sábado, 3 de setembro de 2022

Angola | VAMOS FALAR DE ELEIÇÕES SEM CONTAR MENTIRAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda


O Acordo de Alvor previa eleições gerais em Angola, antes do dia 11 de Novembro de 1975. Só podiam concorrer FNLA, MPLA e UNITA. A potência colonial tinha a responsabilidade de fazer o registo dos eleitores e organizar todo o processo. O Presidente da República Portuguesa, general Costa Gomes, deu uma entrevista à Emissora Oficial de Angola (RNA) e eu perguntei-lhe se era possível organizar o pleito eleitoral de Fevereiro a Outubro de 1975. A resposta foi imediata: “Existem todas as condições. Angola tem apenas sete milhões de habitantes é fácil registar os que têm capacidade eleitoral”. 

Silva Cardoso era presidente do Colégio Presidencial, em representação de Portugal, no qual estavam Johnny Pinock Eduardo, pela FNLA, Lopo do Nascimento, pelo MPLA e José Ndele pela UNITA. Em Fevereiro de 1975, Daniel Chipenda anunciou que não reconhecia o Acordo de Alvor nem o Governo de Transição e aliou-se à FNLA. O alto-comissário disse imediatamente que não existiam condições para a realização eleições. José Ndele apoiou a declaração da parte portuguesa, Johnny Pinock Eduardo guardou silêncio. Chipenda tinha falado por ele.

Agostinho Neto, numa entrevista que me concedeu e publiquei no jornal português Diário de Notícias, disse que a declaração de Silva Cardoso era precipitada e exigiu que a parte portuguesa cumprisse aquilo que assinou no Acordo de Alvor. E rematou: “temos de passar pelo crivo das eleições, antes da Independência Nacional”. O líder do MPLA acrescentou: “Antes de terminar o processo de descolonização é obrigatório sabermos quem representa quem”. 

Como se sabe, não houve eleições porque FNLA e UNITA abandonaram o Governo de Transição em Maio de 1975 e partiram para a guerra, integrando a coligação mais agressiva e reaccionária que alguma vez se constituiu no planeta: Tropas do ditador Mobutu, Exército de Libertação de Portugal (ELP) comandado pelo coronel português Santos e Castro, oficiais da CIA, matilhas de mercenários de várias nacionalidades (sobretudo norte-americanos e britânicos), tropas do regime racista de Pretória, Esquadrão Chipenda, tropas da UNITA e da FNLA. Todos contra o Povo Angolano. Contra o MPLA.

Até à Batalha do Cuito Cuanavale, no Triângulo do Tumpo, o Povo Angolano só teve direito a mortes e destruições. A UNITA aceitou ser o braço armado dos racistas de Pretória, como já tinha aceitado combater ao lado das tropas portuguesas, contra a Independência Nacional. 

Na fase da transição (1974-1975) Savimbi emprestou a sigla UNITA aos independentistas brancos. Uma espécie de Chefe Buthelezi, mas mais cruel. Um assassino, criminoso de guerra, que não resistiu ao ajuste de contas com o longo braço da Lei, em Fevereiro de 2002. A UNITA em vez de concorrer a eleições, matava os eleitores. Em vez de urnas de voto, queimava mulheres vivas nas fogueiras da Jamba. Roubava diamantes cobertos de sangue. Por isso a ONU impôs pesadas sanções à organização de malfeitores. Adalberto da Costa Júnior foi um dos sancionados por ser terrorista e traficante de diamantes de sangue.

O Acordo de Bicesse levou à mudança de regime. Angola abandonou a democracia popular e aderiu à democracia representativa, suporte do capitalismo. Os angolanos foram a votos, em Setembro de 1992. A UNITA prometeu “calças novas” mas antes da contagem dos votos começou a matar os alfaiates. Para não existirem dúvidas, o acto eleitoral foi blindado pela ONU e por uma Troika de Observadores constituída por Portugal, EUA e Rússia. 

Contados os votos, a representante do secretário-geral da ONU em Angola, embaixadora britânica Margaret Anstee, anunciou os resultados eleitorais, apesar das ameaças de Jonas Savimbi e seus assassinos profissionais, Chivukuvuku, Salupeto Pena, Alicerces Mango e Ben Ben. Como perderam estrondosamente, alegaram fraude. Hoje igualmente. O MPLA ganhou com maioria absoluta mas teve de defender o Povo Angolano da rebelião do Galo Negro.

Em 1996, Angola devia ir a votos. Mas como a UNITA matava e destruía de Norte a Sul do país, não foi possível., As organizações da sociedade civil não pediram a Savimbi uma simples trégua para irmos a votos. Nunca exigiram que o Galo Negro aceitasse as regras da democracia e depusesse as armas para participar no acto eleitoral.

