segunda-feira, 18 de julho de 2022

UM OCEANO DE EQUÍVOCOS

Martinho Júnior, Luanda

O “OCIDENTE”, AO INSTRUMENTALIZAR A SUA ARROGÂNCIA DE MENTALIDADE COLONIAL, É COMO UM RINOCERONTE: DE TÃO CONFUSA QUE É SUA VISÃO, INVESTE CONTRA A SUA PRÓPRIA SOMBRA!

01- As potências que se auto declararam de “ocidentais” na sequência da IIª Guerra Mundial, em função dos interesses e conveniências da aristocracia financeira mundial ávida de despojos, tudo fizeram para equivocar o Sul Global ao tentarem impor as premissas da versão histórica de todos os acontecimentos e por isso obrigaram-se a iludir o facto de que a IIIª Guerra Mundial tem origem no lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki com um Império Nipónico já derrotado, a fim de condicionar tudo e todos à guerra psicológica de feição – manter a ameaça de guerra nuclear como uma espada sobre a cabeça de toda a humanidade e provocar o máximo de conflitos, caos, desagregação e terrorismo, polvilhando-os por todo o Sul Global, a ponto de inventar as “revoluções coloridas” e as “primaveras árabes” que inauguraram o século XXI.

O terror nuclear nunca deixou de existir desde então e os episódios das guerras localizadas e todo o tipo de tensões e conflitos que se sucederam uns aos outros (pode-se por exemplo ver o “cardápio”, ainda que incompleto, no caldeirão de condimentos colectados por William Blum), sempre tiveram a ameaça nuclear no horizonte de todos os “think tanks” e de suas motivações!...

O terror foi sempre um factor psicológico animado de exemplos sangrentos que pesaram inexoravelmente sobre o Sul Global enquanto alvo maior da IIIª Guerra Mundial!

Há uma explicação crónica para isso: o capitalismo conduz à exaustão dos recursos da Mãe Terra concedendo cada vez menos tempo para ela poder recuperar o que está a ser exaurido e como na razão inversa a população humana aumenta quase exponencialmente, então “os outros” do Sul Global tendem a ser cada vez mais excluídos pela arrogância imperial tornada hegemonia unipolar na razão inversa de atracção pelas riquezas materiais e é isso que torna Rússia e China em preferidos alvos do “ocidente otanizado”!

Nesse frenesim a coberto da “fome de lucro a qualquer custo”, está-se no limiar do esgotamento dos recursos energéticos fósseis e não pode haver mais papel de moeda algum capaz de comprar petróleo e gás a preços de feira, nem mesmo o papel-moeda fabricado pela hegemonia unipolar e seu cortejo de vassalos e cúmplices!...

… A perversão nuclear pairou sempre desde Hiroshima e Nagasaki, conflito a conflito, como um nó górdio da superestrutura ideológica do império “ocidental” em constante guerra psicológica contra o Sul Global e isso foi visível até na ultraperiferia que é África: para acabar com o “apartheid” institucional, os povos em luta armada na África Austral e os estados que directamente os apoiaram na sua saga de libertação, tiveram que “afrontar o peso ameaçador” das 6 bombas atómicas que o “apartheid” e seus aliados criaram em Pelindhaba, na tentativa de impedir o seu colapso nas fronteiras do Exercício Alcora, o colapso que acabou também por suceder desde dentro do seu próprio sistema, ética e moralmente insustentável!...

02- Na Federação Russa a inteligência do poder tem a noção que tudo foi sucedendo assim, inexoravelmente, desde Hiroshima e Nagasaki, com reflexos incomensuráveis na experiência própria, em especial depois da implosão da URSS.

Pode-se considerar que a Rússia, enquanto imenso espaço territorial asiático-europeu, entendeu essa situação numa conclusão essencial, pois era todo esse enredo que punha em causa a sua própria sobrevivência!

Esse entendimento cognoscitivo russo tornou-se por essa razão no advento da era após o tandem Gorbatchov-Ieltsin que a galvanizou com a multiplicação de estratégias em crescendo, em todas as áreas de actividade humana, numa autêntica revolução cultural que de superação em superação, continua em curso vital!

A questão do exercício de segurança vital russa mergulha nesse entendimento, sendo a segurança comum nas suas fronteiras uma questão sensível de primeira grandeza, integrada nos conceitos da própria revolução cultural em curso!

Essa articulação é já também fundamental para o multilateralismo sinónimo de libertação e em mudança de paradigma, não só de todo o Sul Global, mas também dos estados mentores da IIIª Guerra Mundial, capazes de sacrificar uma vez mais seus próprios povos na instrumentalização dos desígnios imperiais da hegemonia unipolar e das oligarquias vassalas, cúmplices e associadas!

Para a Rússia, para a China, para vanguardas como Cuba Martiana, ou a Venezuela Bolivariana, para os emergentes da multilateralidade como os povos da Ásia Central, ou o Irão, a necessidade de pôr termo à IIIª Guerra Mundial do “ocidente” contra o Sul Global tornou-se na pedra filosofal de sua própria sobrevivência e por isso assumem a libertação articulada e em geometria variável de toda a humanidade, povos “ocidentais” incluídos, como nunca antes foi possível!

Face à exaustão dos recursos da Mãe Terra, a arrogância do império que não fez a sua descolonização mental só poderá ser vencida de facto com o concurso dos próprios povos do espaço autointitulado de “ocidente” contra as oligarquias vassalas e cúmplices que animam o campo do exercício da aristocracia financeira mundial eminentemente anglo-saxónica (na deriva transatlântica das “casas bancárias” das famílias aristocráticas europeias)!

Tem sido aliás essa a saga de resistência vanguardista da Venezuela Bolivariana que cito a propósito como exemplo para os próprios povos europeus ousarem meditar em função da potencialidade de sua libertação paradigmática face às oligarquias que as amarram curto!

Assim no “ocidente” há dois factores críticos emergentes favoráveis à libertação dos povos europeus e em sincronia com a visão emergente multilateral que a Federação Russa advoga com a mudança de paradigma com o ponto de exclamação a incidir na Ucrânia:

. A insustentabilidade do exercício da hegemonia unipolar na Europa dita “ocidental” quando está em curso a exaustão dos recursos de que essa hegemonia não pôde esquivar em função do capitalismo genético de sua explanação desde os tempos da revolução industrial (e aproveitando a expansão para oeste e sul nos territórios que formaram os Estados Unidos); essa é também uma questão que se reflecte já nas contradições que fermentam na superestrutura ideológica europeia;

. A tensão que obriga a humanidade a, por via da emergência multilateral e face à exaustão de recursos, caminhar na via de aproximação à socialização global de sua própria existência, sob pena de cada vez correr mais riscos de desaparecer; algo que se reflecte na tendência para as “guerras híbridas” e para a motivação do movimento de libertação na e desde a Ucrânia em vias de extinção!

Círculo 4F, Martinho Júnior, 18 de Julho de 2022

Imagem: 

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, já estão a caminho de Kiev. 08/04/2022 em   - https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/ursula-von-der-leyen-e-josep-borrell-a-estao-a-caminho-de-kiev/ 

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