Líderes de todo o continente africano prestaram homenagem a Isabel II, que morreu a 8 de setembro, aos 96 anos. A morte também gerou críticas ao legado colonial, num continente onde a Grã-Bretanha tem uma longa história.
A morte da rainha Isabel II provocou reações mistas em todo o continente africano, que colonizou durante séculos. Vários chefes de Estado africanos prestaram homenagens solenes, mas outros líderes foram mais críticos relativamente às ações e ao legado colonial da Grã-Bretanha.
A monarca britânica fez várias viagens a África durante os 70 anos de reinado, visitando cerca de 20 países em todo o continente.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, enviou as "mais profundas condolências" do bloco "à família real e ao povo do Reino Unido e dos países da Commonwealth" pela morte da rainha.
Em vários países africanos membros da Commonwealth, as bandeiras oficiais estiveram a meia-haste durante sete dias em honra da falecida rainha.
"Figura de renome mundial"
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, também a descreveu como "uma figura pública extraordinária e de renome mundial que viveu uma vida notável", cujo legado será "recordado com carinho" por muitas pessoas em todo o mundo. "O empenho e dedicação da rainha durante os seus 70 anos no trono continuam a ser um exemplo mundial", sublinhou.
No Gana, o Presidente Nana Addo Dankwa Akufo-Addo disse que sentirá a falta da "sua presença inspiradora, da sua calma, da sua firmeza e, sobretudo, do seu grande amor e crença no propósito superior da Commonwealth". Isabel II visitou o Gana em 1961.
O antigo Presidente do Gana John Agyekum Kufuor disse à DW que a falecida rainha era "um ser humano muito bom", uma pessoa "muito humana e atenciosa."
Sanusi Lamido, o 14º emir de Kano, na Nigéria, disse à DW que a morte da rainha significa "uma grande perda" para o mundo. "Todos a víamos como uma grande líder, como uma líder mundial".
Também há admiradores entre os jovens africanos, que apenas conheciam a rainha como o rosto da monarquia britânica. A empresária ganesa Alima Bawa passou alguns momentos com Isabel II quando recebeu um prémio da monarca em 2019.
"A notícia da sua morte é muito devastadora. A sua incomparável humildade, dignidade e valor continuarão vivos em mim e especialmente na vida dos jovens que ela inspirou", disse Bawa à DW.
Exploração e imperialismo
Mas nem todos em África estão de luto pela morte da monarca britânica. O domínio britânico em África perdurou até ao século XX - o Quénia só se tornou independente em 1963.
Hardi Yakubu, ativista pan-africano, diz que no legado da falecida monarca não pode ser esquecida a exploração e o imperialismo que foram perpetuados em África pelos britânicos.
"A monarquia britânica não é uma instituição gloriosa. A monarquia britânica que a rainha Isabel II liderou e representou não é algo que deve ser celebrado", sublinha.
Para o ativista, a rainha e a monarquia têm sobretudo sido um símbolo da exploração dos africanos e da repressão brutal de pessoas também noutras partes do mundo.
"A rainha Isabel II teve muitas oportunidades de corrigir estes erros, reconhecendo as atrocidades do império inglês não só em África, mas também na Ásia, na América Latina e nas Caraíbas... de pedir desculpa e pagar reparações, mas optou por não o fazer. Essa foi a sua escolha", lembrou Yakubu, acrescentando que é inconcebível separá-la do império que serviu.
"Não se pode separar a pessoa da instituição", salientou.
Pontos de vista também defendidos noutros países, incluindo na África do Sul, que suportou anos de apartheid.
O partido da oposição sul-africana Economic Freedom Fighters (EFF) disse numa declaração que os seus membros não choram a morte da rainha: "Para nós, a sua morte lembra-nos um período muito trágico neste país e da história de África".
O partido de esquerda culpa a rainha por não reconhecer as atrocidades do seu império. "Se houver realmente vida e justiça após a morte, que Isabel II e os seus antepassados tenham o que merecem", concluem na declaração.
Atrocidades durante a era colonial
Nos meios de comunicação social, alguns africanos e membros da diáspora expressaram a sua indignação face à falecida monarca e aos crimes coloniais.
A académica africana Uja Anya, a viver nos EUA, escreveu no Twitter: "Se alguém espera que eu expresse tudo menos desdém pela monarca que supervisionou um governo que patrocinou o genocídio, que massacrou e deslocou metade da minha família, e cujas consequências os sobreviventes ainda hoje tentam ultrapassar, podem esperar sentados."
A autora queniana Shailja Patel também relatou como o império britânico foi brutal sob o reinado de Isabel II. "Alguns sobreviventes de violação, castração, fome, trabalhos forçados e tortura no gulag colonial britânico no Quénia ainda estão vivos. Nunca receberam o pedido de desculpas que pediram", lembrou.
Com a morte da rainha, o filho mais velho Carlos III, antigo príncipe de Gales, lidera agora o país como novo rei. Também assume o papel de chefe de Estado de 14 países da Commonwealth.
"Espero que ele esteja atento às implicações e aos desafios das responsabilidades que lhe são impostas como rei. Deve seguir o bom exemplo da sua mãe", disse o antigo antigo Presidente do Gana John Agyekum Kufuor.
Isaac Kaledzi | Deutsche Welle
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