No ano 2000, Angola devia ir a votos. Mas a UNITA matava os eleitores, destruía o país, roubava os diamantes, levava a morte a todas as províncias. Os integrantes na Frente Patriótica Unida nunca exigiram que Savimbi depusesse as armas e aderisse às regras da democracia. Um partido político não pode matar, prender e torturar as populações. Entre Outubro de 1992 e 2002, Luanda acolheu mais de três milhões de deslocados! Mas ninguém foi a votos. A UNITA era (ainda é) contra as eleições

Em 2004, Angola devia ir a votos. Não foi. Savimbi e seus sicários continuavam a matar os eleitores e a destruir tudo o que tinha valor. Mas já existia o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN) com ministros, secretários de Estado, embaixadores, governadores, administradores da UNITA e de todos os partidos que em 1992 elegeram deputados! Em nenhum país do mundo alguma vez aconteceu tal abertura democrática. Um partido que andava destruindo e matando (a UNITA), tinha ministros no Governo e deputados na Assembleia Nacional, eleitos em 1992. Lugares perpétuos pensavam eles.

Só em 2008 foi possível organizar eleições, 16 anos a os depois do nascimento do regime de democracia representativa. Um longo interregno para a UNITA matar, destruir e roubar. A rebelião, um caso de polícia, tinha acabado em 2002. O MPLA ganhou com mais de 80 por cento dos votos. Este era o resultado se em 1975 os angolanos tivessem ido a votos. A UNITA imediatamente rejeitou os resultados alegando que houve fraude! O mesmo filme repetiu-se em 2012. E em 2017. Repete-se hoje. Adalberto da Costa Júnior garante que a UNITA ganhou as eleições e pede a repetição do acto eleitoral! 

Abílio Camalata Numa deu uma entrevista na qual diz o mesmo que o chefe, mas anunciou que “prendemos um agente secreto que andava a espiar, queria saber onde estão as actasda UNITA. Ele já confessou tudo. O espião está preso”. Um dirigente partidário que acaba de ir a votos anuncia que prendeu um agente dos serviços secretos do Estado Angolano. Revela que ele foi interrogado e confessou tudo. Está preso nas instalações da UNITA. 

Um partido político não pode prender ninguém. As prestimosas instituições que defendem os direitos humanos remeteram-se ao silêncio, face à revelação de um acontecimento gravíssimo. Os outros partidos, nem uma palavra de condenação. O Ministério Público, silêncio! As forças policiais, silêncio! Os juristas, silêncio!

Abílio Camalata Numa anunciou na TV Raiar que a UNITA tem um cidadão preso. Só pode ser em cárcere privado. Interrogou esse cidadão até confessar que “estava a espiar”. Quem tem o poder da investigação e acção penal aceita isto sem pestanejar. Nem um comunicado breve acalmando a população. Nem uma palavrinha dizendo que vão libertar a vítima do cárcere privado da UNITA. A este partido, que prende e interroga cidadãos, 43 por cento dos eleitores deram o seu voto! Querem regressar às fogueiras da Jamba, aos assassinatos, às prisões arbitrárias, às destruições,

Os sicários da UNITA agora não têm um exército ilegal escondido. Mas têm todos os gangues de Luanda., Todos os marginais. Tropa pronta para matar, destruir, assaltar.

O Observatório Eleitoral Angolano diz que não houve transparência nas eleições de 24 de Agosto. Adalberto diz que na sua “contagem paralela” ganhou as eleições que oficialmente perdeu. E garante que já falou “com embaixadores dos países do Conselho de Segurança da ONU, outros países e instituições da sociedade civil. Os resultados da CNE não reflectem a verdade eleitoral”.  

Ele é que sabe. Ele é que manda. Ele é o único que tem os resultados oficiais e por isso é o único que pode ir para poder. Acaba a sua mensagem à maneira do patrão Biden: Que Deus abençoe Angola!

A CIA, o Pentágono, o George Doros, a Irmandade Afrikaner e outros financiadores do banditismo político e social em Angola pagaram aos seguintes gangues para desacreditarem as nossas eleições:

Associação de Inclusão e Participação Comunitária (AIPC), ROSCCA (Cazenga), Terceira Divisão, Sociedade Civil Contestatária (SCC), Filhos da Resistência, Iniciativa Comunitária do Paraíso (ICP), MP Crew, BCNK, FAMA, PIKK (Kilamba Kiaxi), NBA (Belas), Projecto Fazer Agora, Iniciativa Comunitária e Participativa (ICP), Placa Pirata em Acção, PCA, PIC, ANATA,TCHETU (Benguela), Libertador de Mentes (LDM), MACKK,MPD, AIAC, Mizangala (Bengo), Laulenu (Moxico), Resistência Malanjina, MMDCP, Associação de Integração e Ajuda Comunitária (AIAC), SOS Boa Esperança, PROMUDAR - Uíge/Kimbele, MRA, Forças Activas da Comunidade (FAC), APROMUZA (Zaire), Movimento BASTA e AVDHC.

O Presidente João Lourenço, no dia em que a CNE revelou os resultados oficiais, garantiu que o MPLA vai governar sozinho como até aqui, porque tem todas as condições políticas para isso. Dadas as circunstâncias, chegou o momento de todas e todos se unirem sob a bandeira do MPLA, para o seu líder enfrentar, com êxito, quem quer destruir a ditosa Pátria Angolana, nossa amada. Desta vez não é uma brincadeira da família Soares, dos colonialistas ressabiados ou do Tio Célito. Mete os pesos pesados do banditismo internacional. E novíssimas financiadoras da UNITA. Que não são alheias às fracturas expostas, sobretudo na taxa de abstenção ou nos votos brancos e nulos.

*Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana