Artur Queiroz*, Luanda
Eleições de 1992. O processo eleitoral foi entregue a Onofre Martins dos Santos, uma autoridade mundial na matéria. Angolano e luandense. Todos os partidos concorrentes estavam representados na Comissão Nacional de Eleições. Para os jogadores não terem a mínima dúvida, todo o processo foi monitorado pela Troika de Observadores (Portugal, Rússia e EUA) e a ONU (que em Angola se chamava UNAVEM). Impossível fazer batota.
A guerra de agressão estrangeira (a UNITA agrediu o Povo Angolano ao lado dos racistas da África do Sul) tinha destruído tudo, sobretudo a rede de estradas asfaltadas construída pelos portugueses entre 1964 e 1974. Por terra, era muito difícil a mobilidade e em algumas províncias, impossível. A ONU (UNAVEM) só tinha 14 helicópteros e dois aviões para o processo eleitoral.
A senhora embaixadora Margaret Anstee decidiu que as eleições multipartidárias tinham de ser organizadas com basse numa grande frota aérea. Foi assim que foram contratados mais 40 helicópteros M-17 e dez aviões (Antonov26, Hercules C-130, Beechcraft e King Air). O aluguer desta frota custou 40 milhões de dólares. As populações de toda Angola iam a votos.
A UNITA percebeu que não podia fazer fraude e resolveu sabotar o processo. Nas províncias do Uíje, Zaire, Malanje, Huambo, Bié, Benguela, Moxico, Lunda Norte, Lunda Sul e Cuando Cubango forças armadas do Galo Negro impediram os outros concorrentes de fazer campanha. Impediram a presença de delegados nas mesas e assembleias de voto. No Uíje derrubaram um avião que transportava material para as eleições. A situação era gravíssima.
Os comissários reuniram com Onofre Martins dos Santos e em cima da mesa foi colocada a hipótese de adiar as eleições. A maioria (e o líder) recusou o adiamento. Então o que fazer com os votos onde não havia controlo de ninguém e nas regiões onde apenas a UNITA estava presente? A decisão seria tomada caso a caso.
As eleições decorreram num clima de paz, tranquilidade e sobretudo uma participação nunca vista. Mais de 91 por cento! A UNITA somou milhares e milhares de votos oriundos das mesas e assembleias onde ninguém mais esteve presente. A fraude foi aceite. O Galo Negro registou 34 por cento e Savimbi 40, nas Presidenciais. Graças à fraude. Na realidade devem ter ficado por metade. Ou nem isso. Essa era a dimensão real de um partido que tinha homens armados “embebidos” nas forças de defesa e segurança do regime racista de Pretória.
Se os jovens de hoje não sabem disto, então não merecem votar em democracia.
O processo eleitoral estava blindado e só permitiu as fraudes da UNITA para evitar que o Acordo de Bicesse descarrilasse. Os outros concorrentes não protestaram para não complicar mais o que já era complicado. A UNITA, desde 1966, matou, destruiu, traiu. E até 1992, não fez outra coisa. Assassinos, criminosos de guerra, traidores. Virou as suas armas contra o Povo Angolano. Deu cobertura à guerra da África do Sul contra Angola. O regresso à guerra era o fracasso geral da ONU, da Troika de Observadores e do Presidente José Eduardo dos Santos. Todos decidiram fechar os olhos e levar o processo até ao fim.Savimbi mandou Chivukuvuku e seus sobrinhos, Salupeto Pena e Ben Ben, mais o secretário-geral Alicerces Mango, ameaçar com a guerra, se fossem publicados aos resultados eleitorais. Chivukuvuku disse que a UNITA ia balcanizar Angola. Reduzir o país a pó.
Se os votantes na UNITA não sabem isto, não têm direito a votar em democracia.
Jonas Savimbi assinou o Acordo de Bicesse e três dias depois, o chefe dos serviços secretos militares da África do Sul estava a esconder mais de 20 mil homens armados até aos dentes em bases secretas no Cuando Cubango. O plano era muito simples: Se ganharmos as eleições tudo bem. Se perdermos, dizemos que houve fraude e tomamos o poder pela força. O chefe do Galo Negro ficou instalado numa mansão no Miramar. Foi visitado por um emissário de Washington e ele propôs: “Esqueçam as eleições. Nós vamos tomar o poder pela força”. Washington recusou o golpe! Deve ter sido a primeira vez na sua História.
Se os jovens de hoje não sabem
disto, então não têm direito a votar
Abel Chivukuvuku era o matador
oficial da Jamba. Um dos mais sinistros dirigentes da BRINDE, serviços secretos
do Galo Negro, que tinham ligação directa ao regime racista de Pretória. Abílio
Camalta Numa era ainda mais tenebroso. Pesam-lhe na consciência centenas de
execuções de militantes e dirigentes da UNITA que caíram
Os generais Apolo e Uambu rasgaram as vestes contra o belicismo. Juraram que política nunca mais. A UNITA da rebelião de 1992, nunca seria aceite por eles. Nestas eleições participaram na “segurança” de Adalberto da Costa Júnior. Eles são ateadores e instigadores das fogueiras da Jamba. Atiraram com mulheres e seus bebés, para as chamas. Comem das Forças Armadas Angolanas (FAA) e agora comeram de quem financia o Galo Negro. Gente sem carácter.
Se os votantes na UNITA não sabem disto, não merecem votar. Não merecem a democracia.
A UNITA volta a usurpar o papel do árbitro eleitoral. Não reconhece os resultados das eleições. E ameaça com os seus gangues de marginais. Apresentou no Tribunal actas falsas. Rasuradas. Fotocópias de uma acta repetidas várias vezes como se fossem muitas. Sem o número de código. Fraude. Falsificação. Falta de respeito pelas instituições.
O Presidente José Eduardo dos Santos, quando foi informado da morte de Jonas Savimbi ordenou: Nem mais um tiro! Salvem toda a gente da UNITA que anda nas matas. E os seus generais cumpriram. Tinha que ser humanista também para os angolanos e ilegalizar a UNITA, por ser uma organização de criminosos de guerra. Não o fez. Mas nunca é tarde. A. UNITA nunca mais pode ir a eleições. Não respeita a democracia. Não respeita as instituições. Não respeita os seus votantes. O Regime de apartheid acabou. Entre nós ficou a UNITA, sua força de choque nas agressões armadas contra Angola. Tem de acabar. Agora é a hora.
*Jornalista
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