Do jornal Público retirámos a peça a seguir sobre a evocação e as desculpas apresentadas pelo PM António Costa na sua visita a Moçambique. Ali referiu o Massacre de Wiriamu, em Moçambique. Por isso só lhe fica bem. Mas existiram outros massacres nesse período.
Uma outra lacuna indesculpável - acerca dos massacres efetuados por militares portugueses nas ex-colónias - continua por evocar e por apresentar as devidas desculpas, revelando devidamente as tristes e hediondas histórias. Os crimes de guerra praticados pelas forças armadas colonial-fascistas e racistas nas ex-colónias foram imensos e vimos ao longo de décadas muitos desses militares criminosos serem condecorados, promovidos e louvados pelo regime salazar-caetanista. Pior ainda, vimos alguns desses criminosos de guerra serem elogiados pós democracia em Portugal e até elevados na hierarquia postumamente "pela sua abnegação salazarista e patriótica", Jaime Neves (general?) foi um dos comtemplados. O apuramento destes macabros e criminosos elogios e promoções pela prática de crimes de guerra de elementos das forças armadas portuguesas nunca foi devidamente apurado e divulgado. Porquê?
Sobre Wiriamu falta de imediato a referência a Chawola e Juwau também nesse período. Só esses contabilizaram mais de seiscentas vítimas (600), junto com o referido Wiriamu - sobreviventes assim contabilizaram na época. E também na época existiam relatórios militares com esses números. Qual é a verdade? Porque existe a muito provável intenção de branquear a história?
É evidente que não só em Moçambique mas em outros países que antes eram colónias ocupadas pelo regime, por colonos, por militares, por PIDES/DGS (polícia política nazi-fascista) de Portugal ocorreram muitos mais massacres, crimes de guerra terríveis... Esses estão na sua maior parte silenciados - o que no alegado Portugal Democrático não deixa de ser um duplo-crime para com os povos vítimas e para com a própria transparência democrática inexistente.
Libertemos a verdade histórica! Portugal foi colonialmente criminoso, não o "bonzinho" que querem fazer acreditar ter sido. Quem, dos militares, dos historiadores, das testemunhas e seus familiares ou amigos contribui para que seja revelada toda a verdade?
A seguir: a evocação do massacre e as desculpas aos moçambicanos por António Costa. - MM - PG
António Costa pede desculpa por massacre de Wiriamu: “Acto indesculpável que desonra a nossa História”
“Não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriamu, acto indesculpável que desonra a nossa História”, afirmou o primeiro-ministro, perante o Presidente da República de Moçambique, em Maputo.
O primeiro-ministro, António Costa, pediu nesta sexta-feira desculpa pelo massacre de Wiriamu, que classificou como um “acto indesculpável que desonra” a História de Portugal, num acto raro e histórico de reconhecimento deste massacre revelado pela imprensa inglesa em 1973 e durante muitos anos ignorado em Portugal.
“Neste ano de 2022, quase decorridos 50 anos sobre esse
terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me
curvar perante a memória das vítimas do massacre
de Wiriamu, acto indesculpável que desonra a nossa História”, afirmou,
perante o Presidente da República de Moçambique, em Maputo.
No seu discurso no jantar oferecido pelo primeiro-ministro ao Presidente da
República de Moçambique, Filipe Nyusi, António Costa apontou que “uma relação
tão intensa e com tal longevidade”, como a dos dois países, “está inevitavelmente
marcada pela diversidade, da diversidade dos encontros e dos desencontros, da
escravatura e da libertação, do progresso e da pobreza, da guerra e da paz, por
momentos que queremos seguramente recordar mas também por momentos e
acontecimentos que temos o dever de nunca por nunca esquecer”.
A 16 de Dezembro de 1972, em Wiriamu, cerca de 400 civis desarmados foram mortos por militares portugueses. O massacre foi dado a conhecer ao mundo por um jornalista inglês, Peter Pringle, num artigo do jornal The Times, em 1973, depois de a história ter sido denunciada por missionários estrangeiros a trabalhar na área de Wiriamu.
A investigação do historiador Mustafah Dhada, nascido em
Moçambique e radicado nos EUA, concluiu que as tropas portuguesas
dizimaram um terço dos 1350 habitantes de cinco povoações (Wiriamu, Djemusse,
Riachu, Juawu e Chaworha), integradas numa área que ele chama triângulo
de Wiriamu, que tem 40 povoações, e que foram afectadas 216 famílias. E também
que o massacre foi, como disse ao PÚBLICO numa entrevista em 2015, executado
“em obediência a ordens de um regime e do Estado português”. Nesse
artigo são listadas todas as vítimas que Dhada conseguiu identificar.
Cinquenta anos depois, António Costa realçou a necessidade de não esquecer: “As
relações entre amigos são feitas assim, são feitas da gentileza de quem é
vítima e faz por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar
esquecer aquilo que praticou e perante a História se deve penitenciar”,
assinalou.
O primeiro-ministro considerou que isso deve ser feito porque Portugal soube reinventar a sua História com o derrube da ditadura, “que abriu as portas à paz para que a conquistada independência de Moçambique definitivamente tenha consagrado as nossas relações como relações de amizade entre países soberanos, livres e iguais”.
“É a partir desta consciência que de coração aberto e com vontade todos os dias renovada olhamos e queremos construir um futuro em comum”, salientou António Costa.
Em 2008, quando Cavaco Silva visitou Moçambique, enquanto Presidente da República, foi questionado sobre o massacre de Wiriamu, em conferência de imprensa conjunta com o Presidente moçambicano Armando Guebuza, e respondeu de forma vaga: “A História é feita pelos homens todos os dias, com os seus defeitos e virtudes.” “O que fizemos sempre foi olhar para o futuro” e “estamos a percorrer um caminho”, concluiu.
António Costa terminou nesta sexta-feira uma visita oficial de dois dias a Moçambique, onde participou na V Cimeira Luso-Moçambicana.
Público | Lusa
Imagens: 1 - António Costa terminou nesta sexta-feira uma visita oficial de dois dias a Moçambique LUSA/LUÍSA NHANTUMBO; 2 - Singelo monumento de homenagem às vítimas dos criminosos de guerra militares portugueses que nunca foram condenados mas, ao contrário, foram elogiados, promovidos, enaltecidos pelos seus crimes praticados em defesa do fascismo, do colonialismo, do sincopado genocídio para que foram contribuindo ao longo de séculos...
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