quinta-feira, 2 de junho de 2022

GUINÉ-BISSAU ESPERA E DESESPERA PELO NOVO GOVERNO

Especialistas alertam que a demora na formação do novo Governo na Guiné-Bissau traz prejuízos económicos e políticos. "A nossa democracia está a tornar-se cada vez mais em uma democracia mercantil", diz sociólogo.

Os guineenses continuam em expetativa para conhecer os novos membros do Governo que vão conduzir o país às eleições legislativas, marcadas para 18 de dezembro próximo. Quem serão as novas caras e quais serão as figuras que vão deixar de fazer parte do Executivo, são, para já, as questões que se colocam, mas sem qualquer tipo de resposta. 

Passaram 16 dias, esta quarta-feira (01.06), desde que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu a Assembleia Nacional Popular, demitiu o Governo e convocou novas eleições legislativas, deixando o país nas mãos de um Executivo de gestão.

Ouvido pela DW África, o sociólogo Infali Donque não espera nenhuma mudança com o novo Governo a ser anunciado.

"Digo, francamente, a nossa democracia está a tornar-se cada vez mais em uma democracia mercantil. As pessoas vão lá para 'safar' as suas vidas e não para se preocuparem com a vida deste povo. Não vejo seriedade na governação deste país."

Contactados pela DW África, os partidos guineenses convidados a integrar o Executivo recusam-se a falar da formação do Governo, preferindo esperar pela decisão do chefe de Estado.

A demora tem custos

Para o analista político Jamel Handem, a demora na formação do Governo "demonstra que há um impasse nas negociações, entre os diferentes atores. Há sinais que nos mostram que o PRS [Partido da Renovação Social], por exemplo, não está a aceitar com bom agrado a questão de lhe ser retirada (no novo Governo) a pasta do Ministério da Administração Territorial. Neste sentido, vamos ter problemas sérios para a formação do Governo."

Mas o economista Serifo Só lembra que ficar vários dias sem Governo acarreta um prejuízo "incalculável" para a economia guineense.

"Nós sabemos das dificuldades do nosso tecido económico e, vendo um país a se dar ao luxo de ficar 16 dias ou mais sem Governo, o prejuízo é incalculável. Neste momento, quem controla quem e para onde vão as receitas e quem as controla? É um conjunto de desorganização e de dificuldades que o país está a atravessar."

Governo ainda "esta semana"

O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que regressou na terça-feira (31.05) a Bissau, depois de participar em duas cimeiras da União Africana, na Guiné Equatorial, deixou uma garantia sobre o novo Governo da Guiné-Bissau.

"Esta semana, claro que sim. Penso que nas próximas horas, nos próximos dias, vamos ter [novo] Governo. Nenhum partido pode exigir [pastas], este não é um Governo do Parlamento nem dos partidos políticos. É como o próprio nome diz, um Governo de iniciativa presidencial".

Por enquanto, nenhuma formação política disse não à participação no Executivo que contará, principalmente, com os partidos com assento parlamentar. Até o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que se opôs às políticas de Sissoco Embaló, já admitiu fazer parte do próximo Governo de iniciativa presidencial. 

Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle

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