terça-feira, 6 de setembro de 2022

Sahara Ocidental: Argélia defende "negociações diretas" entre Marrocos e Polisário

A nova intenção de Argel, que desde sempre apoiou a Polisário, está contida num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, na sequência da visita à Argélia do emissário das Nações Unidas para o Saara Ocidental, Staffan de Mistura

A Argélia defendeu esta segunda-feira (05.09.2022) a realização de “negociações diretas” entre Marrocos e os independentistas da Frente Polisário para que as duas partes cheguem a uma solução para o conflito com mais de 45 anos no Saara Ocidental.

A nova intenção de Argel, que desde sempre apoiou a Polisário, está contida num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, na sequência da visita à Argélia do emissário das Nações Unidas para o Saara Ocidental, Staffan de Mistura.

Segundo o comunicado, o chefe da diplomacia argelina, Rantane Lamamra, analisou com Mistura as “perspetivas de consolidação dos esforços da ONU” com vista a uma “retoma nas negociações diretas” entre as duas partes em conflito, Marrocos e a Frente Polisário, para que se possa alcançar um “acordo político justo e duradouro”.

Ramtane, contudo, reiterou a posição da Argélia de "rejeição" do formato de “mesas redondas”, como as realizadas em Genebra em 2019 na sequência de uma resolução da ONU e que se destinavam a juntar Marrocos, a Frente Polisário, Argélia e Mauritânia. Argel considera “contraprodutivo" esse formato quadripartido.

No entanto, Marrocos defende a retoma do formato para chegar a uma solução “baseada exclusivamente na iniciativa marroquina de autonomia, no quadro da soberania nacional e da integridade territorial do reino”.

A questão do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola considerada "território não autónomo" pela ONU, opõe há décadas Marrocos à Frente Polisário, apoiada por Argel. Rabat, que controla quase 80% do território, propõe um plano de autonomia sob a sua soberania. A Polisário, por seu lado, exige um referendo de autodeterminação sob a égide da ONU, planeado quando foi assinado o cessar-fogo de 1991 e que nunca se concretizou.

A Argélia cortou relações diplomáticas com Marrocos em agosto de 2021 devido a profundas divergências sobre o Saara Ocidental e à reaproximação das relações securitárias entre as autoridades marroquinas e israelitas.

Staffan de Mistura está em Argel no quadro da segunda digressão regional desde que foi nomeado para as funções de emissário da ONU, em novembro de 2021. Domingo, em Tinduf, no centro oeste da Argélia, Mistura reuniu-se com o líder da Polisário, Brahim Ghali.

Os atritos políticos e diplomáticos entre a Argélia e Marrocos sobre o Saara Ocidental normalmente saem do quadro bilateral para influenciar as relações com outros países.

Nesse contexto, a visita de Mistura a Argel acontece no meio de uma nova crise diplomática, desta vez entre Marrocos e a Tunísia, depois de o Presidente tunisino, Kais Saied, ter recebido Ghali no final de agosto durante a cimeira económica Japão-África, realizada em Tunes.

O Saara Ocidental é um território quase deserto de 266.000 quilómetros quadrados localizado na costa do Atlântico, com fronteiras com Marrocos, Mauritânia e Argélia.

Expresso | Lusa | Imagem: Getty Images

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