Para quê tentar fazer desta terra “grande outra vez” se podem fazer uma que seja grande desde o começo?
Madalena Sá Fernandes* |
Público | opinião
Trump gravou um vídeo a apoiar Bolsonaro onde diz: “Ele é um líder fantástico.
É respeitado por todos em todo o mundo.” Estou habituada a ouvir o antigo
presidente americano fazer declarações que não têm nenhuma correspondência com
a realidade, mas esta deu-me uma ideia.
Sei que parte da estratégia de Trump é repetir tantas vezes uma mentira, e com
tanta convicção, que ela acaba por tornar-se verdade. Fazer com que o homem que
disse que as vacinas nos poderiam transformar em jacarés seja admirado por todas as pessoas do mundo
parece-me um processo trabalhoso. Mas eu tenho uma sugestão.
A quantidade de vídeos de líderes da extrema-direita um pouco por todo o mundo a apoiarem Bolsonaro, uma espécie de “vamos dar as mãos e cantar uma canção”, fez-me sonhar com a união de todos eles. Mas longe daqui. Estas trocas de afectos e de elogios, e a confusão entre os seus anseios pessoais e políticos e as necessidades do mundo, pôs-me a pensar se não seria mais fácil, em vez de tentarem tão activamente destruir a terra, irem inaugurar outra e fazerem por lá o que bem entenderem.
Trump refere-se a um qualquer mundo onde a totalidade das pessoas respeita e admira Bolsonaro. É visível por esta e por tantas outras afirmações de Trump e afins que já existe, na cabeça deles, um outro mundo, um mundo muito próprio, onde coabitam. Resta mudarem-se para lá. Por outras palavras: Fascistas, vão para a vossa Terra! Ela espera por vocês. E pode ser feita à vossa medida, ao contrário desta aqui que, parecendo que não, ainda tem muitas liberdades. Para quê tentar fazer desta terra “grande outra vez” se podem fazer uma que seja grande desde o começo?
Convenhamos que a pátria de que falam não é tanto o próprio território, como querem alegar, quanto os ideais que partilham. E esses podem ser implantados em qualquer outro sítio. Sugiro que longe desta imundice aqui que lhes ia dar uma trabalheira a limpar.
A minha sugestão, que transformarei num exercício lúdico e infantil, seria juntarem-se todos numa nave. Trump, Bolsonaro, Ventura, Le Pen, Orbán, Putin, Salvini etc., partiriam em excursão, como as da escola. Imagino-os com chapéus coloridos onde estava escrito “Deus Pátria e Família”. Felizes, a entoar cânticos vários, liderados por Bolsonaro no banco de trás: “Imbrochável, imbrochável!”, apoiado pelos urros da bancada parlamentar do Chega. Nas mochilas levariam um lanche e uma arma.
Temas de conversa não iriam faltar. Esgotados os elogios salientando as qualidades de liderança de uns e de outros, poderiam rir-se dos pacóvios que acreditaram que quiseram algum dia combater a corrupção, enquanto revelavam os respectivos esquemas de lavagem de dinheiro e de corrupção que usam. A energia gasta na bajulação e companheirismo rapidamente se esgotaria. E passariam então aos projectos de construção da sua Terra prometida.
Talvez se apercebessem logo na viagem de que não têm um plano concreto além de odiar, e que isso se torna mais complicado se não tiverem o que odiar.
Sem mulheres para maltratar, sem ninguém para mandar castrar quimicamente, sem minorias para matar, sem a Amazónia para destruir, sem imigrantes para mandar embora, sem orientações sexuais para hostilizar, sem terras para invadir e subjugar, restaria apenas um doloroso vazio.
Talvez começassem a entrar em pânico ao perceber que não são nada sem os objectos do seu ódio. Rapidamente se voltariam uns contra os outros. Começariam por insultar-se e acabariam por pegar nas armas.
A nave iria explodir. De cá de baixo, da terra, poderíamos assistir à explosão a iluminar o céu. E debaixo desse fogo-de-artifício, falo por mim, seria muito difícil não dançar.
* Licenciada em literatura, trabalha em Gestão de Redes Sociais
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