domingo, 24 de julho de 2022

Angola | PARTIDOS ATRAPALHAM AS ELEIÇÕES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A CNN Portugal enviou para Angola uma senhora que prestou um serviço de peixeirada ao Estado Angolano. Esse foi o pagamento mais visível. A peixeira portou-se bem, teve direito a uma viagem a Luanda. E lá está ela. O seu primeiro interlocutor foi Carlos Rosado Carvalho, um sujeito ainda mais asqueroso do que parece. A peixeira e o criado que serviu o banquete decidiram, ante as câmaras instaladas na Fortaleza de São Miguel, disseram que em Angola só existe pobreza extrema e uns quantos angolanos são milionários. 

No dia seguinte a ousada peixeira ouviu uma alucinada do Movimento Cívico Mudei. Despachou umas quantas aldrabices sobre o processo eleitoral encomendadas pela UNITA e chau! Hoje a estrela foi o bêbado da valeta. Estava sóbrio. Bateu forte e feio na ERCA. Já se percebeu que na próxima legislatura fica sem o tacho. Acusou o “partido dominante” de mandar na entidade reguladora. Incrível. O bêbado irremediável, apresentado como jornalista, disse à peixeira da CNN que o MPLA, partido quer venceu as eleições com maioria qualificada, é o “partido dominante”. Este também acha que as eleições foram fraudulentas. E ataca desalmadamente os Media públicos.

Esta na hora de esclarecer a grande confusão que para aí vai. Se em Angola toda a população vive na pobreza extrema como diz a peixeira da CNN Portugal, a TPA vale tanto para os telespectadores angolanos como a televisão do México ou do Burkina Faso. Ninguém vê. Ninguém tem televisores. Ninguém tem casa. Ninguém tem luz. Ninguém tem tempo para o luxo de ver televisão.

Felizmente, a situação social em Angola não é como dizem a peixeira, o Carlos Rosado de Carvalho ou o bêbado da valeta. Mas a TPA tem pouca audiência. Os canais de televisão angolanos têm baixíssimas audiências e apenas nas zonas urbanas. A sua influência é diminuta.

Ninguém ganha eleições com a TPA, a RNA, o Jornal de Angola ou a ANGOP. Para ser inteiramente verdadeiro, o MPLA até sai prejudicado. Porque fica com a fama mas o proveito é irrelevante. Depois das eleições posso explicar porquê. Mas posso dizer agora que a Rádio Despertar rouba mais votos à UNITA do que aqueles que ganha. É fácil perceber porquê. Só mobiliza os fiéis mais fanáticos! Os outros fogem.

A administração do circunspecto Times, há cem anos, mandou fazer um inquérito para apurar quais eram as matérias preferidas dos seus leitores. A direcção e os editores ficaram em estado de choque. O editorial era lido por menos de três por cento dos consumidores. E os artigos de opinião nem chegavam aos cinco por cento. Uma tragédia! O povão gosta é de notícias e reportagens! A TPA não sabe fazer isso. A RNA já soube. O Jornal de Angola ainda publica uns restos que sobraram dos tempos em que a aposta editorial era na notícia. E particularmente no noticiário das províncias. 

O bêbado da valeta diz que o resultado das eleições se joga nos Media públicos! Isso só seria possível se o Jornal de Angola tivesse, no mínimo, 500.000 exemplares de tiragem e a expansão de cada edição atingisse todos os recantos de Angola. Em Luanda a circulação tinha igualmente de atingir os mil leitores por cópia. Nem atinge os mínimos! A realidade, infelizmente, é muito diferente dos delírios terminais do exterminador da ERCA.

Em Angola não existe uma instituição parecida com a Comissão de Análise de Estudos de Meios portuguesa. Ninguém mede as audiências. Nada de nada. O mercado de publicidade no audiovisual vale pouco. Pelas minhas contas, tinha de valer, no mínimo, 800 milhões de dólares por ano. 

Esta fragilidade retira à TPA e à RNA margem de manobra. Enfraquece o Poder editorial. Impede a independência do poder político. A facturação das cabeças comerciais da rádio e da televisão públicas nem chega para pagar a conta da energia e da água. São gigantes em termos de recursos humanos mas têm pés de barro financeiros. Não se aguentam sem o apoio permanente do Estado e das empresas públicas em forma de publicidade.

A TV Zimbo foi nacionalizada exactamente por causa disso. Nunca conseguiu uma carteira de publicidade que garantisse o pagamento do combustível para as viaturas das equipas de reportagem. 

Hoje a peixeira da CNN Portugal premiada com uma viagem a Luanda também entrevistou Margareth Nanga. Mais paleio de alicate, mais argumentos emprestados pela UNITA. Mas esta artista teve mais piada que os outros todos. Disse que as eleições em Angola estão muito dependentes dos partidos! Ela tem razão. Deviam estar dependentes dos técnicos forenses que andam atrás das ossadas. Injustiça! Parcialidade. Interferências do Executivo. 

Ana Sofia Cardoso foi para Luanda sem repórter de imagem. A TPA fornece. A TPA garante todos os meios técnicos. Mas pasmem-se minhas amigas e meus amigos. Ela fez da esplanada da Fortaleza de São Miguel o seu estúdio. Que eu saiba ainda é uma instituição das Forças Armadas Angolanas (FAA). Portanto, todas as barbaridades que a peixeira e convidados debitam sobre Angola têm o apoio do Estado Angolano. É assim: Quanto mais me bates, mais gosto de ti. Depois queixem-se!

*Jornalista

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