelo menos fato e gravata consegue sacar. Parece que estão abertas as inscrições para os próximos funerais de assassinas e assassinos golpistas. Aproveita! 

O editor de “Opinião” do Jornal de Angola acha que “os Media públicos (mídia não existe em português) têm desequilíbrio nas coberturas eleitorais, realidade que em minha opinião deve dar lugar aos equilíbrios sob pena da descredibilização e desprezo acabarem por ‘ferir’ e deixar sequelas graves à nossa democracia”.  Quem transmite tão bem recados da embaixada o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) em Luanda, merece uma ração extra de dólares. E um lugar de honra na Frente Podre da UNITA (FPU).

Hoje consegui saber algo que ele devia também saber, se fosse jornalista profissional. O líder da UNITA não participou em qualquer acção de massas digna desse nome. O mesmo se passou com outros dirigentes do Galo Negro. 

O MPLA fez três grandes comícios com milhares de pessoas. Aqui está o desequilíbrio. Os Media, públicos ou privados, cobrem os acontecimentos. Se com a UNITA não acontece nada, vamos fazer mais como? Pela lógica do editor de “Opinião” do Jornal de Angola, para não haver desequilíbrio, os jornalistas deviam ignorar os acontecimentos protagonizados pelo MPLA. Atenção! Jornalismo não é meter notícias na gaveta. 

Tenho uma má notícia para os aprendizes de feiticeiro. Pressionar os Media é uma forma abjecta de censura. O editor de um jornal (em princípio tem mais responsabilidade do que um jornalista comum) censurar o seu próprio jornal, é coisa nunca vista. 

Depois dizem que em Angola não há liberdade de imprensa e os jornalistas são perseguidos. Tudo mentira. Em Angola até há liberdade para dizer mal do jornal onde se trabalha. Gostava de ver o mesmo jornalista dizer mal dos chefes dele na embaixada dos EUA em Luanda. Levava logo um par de patins e cortavam-lhe a ração de dólares. 

*Jornalista

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